e antes da batalha viu um sinal dos deuses no céu
“Dionísio (405-367 Ac), depois de ter saqueado o altar de Prosérpina de Locros, rumava em direcção à Siracusa, quando, ao ver como o vento era favorável à sua rota, rindo-se disse assim: “Vede, amigos, como os deuses imortais dão uma boa viagem aos sacrílegos!”Ele era um homem perspicaz; quando a sua armada acostou em Atenas, veio ao templo de Júpiter em Olímpia, e roubou o seu manto de ouro de grande peso (aquele com que o tirano Gélon ornara Júpiter, com o dinheiro da pilhagem feita aos cartagineses), e ainda gozou com o facto, dizendo que um manto de ouro era demasiado pesado para o Verão e demasiado frio no Inverno, e com isto lançou-lhe uma manta de lã, dizendo que ela era mais apropriada para o ano inteiro. Foi ele também que ordenou que se arrancasse a barba de Esculápio de Epidano, dizendo que não convinha ao filho ter barba, se o pai, Apolo, era imberbe em todos os templos.
Mandou também tirar de todos os templos as mesas de prata, em que, segundo um costume grego antigo, se costuma inscrever “Dos Bons Deuses”, dizendo que também ele queria usufruir da benevolência dos deuses. Roubou igualmente sem hesitar as pequenas estátuas da Vitória, e as páteras e as coroas de ouro que pendiam dos braços da estátua. Dizia pois que as aceitava e não as roubava, pois seria uma tolice não querer aceitar as oferendas dadas de braços estendidos por aqueles a quem precisamente pedimos dádivas. Dizem também que este mesmo Dionísio pôs todos esses objectos roubados dos templos no Fórum e vendeu-os em hasta pública; depois de ter arrecadado o dinheiro, ordenou que todos aqueles que tivessem objectos sagrados os deveriam devolver ao seu próprio templo, antes de um dia fixado para o efeito. Assim, à falta de pietas (respeito, medo e justiça) para com os deuses, juntou a injustiça para com os homens. E assim nem fulminou Júpiter Olímpico com um raio este homem, nem o matou Esculápio, depois de o fazer agoniar numa terrível e longa doença, muito pelo contrário: ele morreu no seu leito, e foi lançado na pira com as honras de um tirano, legando assim ao seu filho todo o poder que obteve através do crime, como se de uma justa e legítima herança se tratasse”
a partir da página 161 de um dos livros que ando a ler:
“Da Natureza dos Deuses” – ("De Natura Deorum") Marco Túlio Cícero (106-43 Ac) Edições Vega, 2004
fresco no Palazzo Te, Mântua, Italia 1528
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