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quarta-feira, setembro 02, 2009

a nova bolha financeira das "energias alternativas"

em 1823, José Bonifácio de Andrada e Silva preparou uma petição representativa de cidadãos preocupados com a desmatação do Nordeste brasileiro, mas não conseguiu entregá-la na Assembleia Geral Constituinte porque entretanto foi preso e deportado. Há 165 anos já era previsivel o colapso ecológico. Esta região possuia então uma riquissíma floresta tropical que foi destruida ainda nos tempos coloniais pela expansão latifundiária do cultivo de cana-de-açúcar. O processo enriqueceu as familias que já eram ricas e alimentou a miséria do sertanejo, mas afectou toda a população brasileira – e quando se acabaram as árvores o ciclo do caranguejo continuou a ser alimentado pelas florestas de betão plantadas na desértica orla marítima para venda intensiva a turistas cada vez mais escassos. Agora quando ali chove festeja-se a chuva como se fosse milagre. E o processo de desmatação e cultura intensiva do latifúndio, actualmente para abastecer o mercado dos biocombustíveis para exportação (1), transferiu-se e alargou-se para outros estados amazónicos onde previsivelmente se antevê o mesmo desfecho, a erosão dos solos e a perda irreversivel de biodiversidade – nem tudo será mau, dirão alguns, à atenção de Lula da Silva: sobram putas brasileiras para exportação. Eis o trecho da denúncia de José Bonifácio:

“... as nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e do machado destruidor, da ignorância e do egoísmo; os nossos montes e encostas vão-se escalvando diariamente e, com o andar do tempo, faltarão as chuvas fecundantes, que favoreçam a vegetação e alimentem as nossas fontes e rios, sem o que o nosso belo Brasil, em menos de dois séculos, ficará reduzido aos páramos e desertos áridos da Líbia. Virá então esse dia, terivel e fatal, em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos”

(1) Para abastecer um carro médio são necessários 625 quilos de cana. O custo da produção de álcool é duas vezes maior que o dos combustíveis fósseis, sem questionar as despesas com a distribuição nem o seu valor social. Os custos para o meio ambiente também são impressionantes: geralmente 1 tonelada de cana produz 70 litros de álcool, 910 quilos de vinhoto e 260 litros de bagaço; resumindo, por cada litro de álcool produzido sobram 13 litros de vinhoto, o residuo poluente que normalmente é despejado nos rios ou em aterros que vão contaminar os lençóis freáticos.
A elevada produtividade da indústria no Brasil é um mito (4 toneladas por hectare, contra 10,6 da Austrália). O extraordinário lucro dos oligopólios da indústria dos biocombustiveis no Brasil só se explica porque têm “uma imensidão” de terra para desflorestar, e pela acção impune dos latifundiários (associados de várias formas às multinacionais da indústria dos agrotóxicos) que se permitem exercer uma enorme exploração sobre os trabalhadores que trabalham em condições das mais precárias do mundo.

o caso do "Biodiesel" secreto

Desde que Bush (o pai do acordo com o Brasil para intensificação do uso do biodiesel) despoletou a crise financeira, o governo federal norte americano gastou, emprestou ou fabricou perto de 15 triliões de dólares para ajudar a economia do seu país a sair do buraco. E de cada vez que um desses dólares é gasto, um lucro proporcional no sector privado é realizado. Isto significa centenas e centenas de milhões em lucros. E funciona: construindo rendimentos sobre as iniciativas do governo, uma das ofertas bolsistas no mercado global sobre consórcios de etanol oferece a multiplicação do lucro por 15.900 vezes, ou seja, promete transformar a compra de acções no valor de 10 mil dólares em 1,6 milhões de dólares
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