Andam por aí os utentes da auto-estrada Soares/Cavaco meio escandalizados com a novel vassalagem toponímica do Portugal reaccionário ao velho marechal do golpe de 11 de Março de 1975 – que diacho, o marechal do Monóculo apenas chefiou o Movimento Terrorista que, segundo a cronologia do livro de Eduardo Dâmaso, executou apenas cerca de 400 atentados bombistas (1). Mas não será por isso que se tornou famoso… nem por arranjar emprego ao seu delfim operacional, Ramiro Moreira, na filial espanhola da empresa pública portuguesa Petrogal. Os tempos mudam…
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Um Homem do Regime Colonial Fascista
Desde 1969 que Spínola mantinha conversações secretas com “os terroristas” do Movimento de Libertação da Guiné (PAIGC), tendo como mediador o presidente do Senegal. Na última dessas reuniões em Capskirring (em 18 de Maio de 1972) com as tropas portuguesas cercadas e imobilizadas no terreno, Spínola enviava um relatório para Lisboa onde dizia que se previa um desastre militar a curto prazo, sendo a única solução a negociação. Finalmente chegou-se a um acordo para a autodeterminação da Guiné-Bissau num período de 10 anos, continuando Spínola como governador e Amílcar Cabral como secretário-geral da província nesse período de transição. Caetano respondeu-lhe que “era preferível sair da Guiné por uma derrota militar com honra, a um acordo negociado com os terroristas”. Em Maio de 1973 o PAIGC obriga a guarnição do quartel de Guilaje a fugir. Depois deste êxito a acção da guerrilha alargou-se a todo o sul com a operação Nô Pintcha atacando Guidaje, Bejene, Binta e arrasando vários acampamentos. Em Gadamael, após contínuos bombardeamentos, e sem poder recorrer a apoio aéreo com receio dos mísseis Strella, o quartel ficou completamente arrasado e os soldados tentaram várias vezes desertar, e só não o fizeram perante a chegada imprevista do general Spínola que os ameaçou com a execução. (5)
Com a certeza de uma eminente derrota militar, Spínola regressa a Lisboa em Agosto de 1973, sendo substituído pelo general Bettencourt Rodrigues. A guarnição do quartel de Copa caiu a 13 de Fevereiro de 1974. Dias depois uma poderosa bomba explodia no governo militar de Bissau e uma granada num café da capital, provocando 1 morto e sessenta e três feridos. A guerrilha urbana fazia a sua aparição.
Guiné, a dois meses do 25 de Abril
O germe da contestação militar surgiu na Guiné quando Spínola viu que a insistência em preservar a politica do governo conduzia inexoravelmente a uma derrota vergonhosa. (6). Em meados de 1973 surgiu a ideia de realizar o Congresso dos Combatentes do Ultramar (que viria a ter lugar no Porto em Junho), sendo uma manobra da extrema direita com a estratégia de ataque ao governo de Caetano, acusando-o de ser fraco e de estar a adulterar os ideais do 28 de Maio de 1926: “a Pátria não se discute, defende-se (…) queremos uma politica que confirme e garanta o nosso esforço de mobilização (…) Há duas leis? Uma para os terroristas das fronteiras de África e outra para os da rectaguarda? Se na rectaguarda não há lei contra os novos traidores á pátria, faça-se essa lei” (7)
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(1) Eduardo Dâmaso, "A Invasão Spinolista", Edit. Fenda 1997
(2) Quando a ingovernabilidade do país na 1ª República o incapacitaram para administrar as colónias, a Alemanha e a Inglaterra negociaram um acordo em 1913 que, se se concretizasse, teria significado a partilha de todo o Ultramar português entre eles.
(3) Entrevista por Josep Sànchez Cervelló, em 14 de Abril de 1986
(4) ver o livro “As Circunstâncias do Estado Exíguo”
(5) Entrevista com A. Spínola em 18 de Novembro de 1985, referida no livro “A Revolução Portuguesa e a Sua Influência na Transição Espanhola” (Assírio e Alvim, 1993)
(6) Marcello Caetano, “Depoimento” Ed. Record, Rio de Janeiro, 1974
(7) Tese do Congresso dos Combatentes: “Nós nunca seremos a geração da traição”
(8) Entrevista com o tenente-coronel Carlos Fabião em 9 de Dezembro de 1985
(9) Spinola pediu a invasão espanhola em 1974: http://www.areamilitar.net/noticias/noticias.aspx?nrnot=247
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3 comentários:
O Mário,traficante de armas-um gajo cheio de background moral.Aliás, com amigos do calibre dum Kissinger,Andrés Peres, ou Shimon Peres..............
é sempre bom a gente saber quem manda cá no burgo.
As antigas colónias que fiquem ao destino delas e nós que fiquemos ao nosso destino sem os senhores militares e políticos do regime do Antigamente.
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