o Principe Gautama Siddharta, fundador do Budismo, nasceu cerca do ano 563 antes-da-nossa-era (a.n.e.), filho do Rajá de Sakya, uma tribo guerreira do que é hoje o Nepal 150 quilómetros a norte de Bénares (Varanasi).
No inicio viveu a vida convencional de um Príncipe. Quando chegou aos 29 anos enfastiou-se com a vida luxuriosa da Corte e resolveu sair do Palácio do rei seu pai, da família e dos respectivos séquitos. Abandonou a sua esposa, as suas possessões, terras e poderes e iniciou uma longa caminhada submetendo-se às privações de uma vida ascética. “É certo que sou pobre, mas sou-o por opção”, diria dele o seu biógrafo nosso contemporâneo Hermann Hesse.
Por seis anos Siddharta levou uma vida de extrema austeridade obrigando-se à auto-tortura; no final deste suplicio, depois de diante de si ter desfilado um imenso rol de indigentes, putas, profetas, políticos e vulgares ladrões súbditos fora do seu mundo de origem, o Principe atingiu o estado de Iluminação – o secreto conhecimento do Eu, que não se representa nem pelo Corpo nem pela Consciência (e aqui começa a tanga i.e a negação de que tudo no Universo consiste em partículas de matéria que interagem no vazio até que a inteligência as organize)
“O melhor dos governantes não passa de uma sombra para os súbditos” (Lao Tsé)
De acordo com a tradição, Gautama Siddharta atingiu a Iluminação sentado debaixo da Árvore do Despertar (uma figueira ficus benghalensi religiosa ou Bodhi) perto de Buddh Gaya no Bihar durante a lua cheia do mês de Vaisakhi, o principio do Ano Novo para os hindús. Depois disto ficou conhecido como Buda o Iluminado. Fundou uma Ordem de monges e dispendeu os 40 anos seguintes como professor errante ganhando muitos seguidores. O que não será difícil de admitir, face à imensa população de miseráveis dedicados à mendicidade. Vestidos com os seus trapos tingidos de açafrão mendigavam as refeições e Buda nada fazia além do esforço pela esmola concedida – “sei pensar, sei esperar, sei jejuar” – dizia àqueles com quem se cruzava e viam nele modos finos e aristocráticos. Porém as coisas deste mundo, roupas, sapatos, pulseiras e dinheiro não lhe interessavam. Buda ensinava os pobres levarem uma vida regrada (que remédio) e ascética. Porém, dispostos a não renunciar completamente a todos os prazeres da vida, uma Ordem de Freiras foi igualmente criada. Buda morreu aos 80 anos em Kushinagar na terra de Oudh (Uttar Pradesh).
Por tempos imemoriais pensou-se que a vida de Buda seria puramente mitológica, mas agora parece que ela representou uma realidade histórica, porquanto Bodh Gaya se tornou um Património Mundial segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e se descobriu que as tecnologias de produção de milagres pertencem a um período bastante mais antigo. Os monumentos erguidos em Ashoca depois da conversão do reino ainda podem ser vistos. E houve grande excitação no século XIX quando um sarcófago contendo cinco vasos cerâmicos foram descobertos no Nepal. Um desses vasos continha alguns ossos com a inscrição “dos irmãos sukitti, juntos com as suas irmãs, este é um receptáculo das relíquias do Buda o Sagrado dos Sakyas”. Mas no final, medidos pelo carbono 14, parece que os ossos pertenciam ao tempo dos Ashoca, 200 anos depois da morte de Buda e, deste modo, não é provável que tivessem sido do próprio Buda. É perfeitamente datável quando e como Buda inventou completamente uma nova religião (religião é alienação); provavelmente ele promoveu uma transformação revolucionária a partir da pré-existente e ancestral Fé dos Brâmanes (passe ao lado que a palavra “Casta” tem origem portuguesa e dela só se tem noticia desde o século XV)
As ideias-chave do Budismo são que a existência humana é miserável, que o Nonsense ou “Nirvana” é o estado ideal e que o Nirvana pode ser alcançado pela devoção às regras do Budismo (religião é submissão). O principal conceito é de que as respostas do homem se encontram no seu interior e mesmo a morte não traz o Nirvana, porque as Almas transmigram-se após a Morte. Essas almas penadas estão condenadas à infelicidade na medida que se transmigram para muitas outras Vidas e recomeçam sempre noutros Corpos.
Henri Bergson (1859-1941) prémio Nobel em 1927 filosofava (seguido depois por Gilles Deleuze) que o ser dotado de inteligência é levado de facto a pensar em si mesmo e a desprezar os seus laços sociais. A inteligência mostra claramente ao homem a sua natureza mortal e por isso a religião reage com a crença na imoralidade e com o culto dos mortos. A inteligência faz perceber claramente aos vivos a imprevisibilidade do futuro e o carácter aleatório de todos os seus empreendimentos. A religião fornece mediante as crenças e as práticas mágicas a possibilidade de crer numa influência do homem sobre a natureza muito superior à que o homem pode efectivamente alcançar mediante a técnica. Na impossibilidade de um dinamismo total é preferível o homem dedicar-se ao misticismo, o que o pressupõe como um privilegiado genial. O misticismo da contemplação não acredita na eficácia da acção humana, assim, o génio místico que venha corrigir os males sociais e moraisde que sofre a humanidade. E “a humanidade poderá então retomar na Terra a função essencial do Universo, que é ser uma máquina de fabricar deuses”. Se não houver tempo para dar conta deste recado, então a opção de mudança da alma para outro corpo é garantida para que o virtual imaginado continue ad aeternum e passe a ser real.
O Budismo tornou-se uma religião muito popular espalhando-se rapidamente pela India, especialmente depois da conversão do Rei Ashoca (272-232 a.n.e.). Por volta do século III a.n.e. ele dominava todo o subcontinente indiano. Mais tarde, entrou em declínio, especialmente durante as perseguições ao Bramanismo no século VII e VIII depois da nossa era, ou seja, aquando da invasão do Islão. O Budismo contudo jamais deixaria de florescer, espalhando-se pela China, Ceilão, Burma, Tailândia e Japão. E nos tempos modernos atingiu o Ocidente, muito por encanto e graça do filme “O Pequeno Buda” de Bernardo Bertolucci. Buda fundou uma das grandes religiões do mundo. Porque conciliou as diferentes espécies de Fé envolvidas nas querelas sobre a direcção do progresso. Tem por isso um enorme efeito no desenvolvimento cultural do sudoeste e oriente asiático. É difícil imaginar o que teriam sido as culturas do Oriente sem a lenda do rico e faustoso Príncipe que por opção se tornou pobre e fundou o Budismo
Permitam que me apresente: venho ao "Banquete dos Pedintes", e "Sinto Simpatia pelo Diabo" (1968)
Literatura relacionada:
"People Who Changed The World" de Rodney Castleden
"Siddharta" de Hermann Hesse
"História da Filosofia" de Nicola Abbagnano
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3 comentários:
O que é que lhe deu? Converteu-se? LOL
A figura do sacerdote de Mohenjo Dahro ( http://www.infopedia.pt/$mohenjo-dahro) que você postou, cidade na índia, onde foi descoberto por arqueólogos vários corpos com mais de cinco mil anos, ainda existia alguma radiação nuclear.
Muitos arqueólogos encartados presentemente ainda discutem ao tabefe entre si se há alguma veracidade nessas descobertas!
Sendo famosa a frase de Robert Oppenheimer, retirada do Bhagavad Gita.
Entretanto estreou no cinema nacional mais uma produção dos irmãos Wachowski.
A viagem: http://youtu.be/73ZIzZfpqlo
Já o vi...cagativo.
Exacto: "Eu agora transformei-me na Morte, a destruidora de mundos" disse ele depois de ter inventado a bomba.
Mas, há-de reparar, de toda a prosa deste post a única coisa mais próxima de um facto real é o misticismo criado pela crença na figura. Porque é esse tipo de coisas que transformam de facto o mundo
Certíssimo, por isso neste ponto azul rotativo no incomensurável universo, continuamos e continuaremos a matar-nos por algo que não é carne nem peixe, nem preto nem branco.
Eu, acredito em mim.
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