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domingo, junho 08, 2014

Porquê as taxas negativas na zona Euro não irão funcionar?

o BCE anunciou a descida da taxa dos depósitos para um valor negativo (0,1%), tornando-se o primeiro grande Banco Central (fora da zona do Dólar e da Libra) a tomar tal iniciativa.

É uma decisão "principalmente simbólica". Depois de um longo período com as taxas de juro a zero, o BCE impôs agora taxas de juros negativas sobre fundos depositados pelos bancos (reservas "em excesso"), visando libertar esses fundos para que os bancos os emprestem às empresas com a finalidade de re-incentivar a economia. Porém, é mais que duvidoso que esse seja o verdadeiro propósito. As taxas de juros negativas são um imposto sobre as reservas bancárias. Elas são, portanto, inerentemente restritivas. O argumento é que os bancos vão tentar livrar-se das reservas, em vez de pagar o imposto, sendo assim um incentivo para emprestar mais. Mas a evidência parece sugerir o contrário.
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Em situação de depressão deflacionária, as taxas de juros negativas, no contexto da crise bancária, inevitavelmente conduzem a taxas mais elevadas para os mutuários e a reduzir o volume de empréstimos. É um aperto monetário, o que não ajuda, e os efeitos da contracção agravam a recessão. Parece pouco provável que o BCE não tenha conhecimento dos efeitos de taxas negativas no volume de crédito, tendo em conta a experiência na Dinamarca, o único país que a aplica. Do que se trata afinal é de tentar evitar uma situação de desinflação na Alemanha modificando a taxa de câmbio do euro. A inflação alemã CPI está actualmente em 0,9%, bem abaixo do objectivo do BCE "de perto de" 2%, e com tendência de queda. Não estão exactamente clarificadas as razões porque tal acontece, mas uma das causas poderá ser a sobrevalorização do Euro. Por causa da dependência da Alemanha das exportações, um Euro forte coloca pressão descendente sobre a inflação da Alemanha - e, de facto, esta é a razão porque, historicamente, o Bundesbank sempre foi o falcão da inflação, preferindo sempre uma moeda forte. Dado que a Alemanha é o país dominante na zona Euro, a desinflação alemã alimenta a baixa inflação na zona do Euro. Assim, se o principal objectivo do BCE é diminuir o valor de câmbio do euro, a experiência dinamarquesa sugere que as taxas negativas poderiam realmente funcionar. A questão é saber se isso é realmente o veiculo mais importante para evitar a desinflação na zona euro. Mas a guerra cambial também não será o movimento mais sábio.

Este gráfico (de Roberto Mulazzi) mostra o volume de depósitos e empréstimos dos bancos na Dinamarca, antes e depois da introdução de taxas negativas sobre as reservas financeiras. Parece que houve uma fuga de depósitos - não surpreendentemente, os bancos dinamarqueses não mudaram as taxas negativas aos aforradores directamente, encontrando outras maneiras de os desencorajar. E os volumes de empréstimos, já em declínio no momento em que foram impostas taxas negativas, continuaram a declinar. Assim sendo, a Federação Europeia de Bancos não partilha do "entusiasmo" com a decisão do Banco Central Europeu em colocar a taxa dos depósitos em valores negativos e alerta igualmente que a medida não resultará num aumento do crédito na Zona Euro. (Jornal de Negócios) 

A principal causa da desinflação da zona Euro, parece ser a queda nos custos de energia. O preço da energia, obtido a partir do petróleo, é fixado em Dólares (emitidos pela Reserva Federal norte-americana), e assim, reduzir o valor do Euro em relação ao Dólar deveria reverter o declínio nos custos da energia. Mas não fica claro porque é que impedir a queda nos preços da energia é útil: afinal, os preços de energia mais baixos seriam uma ajuda para as empresas que estão sob forte pressão e para os exorbitantes custos de consumo corrente suportados pela familias. É difícil entender porque é que o BCE está a actuar para evitar uma desinflação benigna deste tipo?

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