Arundahti Roy
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e os que lêem, lêem o quê? – a avaliar pela maioria do que se vê nas listas dos top de vendas, lêm merda.
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Mas há mais formas de intervenção,alem do preço, cerceando, com a finalidade de desacreditar, o uso da palavra escrita.
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O “Financial Times”, um barómetro infalível, e bem apetrechado filosoficamente, na avaliação da qualidade do que se edita no campo da Literatura universal, tem uma opinião desfavorável sobre José Saramago. A critica literária do jornal despacha o livro “Ensaio sobre a Lucidez” (“Seeing”, na versão inglesa agora traduzida) com um seco “decididamente frustrante como ficção”, ao mesmo tempo que enleva a tradutora Margaret Jull dizendo que ela fez “um trabalho notável tornando claro, preciso e legível um texto palavroso e enrolado". Sem dúvida, um tratamento eficaz, para uma obra que custa 10 euros.
António de Sousa, Pintura Mural, 2006:
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Na recente tentativa de proibir a edição do livro “Couves&Alforrecas” (55 páginas, 8,5 euros), uma critica à escrita subliterária de MargarinaRebeloPinto, que se encobre sob o manto diáfano do auto-plágio, o Tribunal decidiu não dar provimento à providência cautelar que impediria a sua publicação. Mas, na decisão final, a juíza arrogou-se a comentar a sua opinião (ou a do Tribunal?) salientando que o “texto completo da obra de João Pedro George “se contém genericamente dentro da crítica objectiva, embora salpicado por expressões que, para alem de incorrectas e indelicadas, são susceptíveis de se revelarem ofensivas dos direitos do bom nome, honra e consideração da escritora”. Por esta altura do texto, para satisfazer egos com vícios de leitura “à esquerda” cumpre-me enfiar aqui uma caralhada em homenagem ao Luiz Pacheco,,, - senhora doutora Juíza! – quem habilitou vossa Senhoria para tecer juízos de valor sobre o bom nome de trampa?,,, não caberá aos leitores essa tarefa?
É uma vergonha que um tribunal, num país livre, aceite julgar casos destes.
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que o economicismo neoliberal não tenha corrompido?
"O Tempo encobre a Verdade"
Giambattista Tiepolo - Palazzo Sandi - Veneza
“Como escritores tentamos integrar este mundo desintegrado. Encontramo-nos entre a esperança pessoal e a desesperança pública. Na situação em que o mundo está, estamos a escrever de uma zona de guerra. É impossível regressar a casa, ao nosso escritório”
Eduardo Galeano
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