A RTP2 transmitiu sexta-feira à noite, com repetição sábado á tarde, um documentário da BBC sobre o “tráfico de droga no Afeganistão”. Ali se mostrou a impunidade do cultivo intensivo e os processos de fabrico, actividades oficiosamente comunicados pelas autoridades militares norte- americanas como sendo tenazmente perseguidas, esforço esse testemunhado pelas comissárias da União Europeia e das Nações Unidas que compareceram in loco às filmagens. Particularmente curiosa foi a ênfase posta na estória de “a maior parte da droga se destinar a ser vendida a estrangeiros através da fronteira com o Irão”. Este é um enredo clássico usado nos objectos mediáticos de contra-informação(1)
Vocês acham que ouviram notícias no que foi transmitido pela BBC? Provavelmente não. Só os jornalistas independentes lhes dão cobertura. Por exemplo a esta: um avião da CIA usado para transporte de “suspeitos de terrorismo” para Guantanamo despenhou-se no México em Setembro passado (2007). A bordo foram encontradas 4 toneladas de Cocaína. Quem era o piloto? Um aviador habitualmente contratado para serviços encomendados pela CIA, pelo FBI e pela DEA (o Departamento Anti-Droga norte-americano – lembram-se deste organismo em “Traffic”?). Se no documentário da BBC se assistiu à selagem e às grandes fogueiras de heroina apreendida, que raio estava a fazer esta enorme quantidade de droga a caminho dos Estados Unidos? Mas não há motivo de grandes preocupações para Bush & Companhia: os orgãos de comunicação social dos EUA censuraram a história. Porém aquilo que o tele-espectador eventualmente perdeu está aqui:
Para quem pense que a epopeia da droga no Afeganistão (uma “indústria” ferozmente perseguida durante o regime dos Talibans) mas com o 1º lugar no ranking mundial readquirido depois da ocupação americana, conforme se referiu há poucos dias neste post ácerca do Paquistão, é uma invenção à margem dos esforços das “autoridades” com o tenebroso objectivo de as desacreditar, saiba-se que as suspeitas de tráfico de droga com pistas que vão dar à familia Bush, não são de hoje nem de ontem.
O jornalista Gary Webb (galardoado como repórter com o prémio Pulitzer) foi o primeiro a quebrar o tabu da história que ficou conhecida pela sigla CIA-Crack nos anos 90. O atrevimento valeu-lhe a despromoção no diário “San Jose Mercury”. Por fim acabaria despedido e praticamente expulso do exercício da profissão enquanto empregado devido a uma campanha de ódio em que participaram o “New York Times”, o “Washington Post”, o “Los Angeles Times” e o “San Francisco Examiner”. Em fins de 2004, Webb, que dentro do possivel permanecia activo como jornalista independente, suicidou-se com dois tiros na cabeça. Desta forma Gary Webb juntou-se a três outros homens – os escritores Danny Casolaro e J.H. Hatfield e o artista Mark Lombardi – os quais cometeram todos suicidio depois de terem chegado perto demais dos segredos da familia Bush.
O autor que sistematizou estes factos pediu a um matemático que lhe fizesse um cálculo das probabilidades que quatro homens, todos eles com um interesse comum num mesmo assunto específico, teriam de morrer todos desta maneira, e ele disse: “Examinando a taxa de suicídio nos EUA em anos recentes podemos estimar 17 casos de suicídio em homens por cada 100 mil pessoas, ou 0,017%. As possibilidades desses 4 biógrafos o fazerem seria de 4 elevado à potência 17/100.000, ou 8.3521 4.913 x 10^-17, ou seja, uma chance em cada 10,000,000,000,000,000. É o número mais próximo de impossivel que se pode achar. É como se um idoso que nunca tivesse jogado no euromilhões de repente jogasse uma vez na vida duas semanas seguidas com um bolhetim e acertasse nos 6 resultados certos dos 50 números disponíveis duas vezes seguidas.
Este é um apanhado de factos relativos aos anos 90. Porém para os mais renitentes em ver nisto mais que simples coincidências em actividades pontualmente marginais, saiba-se que existem histórias sobre a CIA-Crack ainda mais antigas que remontam à década de 80.
nota (1) - Método fundado com as filmagens do “holocausto” com exibição em Nuremberga.
nota (2) - os desenhos são retirados do site oficial de Mark Lombardi, com notas explicativas aqui.
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