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terça-feira, fevereiro 26, 2008

o Regresso dos Cowboys

my mind is made up, don’t disturb me with facts
no "Oeste Bravio"

“Cá estamos de mãos dadas, Walt, dançando o universo na alma” diz o judeu Fernando Pessoa ao quaker do rito escocês Walt Whitman, meu irmão americano I believe in the “inner light” “sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te/ E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias,/ Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente” (…) we feel good, esotéricos quanto baste 'Song of Myself' as Whitman's American Bible.

o Prof. Eduardo Lourenço, 84 anos, foi a figura central do meeting cultural que a Fundação Luso Americana (FLAD) promoveu a semana passada (quinta feira dia 21), subordinado ao título “Imagens da América”.
Teria o evento qualquer intenção política velada? Um recado dos filósofos sobre as actividades sanguinária da “Quadrilha Selvagem” segundo Sam Peckinpah, um aporte à estória encoberta da famiglia Bush em “Haverá Sangue”? Numa primeira análise não; afinal, como logo se percebeu no início das palavras do orador convidado, o tema era mesmo apenas o Cinema “apolítico”, a sétima arte que, desde os primeiros ensaios dos irmãos Lumiére, já leva 112 anos de existência (mais velho 52 anos que o primeiro filme de Manoel de Oliveira).
Eduardo Lourenço diz que conhecemos o cinema basicamente como o cinema americano; a geração do pós-guerra foi formada por ele; e a ideia que temos da América é a ideia que nos foi induzida pelo cinema. Verdade? Sim, claro. O professor disserta longa e pormenorizadamente sobre a trívia do cinema que lhe moldou o conhecimento – desde a projecção chuvosa da vida de Cristo num lençol de parede na capela da aldeia natal, a Tom Mix, “o Rei dos Cabreiros” e Tarzan, o rei do reino animal, aquele que domina a Natureza – até breves referências a obras mais substanciais:

D.W. GriffithThe Birth of a Nation” o nascimento de uma Nação (1921), passando pela mitologia universal de Chaplin- Charlot, e detendo-se finalmente pelos filmes de cowboys que são de facto o fundo da mitologia americana. O sonho histórico de expansão das fronteiras. Citando E.L: “a América assume positivamente aquilo que foi uma conquista feroz e que nenhum dos imperialismos europeus conseguiu transformar em epopeia” – nesse tempo havia um problema de comunicação, problema que desapareceu mais tarde com a formação psicológica induzida pelo cinema dos heróis americanos, quando John Wayne afirmou que "o exterminio dos índios nativos tinha sido um mal necessário”. Agora percebemos, mas não se percebe porque omitiu o prof. Eduardo Lourenço qualquer referência crítica á ideia expansionista americana, ou porque razões omitiu até o próprio genocídio. Mas enalteceu o espírito bíblico das obras mestras dos quatro ou cinco grandes estúdios de hollywood: a Century Fox, a Warner Brothers, a Metro Goldwin Mayer, “que pertenciam todos a patrões judeus”.

Fomos ver como é que, como em Frank Capra, (o realizador do filme de propaganda "Why We Fight" durante a 2ªGGuerra) com Eduardo Lourenço acaba sempre tudo numa radiante mensagem optimista para o futuro (mesmo depois da bancarrota, que lindo é este mundo ficcionado, onde policias e banqueiros ajudam os pobres e falidos: "It`s a Wonderful Life"): Lourenço é Director Honorário da Fundação Luso Americana nomeado pela FLAD. Afinal um evento que aparentava ingenuidade apolitica tinha tudo de político. Como disse ontem Kennedysomos todos berlinenses”, como diz hoje Cavaco “somos todos americanos” ou como diz o zé desde sempre “somos todos índios” a quem se aplicam os efeitos especiais tecnológicos da velha ideia de “californication” hollywoodesca (*), ainda por cima obrigando as vítimas a pagar bilhete para se formatarem ao jeito dos algozes.

Somos todos Índios no sentido marxista que Abraham Polonscky imprimiu a "Tell Them Willie Boy Is Here", razão para ser marginalizado, agora quando o espírito de Conquista do Oeste persiste por esse mundo fora, onde os implacavelmente derrotados, quando não exterminados segundo o método israelita, se vêem constrangidos a árduas batalhas: a sobrevivência em campos de concentração, as famosas reservas indígenas, onde são usados como vítimas de atracção folclórica para as Ong,s - onde as esmolas são uma constante que aviltam e tornam indigna a condição do ser humano. Na medida em que as classes médias no Ocidente empobrecem, vamos cada vez conhecendo melhor e mais de perto esses guetos sociais onde as forças do mal, “Force of Evil, (1948) também de Pollonck são a razão, pensar diferente e à esquerda, para que se seja aldrabado, perseguido e excomungado.

Por favor repare-se - aqueles capuzes aplicados aos prisioneiros de Abu Grahib têm reminiscências concretas nos capuzes do Ku Klus Klan, a seita secreta segregacionista que construiu a América de “Intolerância” – o outro filme de Griffith que Eduardo Lourenço não mencionou.



“Deus é o sentido para onde tendem todas as inteligências que governam este mundo contra a vontade satânica da matéria inerte” (…)“O meu destino pertence a outra Lei cuja existência a Ophélinha nem sabe, está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.”

(e) foi então que, para te vingar
E à maneira de santo, os arreliar
Desceste mansamente à terra
Perfeitamente disfarçado
E fizeste entre os homens da razão
Um milagre assignado, mas cuja
assignatura se erra
Quando em teu dia,
S. João do Verão,
Fundaste a Grande Loja de Inglaterra - Fernando Pessoa (1935)

O mesmo espirito das cruzadas, "temos de salvar o Cristianismo" e os mesmos efeitos colaterais - até o Pacheco os referiu, são eles: a Conquista, a Guerra, a Fome e a Morte - de Eduardo Lourenço, moço de fretes da ideia americana, cuja viagem cinematográfica não passou pela pioneira UFA alemã, tampouco pela nouvelle-vague europeia, nada se ouviu - ou melhor, dela disse ser uma "epopeia"; com fins beneméritos, I presume,
.

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