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quarta-feira, janeiro 30, 2008

Saúde global

número de habitantes por médico no mundo
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"Rodrigo morreu às 9,40 de sexta feira, dia 18, na rua, frente ao Hospital de Anadia (...) Há, em toda esta história o compasso dos atrasos, o assomo aflito de quem deseja ajudar; o pasmo, que é a secreta insígnia de quem se sente impotente para enfrentar a absurda autoridade do mal, e a trágica evidência do infame momento. O pai do Rodrigo não acusa ninguém, leio no DN. Talvez atribua à má sorte a morte espantosa do seu bebé (...) e se, no jogo dos Acasos, no instante supremo, no instante pequeno, redondo e urgente, a mão da ciência, o auxílio preciso, o diagnóstico vigilante estivessem onde deviam estar?"
Uma voz grave na televisão leu, com o ruído da contestação popular em pano de fundo: "no Seixal há 50 mil habitantes que não têm médico de família"

Baptista-Bastos hoje voltou a ouvir a voz na televisão: "preparava-me, pois, para comover os leitores da minha geração (...) eis senão quando uma voz na televisão, lá dentro, atraiu a minha malvada curiosidade e desviou-me do saudoso intento. Que dizia a voz, assim tão importante, que sobrelevava as instâncias dos meus impulsos de autor de imprensa? Era um homem. E fazia troça cruel de quem dele desacordava: de sindicatos, de jornalistas, de comentadores, de todos os partidos que não o seu, mas também de alguns daqueles, iguais comungantes, em atrito com o que ele fazia. Não percebi muito bem onde o homem falava: congresso, reunião, assembleia, igreja? Sei que o homem estava a deixar-nos para trás; e não há nada mais penoso do que sermos deixados para trás. O homem na televisão era somente voz: voz que apenas a si mesmo ouvia; voz inevitável para ela própria; voz impessoal, velha, fatigada como uma solenidade, inconvicta, em pleno processo de desumanização. O homem falava para se ouvir. Falava; não estava a dizer nada. Elogiava-se e ao Governo que dirigia. Na Saúde, na Justiça, na Economia, na Cultura, no Emprego, na Educação, nas Obras Públicas, tudo deslizava, com suavidade, para o irreversível ponto de exclamação que será a sociedade próspera e abundante. O absurdo atingia a dimensão da inconsciência abjecta"

Vivemos numa sociedade complexa e dividida. Somos divididos pelos rendimentos, pela educação que se pode pagar, e agora pela saúde, pelo nível de habitação, raça, género, etnia, religião. O governo Cavaquista de Sócrates, perseguindo com frieza os objectivos economicistas determinados pelas regras do Acordo Geral de Comércio e Serviços (vulgo "Novo Tratado Europeu") está a conseguir colocar os portugueses ao nível da África sub-sahariana.

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