Petróleo
Daniel Day-Lewis é um anglo-americano simpático, um actor que escolhe meticulosamente os seus papéis na feroz indústria mainstream de onde é muito dificil extrair quaisquer pistas que tenham um mínimo de seriedade para a compreensão das teias que tecem a actual mundivisão. Não será o caso da próxima obra que nos chega pela mão de Paul Thomas Anderson, o realizador de Magnólia.
“There Will Be Blood”
O título é uma tenebrosa promessa para o futuro: “deverá haver sangue” (na gíria texana “oil” (petróleo) é sinónimo de “sangue” creio, e sempre queremos ver que raio de titulo, cretino e mistificador como habitualmente, lhe vai ser atribuido pelo distribuidor na tradução portuguesa). A história gira em torno de um homem (Daniel Plainview) que rudemente constrói um império do petróleo nas inóspitas planícies do Texas, tenazmente motivado por semear uma simples herança pessoal: a devoção do seu pequeno filho H.W. (Dillon Freasier) que espera venha a gerir o negócio, o leve a aumentá-lo e transmiti-lo a uma próspera descendência.
Adivinha-se uma remake do clássico “o Gigante” que mitificou James Dean como o herói americano da promissora civilização petrolífera da segunda metade do século XX. Porém, a ambição pode guiar o homem para a grandiosidade ou pode lançá-lo para a destruição, pode até fazer as duas coisas. Este é o grande tema onde se inspiram estas duas obras, tratado entre outras no épico romance de Upton Sinclair, “Oil”. Na curva descendente do “pico petrolífero” o negócio deixou de lado, como se sabe, qualquer réstea de ética; e do que trata Daniel no seu papel de anti-herói é de nos dizer que “não tenho necessidade de me explicar a mim mesmo as minhas acções”. Ora se tudo isto não é uma parábola ao que dizia o texano magnata do petróleo George Herbert Bush (“nunca pedirei desculpas por acções dos Estados Unidos, sejam quais forem as razões”) então é o diabo por ela. E é mesmo o Diabo que lhe aparece no final do filme na personagem de um Padre (Paul Dano, uma reencarnação de outro mito cinematografico americano, o “reverendo Powell” o assassino de a Noite do Caçador?) que confronta filosoficamente Daniel (ou a sua alma mater Bush) com a perigosa zona de vida que escolheu. As consequências do patético duelo final, como na vida real, ficam para já proibidas à visão dos espectadores
.
Sem comentários:
Enviar um comentário