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segunda-feira, agosto 30, 2010

Trotsky na América

"O capitalismo internacional, hoje em decadência, às mãos do qual nos encontrámos em guerra, não é um sucesso. Está desprovido de inteligência, de beleza, de justiça, de virtude e não cumpre as suas promessas. Em suma, não gostamos dele e começamos a desprezá-lo. Mas quando nos perguntamos por que o devemos substituir, ficamos extremamente perplexos" (John Maynard Keynes, "A Autosuficiência Nacional", 1932, citado em “A pobreza e a Abundância” Ediç.Gallimard, 2007)

Em 1935, enquanto Keynes medita na Teoria Geral, sobre os meios para salvar o capitalismo do naufrágio, o exilado Leon Trotsky entrega-se a um surpreendente exercício de ficção política sobre o que poderá ser o comunismo nos Estados Unidos. Imagina que "o custo de uma revolução" será "insignificante" em relação à riqueza nacional e à população, quando comparado com o que tinha custado na Rússia. Preconiza uma transformação progressiva das relações sociais, mais pela persuasão do que pela coacção:
"Bem entendido, os sovietes americanos criariam as suas próprias empresas agrícolas gigantes, como escolas de colectivismo voluntário. Os agricultores podiam facilmente calcular se era do seu interesse manterem-se como cavaleiros isolados, ou juntarem-se à cadeia pública."
O mesmo método seria empregue para convencer o pequeno comércio e a pequena indústria a fazer parte da organização nacional da indústria. Graças ao controlo das matérias-primas, do crédito e dos pedidos, estas indústrias "podiam ser mantidas num estado de solvabilidade até à sua integração gradual e sem coacção no sistema económico socializado".
Recusando a ideia de que a industrialização acelerada da União Soviética seria o modelo, Trotsky afirma que isso não pode estar em causa nos Estados Unidos.

Os Estados Unidos seriam capazes de aumentar consideravelmente o nível de consumo popular desde o início da sua renovação económica:
"Vocês estão preparados como nenhum outro país. Em nenhum outro lado o estudo do mercado interno atingiu um nível tão elevado como nos Estados Unidos. Este estudo foi feito pelos vossos bancos, os vossos trusts, os vossos homens de negócios individuais, os vossos negociantes, os vossos agentes comerciais e os vossos agricultores. O vosso governo abolirá simplesmente todos os segredos comerciais, fará uma síntese de todas as descobertas levadas a cabo pelo lucro privado e irá transformá-las num sistema científico de planificação económica. Para isso, o vosso governo encontrará apoio nas largas camadas de consumidores educados, possuidores de espírito crítico. Mediante a combinação das indústrias-chave nacionalizadas, das empresas privadas, e da cooperação democrática dos consumidores, desenvolverá rapidamente um sistema de uma extrema flexibilidade para a satisfação das necessidades da vossa população. Este sistema não será governado pela burocracia nem pela polícia, mas sim pelo duro pagamento em dinheiro. O vosso dólar todo-poderoso terá um papel essencial no funcionamento do vosso sistema soviético. É um grande erro confundir ‘economia planificada' e ‘moeda dirigida'. A vossa moeda deve actuar como regulador e medirá o sucesso ou insucesso da vossa planificação". À planificação burocrática e aos ‘ucasses' de colectivização que eram ditados de cima, Trotsky opõe a vitalidade do debate e do contraditório no espaço público, onde se exercem as liberdades democráticas de organização, reunião, de expressão. Reencontra as teorias de Rosa Luxemburgo, defendidas na sua famosa "Crítica da Revolução Russa", a ardente efervescência revolucionária que permite às correntes da opinião pública, ao pulso da vida popular, agir instantaneamente no quadro das instituições representativas.

(Leon Trotsky, "Le communisme aux Etats Unis", 25 Março 1935)

"O Homem como controlador do Universo"
(painel completo aqui)

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