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Alexandra Kollontai, dirigente feminista da Revolução Socialista, escreveu sobre o facto e sobre o 8 de Março, dizendo "O dia das trabalhadoras em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro, no antigo calendário) foi uma data memorável na história (...) A revolução de Fevereiro começou nesse dia". O facto também é mencionado por Leon Trotski, na “História da Revolução Russa”: “era o Dia Internacional da Mulher, estavam programados actos públicos, reuniões e comicios. Mas não se podia imaginar “que o Dia da Mulher pudesse despoletar a revolução”. Tinham sido previstas acções revolucionárias contra o czarismo, mas sem data programada. Mas apesar das proibições, nessa manhã as operárias têxteis, as mais exploradas e oprimidas, deixam o trabalho em várias fábricas e enviam delegadas para solicitar o apoio à greve... “o que se transforma numa enorme greve de massas.... e descem todas corajosamente às ruas de Petrogrado atingindo o número de 90 mil, a maioria mulheres, uma vez que os homens se encontravam maioritaritariamente na frente de guerra". Nesta narrativa fica claro que as mulheres foram as principais agentes mobilizadoras, e a revolução foi desencadeada por elementos de base, cujo desespero conseguiu superar o medo das directivas das administrações das fábricas. Por fim documentos da Conferência Internacional das Mulheres Comunistas realizada em 1921 lê-se que "uma camarada búlgara propõe o 8 de Março como data oficial do Dia Internacional da Mulher, lembrando a iniciativa das mulheres russas". Assim, a partir de 1922, o Dia Internacional da Mulher passou a ser celebrado oficialmente no dia 8 de Março. Por esta sequência de motivos e não por outras conotações como erroneamente se quer fazer crer. (2)
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A história do Dia Internacional da Mulher tem vindo a perder-se vítima da canibalização do movimento socialista pelos ideólogos de serviço ao regime neoliberal. Porém, recuperar e recontar a verdadeira história será sobretudo reafirmar o contributo das lutas das mulheres inserida na luta pela transformação geral da sociedade.
Na URSS o dia 8 de Março era feriado nacional e na Rússia actual continua a ser, apesar de já ter perdido toda a vertente política. Hoje, lá ou aqui, a data é conotada com qualquer coisa parecida com demonstrar o carinho e amor pelas mulheres, uma mistura do Dia da Mãe com o Dia dos Namorados, enfim, é a vida, ou para as mulheres da dita, um mero pretexto de mercado para uma simples queca de ocasião. Daquelas emancipatórias, decerto. (3)
Fontes:
* Renée Côté, “La Journée Internationale des Femmes”
* Ana Isabel Alvarez Gonzalez, “As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres” Editora Expressão Popular, São Paulo, 2010.
Notas
(1) Ver versão em inglês do Incêndio na “Triangle Shirtwaist Factory”
(2) Na Wikipedia na versão brasileira que serve de fonte abastecedora para a imprensa de cordel, pode ler-se: “no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, por iniciativa de Clara Zetkin, ficou decidido que o 8 de Março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU”- mas a greve de Nova York, em 1857, quando teriam morrido mais de cem operárias queimadas, nunca existiu, nesse dia.
(3) ver “Sugestões” no Expresso
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1 comentário:
a qualidade de um bom artigo.
Bravo
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