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sábado, janeiro 05, 2008

“U Omâi Qe Dava Pulus”

Um filme de João Pinto Nogueira
sobre o escritor Nuno Bragança (1929-1985):

"O proletariado deve exercer uma ditadura de classe e não de partido. E a ditadura de classe implica a mais activa e ampla participaçáo das massas - uma participação ilimitada numa democracia ilimitada" (1)

autor de “A Noite e o Riso” (1969), “Directa” (1979) “Square Tolstoi” (1981); argumentista de “Os Verdes Anos” a obra fundadora do moderno cinema português e co-realizador com Fernando Lopes do documentário “Profissão: Português”. Opositor do salazarismo, esteve exilado na Argélia e depois em vários países da Europa. Católico (foi colaborador de "O Tempo e o Modo") nascido no seio de uma família aristocrática de matriz conservadora, militou no Movimento de Acção Revolucionária (MAR) e integrou as Brigadas Revolucionárias de Carlos Antunes e Isabel do Carmo, ao mesmo tempo que trabalhava na representação permanente de Portugal junto da OCDE. Produzido pela ContinentalFilmes a obra de J.Pinto Nogueira foi exibida ontem à noite na Cinemateca. O realizador não tem a menor esperança que o filme venha a ser estreado e duvida até que possa ser editado em DVD. Quem não viu, paciência.

“Eram uma vez duas e um quarto da manhã à porta do dancing «o Canário». Pela Cidade ia conspiração, de luz acesa e janela aberta, tudo euforia de civis de civismo e baixas patentes descomandáveis. E eu vinha duma sessão dessa música. Horas longas de tabaco e copos de água inúteis, que me traziam ensopado em fúrias lentas. Por isso, a finais de reunião, entrara pensando «O Canário» com intensidades de arrastar comigo um subversor muito alto e magro. Ele suava nome, Sancho. E porque era enorme e quase famigerado avançou adiante. Entrámos como um iate de escaler à arreata. Sentados no bar, o Sancho encolheu o nariz. «Loca de burgueses», disse. Mas sorria e afagava-me um ombro. Talvez para lembrar que, de sua ideia expressa minutos antes, tínhamos noite ganha. O que, na minha inconfessa, significava irmos perder comboios sucessivos de qualquer mudança válida nos ritmos de ser gente e em País”
(extracto do conto “O Impotente)

nota (1). Referida por Nuno Bragança na correspondência com Mário Murteira, a citação original é de Rosa Luxemburgo
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