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sexta-feira, abril 23, 2010

Fantasia Lusitana (II)

É gratificante que o filme de João Canijo seja uma boa montagem de imagens raras do Estado Novo destinadas a explicar “que a par do Portugal dos anos 40 nas mãos messiânicas de Salazar havia um mundo em guerra à sua volta". Pretendendo-se igualmente explorar a relação do povo português com os estrangeiros refugiados dessa guerra.

O primeiro mito é que Portugal foi um país neutro. Como se disse aqui, o estatuto de neutralidade foi negociado com as potências europeias em guerra por forma a que o país servisse de refúgio seguro para o ouro nazi e outros tráficos. O segundo mito é que entre os “refugiados se sentia um cheiro a sujidade e pobreza” – o discurso lido em off contradiz-se com as imagens da maioria dos refugiados estrangeiros ricos no gozo dos prazeres da vida na época áurea do Estoril da Costa do Sol. A Lisboa que conhecemos como destino em “Casablanca” exibe-se assim numa falsa opulência em plena ascenção de Salazar, enquanto o povo era extremamente pobre e analfabeto. Apesar disso a Lisboa do fado encontra-se em festa. Para entender o clima nacional é necessário levar em consideração que esse estilo “português suave” se manifestou na mais grandiosa de todas as obras do regime: o Santuário de Fátima, ícone da ICAR que, como também de viu, guardou o seu largo quinhão nos lucros do atraso português. Ninguém que navegue nas águas dos meios oficiais pode tomar partido sobre a “neutralidade salazarista”, nem a ministra da cultura que botou faladura na estreia conspurcando o espíritoindie” (1) do festival; nem o comentador do JL que interpreta a questão sublinhando que “Portugal se demitiu do estatuto de porto de abrigo e quis apenas ser posto de passagem tratando os refugiados como farrapos”. Como vimos, farrapos ricos.

a Pompa e a Circunstância, Fascismo e Ignorância

Diz a recensão que o ipsilon dedica ao filme: “O cruzamento das imagens triunfalistas do Portugal paradisiaco que as imagens da época sugerem e os textos lidos funciona então como uma desmontagem metódica e meticulosa desse inicial “tudo pela nação” salazarista que ilustra ao mesmo tempo esse Portugal dos anos 40 e o Portugal contemporâneo”. Um olhar traumatizante: Cavaco diz hoje o mesmo sobre “os portugueses” e até os tiques de voz nas ideias de Sócrates têm perturbantes semelhanças com os discursos escritos de propósito para não se perceber o que ele está a dizer. Lá estavam também as imagens dos cumpridores de promessas de joelhos em Fátima, como voltarão (serão os mesmos imortais?) a estar prostrados dentro de duas semanas aos pés do Papa. No tempo da outra senhora "Portugal não teve o dia D, teve o dia S, de Carmona e Salazar" ouviu-se dizer; mas desta vez, quem é que poderá salvar Portugal da subserviência e pavoneio bacôco das suas elites?

Fantasia Lusitana” centra-se na Exposição do Mundo Português, sendo um dos episódios mais divertidos o lançamento à água da Nau Portugal, um barco construido nos estaleiros de Aveiro que durante a cerimónia de inauguração devido a erros de manuseamento rapidamente se afundou após a partida - tombou para o lado.

Diz o realizador: “não percebo como é que essa reportagem passou na Censura... mas explico porquê: não podiam esconder que a nau tinha virado, de forma que houve uma reportagem seguinte, maior, sobre a capacidade genial da engenharia portuguesa de pôr de novo a flutuar a “nau Portugal”. Outra mentira. Elementar para se perceber que a nossa dependência sempre foi apanágio dos governos, pró-fascistas ou pró-democráticos, seria João Canijo ter acescentado que “os grandes esforços para se repôr a nau em pé” acabou por ser feita por marinheiros ingleses que pilotaram a Nau até Lisboa sob a direcção do comandante Spencer

(1) "Indie", de Independente. Na realidade não faz muito sentido que produtores descomprometidos com o regime se desfaçam em lamúrias implorando subsidios oficiais. "Entalados" na questão ficam os espectadores que esgotaram a sala, a 5 euros por cabeça, para ouvir a ministra Canavilhas debitar triunfantes estatísticas e os realizadores independentes a dizer que não filmam porque o Estado não lhes dá dinheiro. Óbviamente, se filmarem e distribuirem as obras condicionados por subsidios do Estado Neoliberal, nunca irão filmar aquilo que queremos, merecemos e temos direito a ver (ler)
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3 comentários:

Diogo disse...

De acordo, o estatuto de neutralidade de Portugal e da Suíça foi negociado com as potências europeias em guerra. Os judeus que controlavam os dois lados do conflito tinham necessidade de «ilhas de paz».

xatoo disse...

"os dois lados do conflito" sem contar com os "judeus" japoneses que têm os olhos em bico, os "judeus" coptas do Africa Corps de Rommel que seriam negros como a Riefenstahl depois os pintou, os "judeus" da beira baixa que andavam ao volfrâmio, os "judeus" católicos de Katyn e os "judeus" ricos de Wall Street - todos eles se juntaram num comité central no controlo dos "dois lados" para simplificar

filipe brito disse...

parabéns pelo blog. lamentavelmente só agora o conheci.

abraço