(…) "era um mocho próspero (enfim, relativa- mente) e detentor de autoridade.
O segundo homem estava submetido a essa autoridade, mas isso não o incomodava – isto é, na aparência, somente; o seu à-vontade era um esforço que fazia para salvar o ego, já prejudicado por uma estatura reduzida e um não-sei-quê de insignificante. Numa voz arrastada, para não parecer nervoso ou ansioso, disse:
- Bem, isso é verdade, objectivamente. Mas, mais cedo que tarde, o puto vai desconfiar. Se é que não desconfia já. É impossível manter tanto tempo uma operação como esta sem que…
o mocho próspero atalhou:
- Só é impossível se alguém fizer asneira.
- Justamente!, exclamou o outro. – E quando as coisas se prolongam, alguém acaba por fazer uma asneira qualquer. É dos livros.
Abanando a cabeça sabiamente o mocho retorquiu:
- Dos seus livros, talvez, mas não dos meus" (…)
* transcrito com a devida saudação ao autor, que aqui desmonta o submundo dos sucessos comerciais de romances ligeiros e telenovelas escritas de grande consumo (no caso o Código daVinci) - "De facto, um autêntico mundo cão. Porém, tal como na passagem do Império Romano para a Idade Média, os monges isolados em conventos mantiveram acesa a chama da cultura, assim hoje, segundo o romance, serão igualmente os intelectuais (professores, alguns editores, cientistas, romancistas, artistas...) a manter a mesma chama acesa"
* ler recensão no Jornal de Letras
* excerto do livro, as primeiras quinze páginas aqui
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