“Esta é uma sociedade fundada sobre o Trabalho, mas que deixou de poder oferecer aos seus membros aquilo pelo qual ela se estruturou e por onde organizou o seu discurso”
Hannah Arendt, 1983
Em obras como “A Condição Humana”, “Sobre a Violência” e “Sobre a Revolução”, entre outras, Hannah Arendt procurou demonstrar que, enquanto o Poder era gerado espontaneamente por meio da acção conjunta e dialógica dos cidadãos, a Violência exercia-se de maneira a dispersar e isolar os indivíduos, rompendo os laços cívicos que os vinculam;
Enquanto o Poder se converteu num fim em si mesmo, pois é a própria amálgama de cidadãos aglomerados na Polis que unifica os agentes no espaço público, a Violência foi puramente instrumental, porque não era mais que um meio para atingir determinado fim através da Coerção.
Actualizado para o novo paradigma (1) de controlo Biopolitico da produção social - quando o Poder deixa de se exercer de maneira consensual entre partes que antes podiam ser divergentes entre si, a Violência impõe-se de modo a calar os opositores e a destruir a pluralidade dos participantes.
(1) O termo “Biopolitico” (composto da “bios” Vida e da “polis” a Cidade) indica um conceito usado pela primeira vez em fins do século XIX por George Bataille, mas só chegou ao centro do debate filosófico no seguimento do uso que foi dado à palavra por Michel Foucault a partir dos anos 70 para designar uma das modalidades de exercício do Poder sobre a população enquanto massa global.
Para Foucault, e outros teóricos que se lhe seguiram, a “Biopolitica” é o terreno em que o Poder procura gerir os individuos por meio da prática de disciplina do corpo e a regulação das populações em termos colectivos. É uma área de encontro entre o Poder e a esfera da Vida – um encontro que se realiza plenamente numa época precisa: a da explosão do Capitalismo por meios violentos a todo o sistema mundo.
A tentativa de controlo biopolitico indica uma direcção principal e complementar, onde a gestão do corpo humano na sociedade de economia capitalista, a sua utilização e o seu controlo abre um processo biológico de controlo do corpo humano como espécie, para assim chegar ao controlo biopolitico de toda a população e das condições de reprodução da própria vida. A politica torna-se bio-Poder e trabalha no controlo do conjunto das actividades humanas enquanto procede à sua feroz expropriação.
Como se percebe, este é um projecto que não é menos monstruoso que a “liebesraum” do Nazismo, onde, em vez de um partido único, os dois partidos ditos democráticos assumem, por um lado as piores coisas do antigo socialismo de Estado e por outro, as piores coisas do neoliberalismo. Onde a pseudo Esquerda se adaptou aos temas fascistas da Segurança (alimentar, monitorização de práticas não saudáveis, prevenção contra-terrorismo inventado, etc). É por isso que, para utilizar uma frase de Negri, “dentro da bebedeira neocon” apelidamos a nova (des)ordem mundial de IV Reich – com a certeza que o gigante pode ser imobilizado, desde que cada um puxe o seu fio, ainda que de forma independente dos outros; Impondo à “liebesraum” do regime totalitário de Hitler o conceito de “lebenswelt”: as formas de vida do proletariado global.
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Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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