O Parlamento de Paris na época de Luis XIV, como hoje, não era uma assembleia representativa. Não obstante os seus magistrados viam-se como guardiães do que eles denominavam as “leis fundamentais” do reino. Lideravam um movimento político que ficou conhecido como la Fronde. Este movimento era visto pelos seus participantes, nobres e magistrados, como um protesto contra a destruição da antiga Constituição pelo Cardeal Richelieu, que tinha cozinhado uma legislação nova alterando as disposições para permitir à mãe do futuro Rei, a estrangeira Ana de Áustria governar a França como regente orientada pelo Cardeal Mazarin. O Fronde pode ser descrito como um conflito entre duas concepções de realeza: limitada vs absoluta.
Quando o jovem Luis XIV viu chegada a idade de subir à governança fechou a mãe à chave e assumiu-se como um monarca absoluto, acima das leis do reino, com todos os poderes para nomear e dispensar indivíduos das suas funções. No entanto, não considerava que ele estivesse acima da lei de Deus, da lei da Natureza, ou da Lei das Nações. Honrava os compromissos internacionais enquanto preparava a nação para a guerra. Emplumou os nobres fidalgos com as ricas vestes de folhos que deram fama à moda francesa e assumiu, longe de Paris, uma obra faraónica, o Palácio de Versalhes onde os encafuou a todos principescamente pagos pelo erário público.
Ao retirar a Nobreza da circulação dos feudos, pondo termo às cobranças selvagens de taxas sobre as colheitas dos camponeses, estava aberto o caminho para o controlo sobre as vidas da totalidade dos súbditos da França, que adquiriam a qualidade de cidadania, mas ao mesmo tempo passavam à obrigação de pagar os impostos ao Estado do Rei Sol – o preço da ascenção da classe burguesa. Estava ultrapassada a crise de representação, inaugurados os anos de vitória e fausto ((o Rei tomaria Maastrich em 1674) e fundada a reconstrução do sistema de dominação pela nova génese do capitalismo.
O Fronde foi derrotado em 1652. Em 1654 Luis XIV mandou erguer uma estátua de pé sobre um guerreiro abatido (simbolizando o Fronde) e mandou colocá-la à porta do Hotel de Ville para mostrar aos gentios que já não tinham qualquer hipótese de defesa, enquanto como o representante de Deus na Terra, depois do ritual de coroação, e com o Clero e a Nobreza prostados a seus pés, começou a governar de modo absoluto a partir de Versalhes.
Trezentos e cinquenta anos depois “le Roi” proto judeu Nicholas Sarkozy, também ele filho da mãe estrangeira (um mini-Bush), após ter ressuscitado velhos costumes como o direito de pernada (jus primae noctis) sobre as filhas do povo, resolve também retirar-se para longe da escumalha de eleitores que infestam a capital do reino e convoca a nobreza não representativa do Parlamento para reunir em Versalhes a 4 de Fevereiro próximo (a meio da ponte do Carnaval) a fim que seja ratificado o “novo” Tratado Europeu.
Antes da chegada dos franceses, os degradados wasp indigenas da América não sabiam nem fritar batatas. Após a descoberta, à venda nos MacDonalds, chamaram-lhes “french fries” – é o mesmo, que vergonha, que agora os gringos se propõem fazer à nossa Révolution Française!
Saiba-se que se organiza já um grande movimento de cidadãos-eleitores que pretendem rumar a Versailhes para que conste que a velha retórica que persegue o designio de governar em nome de Deus e não do Povo já não é nem válida nem aceite.
E vós citoyens portugueses que também deveríeis ser filhos das Luzes, já que isto por aqui jamais dará nada, porque não alugais umas camionetas enfeitadas com umas bandeiras e não ides também?
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