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sábado, janeiro 26, 2008

The Magnificent Ambersons

Creativity is allowing yourself to make mistakes. Art is knowing which ones to keep
Scott Adams, in “O princípio de Dilbert”

1942. Orson Welles filma a mudança de paradigma no final do século XIX, quando o Poder, lenta mas inexo- ravelmente, desliza do fausto da Aristocracia assente sobre a posse da terra para a emergente civilização industrial onde desponta o automóvel (e uma nova forma de acumulação capitalista) como factor chave para a transformação da sociedade.
Nunca como em “Os Magníficos Ambersons” a mise-en scéne de Welles atingiu um tal esplendor – quando encena os personagens em Xanadu, a sumptuosa casa da familia Amberson, construida sobre as terras indígenas, onde é hoje Manhattan, comprada pelos judeus holandeses da diáspora que partiu do Recife à tribo do índio Vendonah que, conta a lenda, por ter um feitio irrascivel foi atado pelos seus a uma piroga e lançado mar adentro para não mais voltar.
(Abre-se aqui um parêntesis: nós, os também expulsos índios da meia praia, que só dispomos da piroseira da vivenda Mariani como termo de comparação, jamais poderemos compreender tal sentimento de perda das virtudes da natureza; tanto mais quando o capitalismo tardio nunca aqui produziu nada de que possamos ter particular orgulho ou inveja, excepto os dias de sol); de volta à City:
O herdeiro dos Ambersons, George Amberson Minafer, e todos os personagens que numa dimensão trágica gravitam em redor da opulência da falida Xanadu na verdade não são protagonistas, mas sim meros joguetes de realidades que os ultrapassam completamente. O verdadeiro protagonista é a voz do narrador invisível, que nunca aparece no filme, o único pelo seu ponto privilegiado de visão a conhecer toda a história. O que escreve no genérico final: “and my name is Orson Welles



Uma coisa nunca é apenas aquilo que vemos. É também, e sobretudo, o seu significado.

The Magnificent Ambersons” (que entre nós levou o ridiculo título de “o 4º Mandamento”) foi censurado. À cópia original faltam-lhe 17 minutos que nunca foram vistos. Welles foi despedido da RKO. Foram filmadas e acrescentadas por terceiros várias sequências e a montagem foi largamente modificada por forma a que a história tivesse um final mais ou menos feliz. Exibido esta semana na Cinemateca, apesar das amputações, segundo Bénard da Costa existe uma corrente crítica (desde 1959 Astrud Gilberto que conheceu Welles na sua incursão brasileira) a sustentar que a história dos Ambersons é um filme melhor que “Citizen Kane” (a história do magnata da Imprensa) celebrado como o melhor filme de sempre. Ao filme “demasiado perfeito” (Kane) opõe-se esta “sinfonia incompleta” (ou completada pela manipulação mentirosa, da pior maneira).



Para meditar, quando o Homem, no fim da estrada da civilização do automóvel e do veloz fausto da especulação bolsista, se vê novamente confrontado com outra mudança de paradigma. Pela primeira vez na história da humanidade se exige um Decrescimento, e isto pode muito bem ser o fim do Capitalismo.

O ponto mais notável do filme acontece quando o inventor e fabricante de carros Morgan (Joseph Cotten) dá a resposta a George Minafer (Tim Holte) quando este, ciente que a nova civilização é a causa próxima da ruína da sua sociedade aristocrática, lhe diz que “os automóveis nunca deveriam ter sido inventados”. Repare-se, estamos em 1942. Morgan responde:
“Não tenho a certeza Georgie que os automóveis estejam errados. Com todas as maiores velocidades que conseguimos provavelmente eles podem vir a ser um passo atrás na civilização. Talvez eles não acrescentem beleza ao mundo ou alimentem a vida saudável à alma humana. Não tenho a certeza. Mas os automóveis estão aí, e quase tudo, quase todas as coisas, irão ser diferentes por causa do que eles nos trazem. Podem servir para causas de paz, podem servir para causas que criam guerra. Eu penso que a mente humana irá ser modificada por via dos caminhos do automóvel. E pode ser que seja para o caminho certo Georg. Talvez dentro de 10 ou 20 anos, se pudermos ver a mudança de mentalidades nos homens, por essa altura eu esteja habilitado a defender o motor a gasolina, e então George, terei de concordar contigo: que os automóveis não são um negócio que devesse ter sido inventado


Continuando a falar de Cinema, Petróleo, Homens, mudanças de Paradigma civilizacional e esse tipo de coisas, o filme de Paul Thomas Anderson “Haverá Sangue”, de que já se falou aqui, com Daniel Day-Lewis como protagonista, é o principal candidato a ser lavado com o banho de ouro dos óscares de hollywood.

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