"International law? I better call my lawyer; he didn't bring that up to me." (George W. Bush)
8 anos 8 após a declaração de “guerra ao terrorismo” no único processo legal conhecido, um juiz de um tribunal italiano decide condenar 22 Agentes da CIA pela prática de rapto e tortura no caso de Abu Omar. É o primeiro caso dos chamados Voos da CIA. O cidadão egípcio de seu nome completo Hassan Mustafá Osama Nasr, a residir em Itália, foi raptado em Milão em 2003 e transferido via Alemanha para uma prisão secreta da CIA no Egipto onde permaneceu quatro anos sem qualquer acusação formal.
Os cabecilhas organizadores desta acção de sequestro, Jeffrey Castelli, Niccolá Pollari e Marco Manzini bem como alguns colaboradores mais próximos, não puderam ser julgados porque como se trata de altos cargos estão ao abrigo da imunidade diplomática. Os outros, condenados e obrigados a pagar indeminizações à vítima e à família, foram julgados à revelia (vivem nos EUA), sendo alvo de pedidos de extradição; coisa que jamais acontecerá, como era dos bons costumes em Bush e se encontra incólume em Obama. Hoje como outrora na politica de Herbert Bush, que foi presidente depois de exercer o cargo de director da CIA se disse: “jamais aceitaremos culpar a América mesmo em caso de não termos razão”.
A noção de justiça no neoconservadorismo global
No entanto, não há ninguém, com a mínima capacidade de discernimento, que não saiba julgar por si próprio os pides da CIA. O juiz Óscar Magi sabe que produziu apenas uma mera acção de diversão. Que não detém em absoluto nenhuma representatividade delegada pelos cidadãos, num país (entre outros da Europa) onde todos os outros Juízes italianos (e devem ser uns bons milhares) "não conseguiram" ainda incriminar, julgar e condenar Berlusconi, o corrupto-mor do Reino, que aliás já disse que permaneceria no cargo, ainda que “alguma vez viesse a ser alvo da perseguição da justiça (sic!)
Neste estado de (in)Justiça, como em Blair, Bush, ou Aznar que se escapam também sem mácula ao julgamento pelos crimes que decorrem no Iraque (no caso Blair desejando ainda a recompensa de uma promoção), os políticos neoliberais têm ainda menos legitimidade de representação. Haverá possibilidade de exercício de um poder autónomo de cada individuo fora da teia colectiva de decisão?, a impossibilidade vem de fora da nossa fronteira, da especialização da divisão social do trabalho no caso nacional, ou imposta por entidades externas ao nosso território, dizem…
“Crises sempre as houve. E sempre as haverá. Essencial é equacionar as capacidades de quem as pode resolver”
Finda a ilusão de separação de poderes (desde que o poder judicial manipulou a “eleição” do poder executivo de Bush em 2000, ou vice versa) concluiu-se que as pessoas vulgares, o homem de rua, não quer de facto saber quem são aqueles em quem delegam a sua representação. Como na democrática Ágora atenienense (1), onde os escravos não eram admitidos, tidos nem achados, a capacidade de intervenção pelo voto dos novos escravos-consumidores é discutível, decerto desqualificada, meras vítimas de um embuste; Macaqueiam a delegação do poder e esperam dos empossados que se desenrasquem: tragam de lá o petróleo, vestes baratas para nos cobrirmos (áh, e o problema do salário é essencial) e garantam as fontes essenciais de energia e matérias primas, usando os meios que considerem necessários - ainda que ilegítimos, logo ilegais - desde que consigam alimentar o estilo de vida e o consumo a que nos habituaram. Acautelem-se porque há sempre o fantasma de Spartakus à espreita.
Nesta óptica, o que não faltam por aí são vultos bushistas e sucedâneos com cara de gente; que com o seu apoio tácito e efectivo garantem a continuidade do estado de excepção permanente. Estão enganados e esta é uma falsa questão. De facto o que se passa é que as elites globais residentes nos EUA estão a fazer pagar os custos da debacle financeira mundial aos 450 milhões de cidadãos da Europa (a 2ª maior economia do mundo) cujas classes médias enfrentam um processo em que verão diminuir drasticamente o seu nível de vida. Tal como fizeram ao Japão durante a crise asiática na década de 90, da qual a então 2ª maior economia do planeta jamais recuperou.
(1) "Herodoto ministrando uma lição às massas. Atenas, ano 444 AC". Afinal o mundo contemporâneo de tradição greco-romana não é tão diferente assim deste clássico. O Poder era depositado nas mãos daqueles que melhor dominassem a oratória, a arte de convencer. Enquanto isso, mais banquete menos guerra, a vida dos poderosos prosseguia nos seus designios, indiferentes às manifestações da turba
.
Sem comentários:
Enviar um comentário