Ilustração de Franz Stassen, Berlim, 1914

Erda, a deusa da Terra, desce às profundezas do Mundo, num sono cósmico profundo. (gravura inferior)

Wagner foi um revolucionário do seu tempo, comprometido com a 1ª Internacional Socialista, que participou Revolução de Dresden e que foi obrigado a pedir asilo politico na Suiça, mas a informação oficial sobre essas referências é geralmente omitida, em beneficio do grande artista ad-nihilum, sem conotações com a realidade, com os problemas do povo onde se inseriu, muito menos com as analogias que possam porventura ser extrapoláveis para a nossa época, aqui e agora.

Graham Vick, mundialmente famoso pelas encenações de clássicos transpondo-os para ambientes contemporâneos é o responsável pelo "Ouro do Reno" nesta versão do São Carlos em Lisboa, e promete fazer sensação. Razão tem a critica ultraconservadora para "recear o pior",,, que, ainda antes da obra ser estreada, não se têm feito rogada em carpir as previsiveis mágoas.
Realmente as suspeitas são fundamentadas. Só para levantar uma pequena ponta do pano de cena, num teatro completamente transfigurado ( a acção desenrola-se na plateia e os espectadores estão no palco) a peça termina com Wotan, Alberich, Mime e Fricka - os Poderosos cantando o quadro final do alto da magestosa Tribuna Presidencial do Teatro, enquanto do bôjo da plateia se abre uma caverna por onde emerge um missil militar, pronto a ser utilizado - enquanto os elementos do coro, que estavam misturados com os espectadores, cidadãos normais como eles, deambulam atarantados (submetidos).
Num país normal, até para efeito de se rentabilizarem, estas coisas são televisionadas e transmitidas depois para divulgação para o grande público, que não dispõe de condições de acesso aos teatros das elites. Mas no caso, o teatro de São Carlos é patrocinado em exclusivo pelo Millennium BCP- Opus Dei. O que significa que o entendimento destas coisas dificilmente sairá do campo de observação das supracitadas elites. Bilhetes de 25 a 70 euros.(dias 28, 29 e 30 Maio; 1, 2 e 4 Junho) - Lotações Esgotadas.

Direcção musical - Emilio Pomàrico
Coreografia - Ron Howell
Cenografia e figurinos - Timothy O'Brien
Graham Vick: "Ninguém é dono de nada, somos apenas guardiães de uma forma de arte. Não se pode pretender conhecê-la melhor que ninguém, ser dono da verdade absoluta, porque a essência da arte é um mistério"

Wotan - Stefan Ignat ***
Loge - Will Hartmann *****
Fricka - Judith Nemeth ****
Freia - Tatiana Serjan
Erda - Gabriele May ****
Donner - Michael Vier
Froh - Stefan Margita
Alberich - Johann Werner Prein ****
Mime - Peter Keller ***
Fasolt - Keel Watson
Fafner - Friedemann Röhlig
Woglinde - Andrea Dankova
Wellgunde - Dora Rodrigues
Flosshilde - Cornelia Entling
Não cabe neste espaço a apreciação da obra em si, apenas referir que "O Anel de Nibelungo", a que depois do prólogo, se segue "A Valquiria", "Siegrefied" e o "Crepúsculo dos Deuses" é a mais completa e ambiciosa obra da história da ópera, ou até mesmo tida como o ideal wagneriano de "Obra de Arte Total" (Gesamtkunstwerk) correspondente às teorias expressas no ensaio "A Obra de Arte do Futuro" escrita por Wagner cerca de 1850. A tetralogia tem dado origem a diversas interpretações, condensando um potencial inesgotável. Tragédia mítica, alegoria politica e social, drama ecológico onde as forças da Natureza retiradas da sua ordem se vingam e degradam de forma suicida, metáfora do paradoxo que é a lei, história natural do capitalismo (segundo Bernard Shaw), inauguração da utopia,,, "uma outra leitura, presente nos esboços de Wagner, remete para o homem que cresce para uma consciência mais completa de si próprio. Já não necessita dos deuses, vendo-os apenas como expressão e razão para a sua servidão interior e exterior"
para aprofundar o tema:
(ler artigo de Cristina Fernandes no suplemento Mil Folhas de 27/Maio)

* a Musica Erudita, na Wikipédia
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