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segunda-feira, janeiro 14, 2013

Empresta aí 10 que eu amanhã dou-te 1000, ou o grande conto do vigário imperialista dos nossos tempos

o português é inteligentíssimo, aprende com enorme facilidade, tem grande capacidade de trabalho. A única coisa que precisa é de orientação (Soares dos Santos, proprietário da cadeia de supermercados Pingo Doce, em entrevista ao Expresso, 12/1)

Ora, é expressamente para “orientar” a malta que existe o Expresso. Nem mais. Em título o semanário “informa” que “as Empresas Públicas têm um buraco de 3 mil milhões resultante de um esquema financeiro”; Diz mais que “foram perdas em operações com taxas de juro (…) não apenas as empresas públicas estão a perder com essas taxas de juro como a descida é amplificada pelos contratos de “Derivados” celebrados com os principais bancos que operam em Portugal. Ali se diz em caixa explicativa que são “swaps” na versão “plain vanilla” (1). Toda a gente percebeu?
O Expresso continua a explicar, (sacando frases de um imenso arrazoado de palha) que “são produtos (de investimento financeiro) que garantem pequenos lucros aos clientes (as Empresas Públicas) em caso de subida das taxas de juro e perdas elevadas em caso de descida das mesmas”. Mais se diz que “parece que estas operações foram feitas inadequadamente aos clientes” (as mesmas Empresas Públicas) não se dando cumprimento aos deveres de informação à CMVM, a instituição reguladora, conforme exigível por lei no Código dos Valores Mobiliários na comercialização destes produtos financeiros.


O objectivo do artigo é, claramente, denegrir as Empresas Públicas, que, por causa de serem públicas, são necessariamente mal geridas, ineficientes, fontes de despesas exageradas, trabalhadores a mais e improdutivos, etc. etc. Destaca-se, segundo o Expresso, o Metro de Lisboa, cuja direcção sindical é a mais combativa e radical de esquerda... Mas não foram os trabalhadores que compraram acções especulativas, foram as Administrações designadas pelos governos.

Na verdade o que aconteceu (e continua a acontecer) é que os governos neoconservadores saídos da crise do ano 2000 (crash da Enron e empresas das novas tecnologias que deu origem ao 11 de Setembro) se obrigaram, por decisão politica e como subservientes ao imperialismo norte americano, a alinhar no esquema de financiamento nas Bolsas que comandam a economia ocidental. Em Portugal a primeira decisão de obrigar tudo que fosse fundos ou empresas públicas a financiar-se comprando títulos de investimento para tentar lucros muito acima do que seria honesto esperar foi o governo de Barroso e Portas. E daí para cá o monstro especulativo não parou. Até ao crash na origem da Segunda Grande Depressão iniciada em 2007/8. O resultado foi essas empresas e fundos de um momento para o outro se verem a braços com uma resma de papel que nem para embrulho serve. Chama-se a isto gestão danosa e deveria resultar em processo-crime aos responsáveis, mas em Portugal o que temos é impunidade. E a obrigação dos governos, tanto PS como PSD, da transferência desses prejuízos para Dívida Pública para os contribuintes pagarem. É esta a génese e as consequências da chamada “crise das dívidas soberanas na Europa” (2).

Depois do crash de 2008 e do início das escandalosas ajudas aos bancos que tinham vendido este tipo de produtos financeiros, enganam-se e bem todos aqueles que foram enganados pelos Media “de referência", se pensam que os Bancos pararam com essa actividade criminosa. Os Bancos continuaram a vender as mesmíssimas acções, títulos e futuros. Mas com uma novidade – os investimentos passaram agora a ser protegidos por Seguros (Swaps (3) sobre os pacotes especulativos (Hedge Funds) que continuaram a ser enfiados nos mercados (por exemplo, nas empresas públicas). Nestas novas condições, se as Acções, Titulos e Futuros falirem, isto é, se os “clientes” deixarem de pagar reembolsos, o vendedor recebe o valor perdido da companhia seguradora. O que é um incentivo a que a Instituição vendedora primária (por exemplo a Goldman Sachs (4) tivesse interesse em que esses Fundos fossem à falência. Quanto mais falirem mais o especulador financeiro ganha! É esta parte que o Expresso não explica, a emissão de cada vez mais “pacotes sem risco” (para quem vende) – e que é à custa do endividamento dos Estados e Instituições Públicas por esse mundo fora que 1% dos norte-americanos que são accionistas em Instituições financeiras detinham o ano passado 2/3 da riqueza do país, para além de incomensuráveis riquezas noutros países.


(1) “Plain vanilla” é uma expressão adjectiva que descreve a versão mais básica e simples de algo, sem cláusulas opcionais, por analogia com o sorvete de baunilha quando este é o sabor padrão. Compra-se com sabor a baunilha e é baunilha que se tem de lamber até ao fim. Em economês neocon a expressão é aplicável à compra e venda de instrumentos financeiros, em geral, de títulos, opções, futuros e swaps, que são frequentemente negociados como opções de baunilha. O oposto da simples opção vanilla são opções exóticas nas quais se podem alterar os componentes do instrumento financeiro tradicional, resultando num modo de segurança mais complexo e eficaz para o comprador.
(2) "Qual o papel do BCE na Crise das Dívidas Soberanas?"
(3) o Professor Domingos Ferreira, no livro cuja capa se reproduz, ajudou a explicar o emanharado processual às assessorias nesses negócios
(4) Banqueiros do Goldman Sachs preparam os bolsos para colheita recorde de bónus que serão entregues no final deste mês depois do banco de investimento norte americano ter anunciado um forte  aumento de lucros em 2012
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