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quinta-feira, julho 29, 2010

O colapso da BP no Golfo do México

A panóplia de meios mobilizada para minimizar os estragos custa verbas exorbitantes. Como sempre, há a tendência para financeirizar tudo, mas o desastre não é mensurável em dinheiro

Enquanto, sobre a maior catástrofe ecológica de sempre nos EUA (1), o Guardian de ontem ironizava: “British Petroleum disposta a enviar o actual gestor chefe Tony Hayward para a Sibéria” (depois de o indeminizar com uma boa mão cheia de milhões) o editorial do Público levava a coisa solenemente mais a sério: “Bob Dudley, o indigitado substituto para novo CEO é uma prenda dos céus para a BP começar de novo depois de ter provocado um desastre ecológico de proporções incomensuráveis: foi ele quem conseguiu estancar a fuga e é americano – o primeiro americano a dirigir a petrolífera britânica” - Embora na visão destes alucinados neoconservadores sejam sempre os americanos a salvar o mundo, vindo de onde vem até se pode compreender, mas quem passou a caxa ao articulista que a BP é britânica?




















Sendo a BP de facto um ninho de multinacionais com capitais privados de accionistas, com uma fortissima componente financeira, quem é que de facto controla a chamada “British Petroleum”? o mito dos media é que a empresa é inglesa, mas isso é correcto apenas numa ínfima parte, a disseminação do capital é muito mais complexa.. Cabe aos media defenderem e esconderem as corporações mais expostas ao ódio das opiniões públicas – e assim sendo ninguém anota que 29 por cento das acções do grupo são detidas pela JPMorgan e que junto com outros accionistas os investidores americanos controlam um total de 39 por cento das acções. Ninguém informa que a maior contratante operacional das actividades da BP no terreno é a Halliburton (2), a multinacional tristemente famosa pelo seu envolvimento nos escândalos das contratações no Iraque. A Halliburton transferiu recentemente o seu quartel-general para o Dubai onde, como zona franca económica, se encontra ao abrigo de legislações nacionais ameaçadoras de responsabilização... e por fim, o ex-CEO entre 1997 e 2009, Peter Sutherland (3) que foi obrigado a demitir-se por causa de um escândalo sexual, faz também parte da administração da Goldman Sachs. (4) Nos primeiros meses de 2010 a Goldman Sachs vendeu um massivo lote de acções, quando um dos seus gestores enviou um email avisando que as perpectivas de erros nas explorações de petróleo em águas profundas era um risco cada vez mais evidente. (5)

É relativamente fácil prever os desastres da BP (um contrato similar firmado na Libia esteve na base da libertação dos “terroristas” de Lockerbye), porque as preocupações da BP são financeiras (6) e não racionais em termos de uso dos meios no sentido de bem comum. Os contratos de gestão de equipamentos são desenhados para dar lucro se o objectivo principal falhar. Há um modelo standart nestas operações de cada vez maior risco, na medida em que a complexidade tecnológica de extracção de petróleo se agudiza devido às dificuldades de acesso às fontes destas matérias primas cada vez mais escassas e remotas. A primeira prioridade na resolução das dificuldades é não haver regulação... nem “overnight”, como no dinheiro virtual... Nem consequências. Muda-se de gestor, acertam-se umas indeminizações precárias às vidas desgraçadas das vítimas nas zonas afectadas... e está feito. O petro-lobie que ajudou a eleger Obama (7) trata de proteger a actividade da criminalização pelas consequências. Não haverá investigações. A BP é uma empresa criminal, não é um negócio normal. O próximo desastre eco-petrolifero, adivinha-se, vai acontecer na instalação dos pipelines da BP no Alaska.

notas
(1) A zona costeira da Louisiana é o equivalente ao Ground Zero da Brithish Petroleum
(2) a Halliburton é a empreiteira responsável pelo Deepwater Horizon
(3) ver entrevista ao Público de 6 de Outubro de 2007
(4) Janine Wedel no Washington Blog: Chairman of Goldman Sachs International Was Also Chairman of BP
(5) A história vem contada por Adrian Salbuchi neste video da BrasscheckTV
(6) valores actualizados, a BP tem mais produtos derivados disseminados no mercado financeiro que tinham a Enron e a GE juntas aquando do crash do Nasdaq no ano 2000 (Market Oracle)
(7) em principios de Julho o Senado bloqueou uma proposta de investigação ao desastre do Golfo do México
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