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segunda-feira, novembro 12, 2007

Norman Mailer 1923-2007

Escritor, jornalista, activista, agente provocador da contracultura, violento, machista, boémio, esquerdista, excessivo, sentia um enorme peso por ser judeu (por parte do pai, Isaac Barnett, um judeu sul-africano que casou com uma espécie de quaker americana). Para além das obras que todos sabemos ("Os Nús e os Mortos"), tratou de temas como a religião, em ("Cristãos e Canibais", 1966); e “O Evangelho Segundo o Filho de Deus” (1997), parte da trilogia não intencional com Gore Vidal e Saramago; Racismo e jazz, ou seja os prazeres do corpo nos negros, contra a obesidade mental e intelectual dos brancos (“o Branco Negro"); a Máfia e a CIA ( "Miami e o Cerco de Chicago", 1968); Cuba ("Os Papéis do Presidente", 1963) o Watergate ("o Sonho Americano", 1965) e o “Processo de Oswald” (1995) sobre os tempos sombrios que adivinhou sobre o rosto estilhaçado de Kennedy; Cobriu quase todas as convenções eleitorais dos dois partidos do sistema (entre 1960 e 1996) e foi preso por participar nos protestos antiguerra: “Que Estamos a Fazer no Vietname?” (1967); sobre hollywood, o sexo e a politica, “Marylin” (1973) com um final bombástico onde sugeria que a actriz tinha sido assassinada pelo FBI por causa do seu affair amoroso com Robert Kennedy.

Claro que um marado destes, que escreve e actua como activista sobre estes temas jamais poderia ter ganho um prémio Nóbel. Como prémio de consolação para consumo corrente retenham-se as famosas entrevistas de Mailer (alternadamente com Gore Vidal e Germaine Greer) ao “Dick Cavett Show – Os Convidados do Inferno”, onde se escalpelizava a politica misturada com a grande literatura, Tolstoi com gajas e o Vietname com brocas e sexo, numa altura em que parecia ainda não haver censura. (de maccarthy e louco, todos ficámos com um pouco)

Referindo-se a estes últimos tempos, sem particular alegria, Mailer, o fundador em 1955 da revista “Village Voice” constatou que, “hoje, um americano médio, “razoavelmente inteligente”, não seria capaz de citar o nome de três bons escritores contemporâneos” (educados pelo marketing televisivo, os portugueses são!, querem ver?: 1.José Rodrigues dos Santos, 2.Rodrigo Guedes de Carvalho e 3.Miguel Sousa Tavares; mais um: Paulo Coelho). Depois de tentar uma antologia geral do mundo (“O Tempo dos Nossos Tempos”, 1998), Norman Mailer acabou por tentar vê-lo pelos olhos do diabo: “O Castelo na Floresta” (2007) explana, invocando a figura de Hitler, a impossibilidade de descrever e perceber a História segundo as narrativas de factos concretos – assim a única saída seria ficcioná-la e consumi-la sob a forma de romances.

Mailer: “as Democracias são delicadas; digo: o inglês só não sofreu um colapso e só não se partiu em pedaços ao longo das turbulências do Século XX porque um dia existiu William Shakespeare. Sem James Joyce, a Irlanda seria bem menos. Faço essas constatações não por ser um semi-talentoso novelista, mas porque a linguagem é imensamente importante. Bush destrói a linguagem quando abre a boca. Em nome do terror, Bush cometeu crimes contra a integridade e a reputação do Estado. É o pior Presidente dos meus oitenta e três anos de vida - e isso é muito significativo, se atendermos que vivi sob os mandatos de Nixon e Ronald Reagan”.

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