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Assim a mensagem era simples: santificar o trabalho, santificar-se através do trabalho e santificar os outros no seu trabalho. O trabalho estava arreigado no âmago da condição humana. Fazia parte do plano de Deus. O padre Josemaria Escrivá de Balaguer passou-os mais tarde em 1939 ao papel no livro “Caminhos”, um manual de 999 preceitos de boa conduta para cristãos. O principio de uma prática doutrinária saída da vitória do Fascismo em Espanha que se tornaria universal. A missão da Opus Dei pouco tinha a ver com salvar almas de individuos. Tinha a ver com salvar o patrão do Pai Escrivá, a Igreja Católica Romana em franco declinio. Tratava-se de criar uma verdadeira presença católica na cidade secular de Roma através da “ocupação de lugares de responsabilidade”.
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De acordo com a “revelação” do fundador da Obra de Deus, do latim Opus Dei, Tomás de Aquino tinha-se enganado. Agora Escrivá não estava a agarrar-se a qualquer mito obscuro. O espectro do comunismo pairava por toda a Europa e os capitalistas estavam em pânico. Entre 1902 e 1923 o rei de Espanha Afonso XIII tinha ordenado trinta e três mudanças de governo, num país onde 60 por cento da população era analfabeta, a Igreja educava os filhos dos ricos, enquanto os pobres enfrentavam condições extremas de servidão. Na Rússia, no final da degradação deixada pela guerra, a vitória da Revolução dos Sovietes tinha cortado o pescoço a um possivel desenvolvimento do capitalismo; os Romanov foram assassinados e Churchill comentou que o massacre tinha desencadeado uma nova espécie de barbarismo no mundo. Em Fátima no ano de 1917 também a miserável e iletrada população rural tinha começado a ter visões celestiais para se furtar à triste realidade mantida em segredo, de que só o trabalho cria valor.
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Enquanto Escrivá faria da tarefa de oposição à disseminação do Comunismo um dos principais objectivos da sua vida, para garantir que não haveria um regresso à tríade demoníaca, Anarquismo Liberalismo e Marxismo, o Papa Pio X tinha declarado guerra ao Modernismo espalhando o terror anti-liberal pela “enciclica Pascendi”: todo aquele que estivesse contaminado pelas “ideias modernas” seria excluido dos serviços públicos ou do ensino. Foram montadas redes de informadores secretos. Quem se opusesse à “Pascendi” seria excomungado.
Desde o começo, a Opus Dei levou uma existência por camadas, apenas com a camada exterior para consumo das massas; as sucessivas camadas interiores eram reservadas para postos mais altos na hierarquia da seita. A preocupação principal era restituir à Igreja um papel central na sociedade. Isto permanece o âmago da Obra: “a tarefa de colocar Jesus i.e a Igreja no cume de toda a actividade humana através do mundo”. Fazer isto requer uma milícia dedicada, disciplinada – tropas de vários postos e posições que, pela santificação do seu trabalho, santificam i.e convertem outros e santificam o local do trabalho – sob o manto diáfano da alienação religiosa os interesses do Capital deixariam deste modo de ser escrutinados pela visibilidade pública
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A frase “Dádiva de Deus à Igreja do Nosso Tempo” foi usada por um dos sete juizes da Congregação das Causas dos Santos ao recapitular as suas razões para apoiar a beatificação de São José Escrivá de Balaguer por João Paulo II, um papa que já foi entronizado pela Opus Dei com o trabalho de bastidores do bispo alemão Ratzinger. O padre Vladimir Felzmann, próximo de Basil Hume, arcebispo de Westminster, sustenta que a Opus Dei é o melhor meio que a Igreja Católica Apostólica Romana encontrou para recriar as Ordens Religiosas Militares da Idade Média.
Influência da Espanha secular na ICAR
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notas
Este post segue o teor do livro de Robert Hutchison "O Mundo Secreto do Opus Dei - Preparando o confronto final entre o Mundo Cristão e o Radicalismo Islâmico". Outra literatura sobre os temas versados:
Charles Raw “The Moneychangers” (sobre o escândalo do Banco Ambrosiano)
Raanan Rein "Franco, Israel y los judíos"
Michael Walsh “The Secret World of Opus Dei”
Gerald Brennan “The Spanish Labyrinth”
Paul Johnson “History of Modern World”
Harry Gannes/ Theodore Repard “Spain in Revolt”
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3 comentários:
Amen!
Não sei o que é pior se a Opus Dei ou a Aventalada!
juan yague blanco quería que se investigara el asesinato de gabaldón
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