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30 anos depois, confrontado com a eventualidade de poder vir a ser julgado por crimes de guerra, o antigo secretário de Estado Henry Kissinger, "admitiu erros na condução da guerra do Vietname"
Os Senhores da Guerra - o CSP
um grupo militarista na sombra do poderio norte-americano (II)
A reactivação do CPD
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Nos anos 70, Henry Kissinger, afastando-se da doutrina do “containment” em nome da realpolitik, organizou a “detente” com a URSS para iniciar uma saída do Vietname. Não colocava em causa a doutrina da Guerra Fria, mas tinha a consciência de que os Estados Unidos não podiam continuar a levar a cabo uma guerra frontal na Ásia sem o apoio da sua opinião pública. Opunha portanto o seu realismo cínico à cegueira quase mística de Nitze. Em 1972 foram assinados um tratado que limitava os mísseis antibalísticos (ABM treaty) e um acordo sobre a limitação das armas ofensivas estratégicas (SALT 1), para grande contrariedade dos anciãos do CPD. Após a queda de Saigão, o Congresso pôs fim ao esforço de guerra e reduziu drasticamente os orçamentos militares e certas despesas de prestígio. Por falta de créditos, os programas espaciais foram interropidos.
Em paralelo, o caso Watergate inaugurou um período de crítica das instituições. As comissões de inquérito parlamentares trouxeram à luz os golpes baixos da CIA. A representant Elizabeth Holzman revelou a operação Paperclip. De passagem, soube-se que a sty-behind continuara a recrutar cientistas nazis até aos anos 60, tendo ido procurá-los aos seus esconderijos latino-americanos. Descobriu-se que os médicos nazis tinham prosseguido no arsenal de Edgewood (Maryland) as experiências com armas químicas que haviam iniciado em Dachau, usando agora como cobaias setecentos “voluntários” do exército norte-americano.
Neste ambiente deletério em que os objectivos, os métodos e as instituições da Guerra Fria foram postos em causa por todos os lados, nasceram fortes tensões entre o secretário de Estado, Henry Kissinger, e o secretário da Defesa, James Schlessinger. A 3 de Novembro de 1975, o presidente Gerald Ford, cuja popularidade se encontrava no seu ponto mais baixo, decidiu dirimir esse conflito dando garantias simultaneamente à opinião pública e ao lobby militar-industrial. Confirmou Kissinger no Departamento de Estado, mas retirou-lhe a função de Conselheiro Nacional de Segurança, a qual foi confiada ao general Brent Scowcroft. Afastou o secretário da Defesa, Schlessinger, e nomeou o chefe de gabinete da Casa Branca, Donald Rumsfeld, em sua substituição. Prosseguindo o jogo das cadeiras musicais, nomeou Richard Cheney para a posição anteriormente ocupada por Rumsfeld. Por fim, destituiu no director da CIA, William Colby, e nomeou para o seu lugar George H. Bush. Esta mudança brutal de colaboradores ficou conhecida para a Histórica sob o nome de “massacre do Halloween”.
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A campanha foi animada publicamnete pelo senador democrata Henry”Scoop” Jackson e integrou elementos dos lobby israelita como Richard Perle. Com efeito, para escaparem ao processo da “detente”, os responsáveis norte-americanos pelos projectos espaciais haviam transferido uma parte das suas pesquisas, designadamente nucleares, para Israel.
O presidente Gerald Ford pôs de pé uma dupla peritagem do potencial soviético. Os peritos da CIA constituíram uma “equipa A” (Team A), enquanto os contra-peritos do CPD foram autorizados a criar uma “equipa B” (Team B). Todos eles tiveram aceso às informações mais confidenciais dos diversos serviços de informções. A equipa B era composta por uma dezena de personalidades do CPD, entre as quais Nitze, Rostow e Yan Cleave, e, muito curiosamente, pelo novo director da CIA, George H. Bush, que podia assim puxar os cordelinhos das duas equipas supostamente concorrentes. A equipa B era assistida por alguns técnicos que efectuaram o verdadeiro trabalho de inquérito e redacção, entre os quais Richard Pipes, Paul Wolfowitz e o general Lyman Lemntzer.
Os relatórios respectivos das duas equipas foram apresentados e confrontados de maneira puramente formal diante do Gabinete Presidencial de Informações Externas, a 21 de Dezembro de 1976, poucos dias antes de Jimmy Carter, recentemente eleito presidente, assumir as suas funções. A equipa de Ford havia urdido tudo. Admitiu-se em poucos minutos que as anteriores estimativas da CIA estavam erradas e que a URSS se preparava para atacar os Estados Unidos. Bem entendido, como a História viria a provar depois, tratava-se de pura montagem, baseada numa confusão entre a quantidade e a qualidade do armamento soviético. A URSS defrontava-se já com terríveis dificuldades económicas e era incapaz de procurar um confronto Este-Oeste. Não obstante, foi na base deste estudo truncado que o Congresso reactivou os programas de armamento. Tendo a quipa do ex-SS Wernher von Braum afinado já os mísseis intercontinentais e tendo igualmente realizado voos espaciais tripulados, fixou-se como novo objectivo o envio de militares para o espaço (programas Challenger e Atlantis).
Esta nova manipulação da opinião pública norte-americana pela stay-behind foi feita às custas da CIA, mesmo na medida em que a rede stay-behind está ligada administrativamente à agência de Langley. O núcleo duro da rede entendeu sancionar a política de William Colby que, depois do Watergate, havia permitido que o Congresso inquirisse sobre os procedimentos da agência e tentara submeter a stay-behind a um controlo político.
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