O sistema bancário no seu conjunto, e não cada banco por si, cria dinheiro pela concessão de créditos. Esses valores emprestados em “direitos de haver” por determinado banco, vão constituir depósitos nesse ou noutros bancos. E o depósito bancário é tão bom dinheiro como o papel-moeda. Conclui-se assim, paradoxalmente, que instituições exclusivamente privadas como os bancos, cujo objectivo é obter lucros, exercem a função de criar dinheiro subsistuindo-se à função pública de emitir dinheiro (fiat-money) que deveria ser do Estado no interesse da comunidade. Temos assim os bancos a criar dinheiro segundo o interesse de privados, investidores, accionistas, especuladores.
O problema da quantidade de crédito/dinheiro concedido ganha assim uma importância fundamental. O crédito deveria promover apenas e só a utilização dos factores de produção que cada economia pode dispor (do grego oikos+nomos, o governo da casa). Crédito que extravase essa função só tem um objectivo: fazer subir os preços e enriquecer com lucros uma ínfima minoria de indivíduos, à custa do empobrecimento de todos os outros. Esse excedente de capital enfiado no bolso dos ricos e congelado em bens não transaccionáveis, deixa de ser imobilizado para movimentar o trabalho na produção. A actividade económica decresce, parte dos factores de produção deixam de ser utilizados, o desemprego sobe. Tentar resolver esta situação com a emissão de mais crédito é um disparate. Cria inflação, agrava a crise e promove mais desemprego.
Com o problema do lixo tóxico no balanço dos bancos norte-americanos já resolvido (a seu contento, em seu beneficio e para prejuizo de todos os outros paises dependentes do capitalismo), a Reserva Federal dos Estados Unidos põe fim após seis anos de emissão massiva (quantitative easing) de papel-moeda para estimular a economia - 15 mil milhões de dólares por mês (85 mil milhões mensais após o 3º Programa de Estimulos em finais de 2012). Uma vez mais os juros dos empréstimos a conceder (por via do FMI, Banco Mundial) são mantidos ao nivel historicamente baixo de entre 0 e 0,25 por cento, por tempo indeterminado até que a inflação possa subir acima dos 2 por cento e sustentar o crescimento do capitalismo. (eldiário.es)
Para descrever a natureza da actual política monetária do Banco do Povo da China, o economista-chefe do Citigroup, Willem Buiter, cunhou um novo termo: "afrouxamento qualitativo" para o distinguir do muito mais conhecido programa de "flexibilização quantitativa" do seu homólogo FED norte-americano. A "flexibilização quantitativa", adoptada pela Reserva Federal como arma poderosa para combater a crise financeira global, refere-se a uma política monetária não convencional (imprimir mais dinheiro) para estimular a economia quando a política monetária padrão se torna ineficaz, especialmente quando as taxas de juro de curto prazo atingiram ou estão perto do zero. Em contraponto, como está a China a impulsionar a sua economia que cresce menos em virtude da baixa das exportações para o Ocidente em crise?
O chamado "decrescimento qualitativo" é uma politica do Banco do Povo da China que mantém em niveis normais ajustados à inflação, ou corta ligeiramente o crédito para o sector primário (infraestruras da macroeconomia, agricultura) e aumenta os empréstimos ainda mais baratos para projectos de pequenas cooperativas, reduzindo ao mesmo tempo as taxas e impostos para as empresas. É um programa que incentiva os gastos em projectos rurais de abastecimento de água, renovação de transportes e núcleos de habitação social, enfim, proporciona emprego/trabalho à economia real. São medidas combinadas que em conjunto se podem classificar como um "mini-estimulo" selectivo que vale apenas 0,8 por cento do PIB e evita o risco de estagnação para 2015 na China - um pequeno amendoim em comparação com a crise capitalista ocidental provocada em 2008 pela falência do Lehman e do suprime e pela pirataria fiscal que se lhe seguiu. E por incrivel que pareça o nosso especializado suplemento "Dinheiro Vivo" trata ambos os processos igualmente como "quantitative easing" e mente quando afirma que a criação de dinheiro ficticio nos EUA se iniciou em 2012, quando de facto se fez logo a partir de 2008.
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