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domingo, outubro 06, 2013

Heróis da Classe Operária - Vo Nguyen Giap (1911-2013)

é fácil recrutar mil soldados, mas difícil encontrar um general” (provérbio chinês)

Vo Nguyen Giap formou-se na Universidade de Hanói em Economia Política e Direito aos 19 anos. Ensinou História e trabalhou como jornalista tendo em 1930 sido preso por apoiar as greves estudantis. Em 1931 tem inicio a expansão imperialista do Japão, potência regional que ocupa vastas extensões da China e do sudeste asiático. Em 1934 o Exército Popular da China escapa à campanha de aniquilação dos imperialistas japoneses aliados à burguesia nacionalista. No inicio da “Longa Marcha” de fuga estratégica das forças lideradas por Mao Tse Tung, o jornal do Partido Comunista utiliza pela primeira vez o termo “Maoista” para explicar o conceito da guerra da generalidade de um povo oprimido, organizado em torno de um Exército do Povo. O jovem Vo Nguyen Giap tem apenas 23 anos, mas já assimilou um principio socialista fundamental em defesa da soberania do seu povo: um homem senhor de si não terá outro senhor!

"O general que vencerá a Guerra não é aquele mais forte, é o mais astuto" (Sun Tzu n"A arte da Guerra")

Em 1938, a França proibiu a doutrina comunista em todos os seus territórios coloniais da Indochina. Enquanto a irmã de Giap foi detida e executada e a mulher Nguyen Thi Quang Thai foi igualmente encarcerada vindo a morrer na prisão, Giap conseguiu fugir para a China aliando-se a Ho Chi Minh onde funda a Frente Nacional de Libertação do Vietname (FNL). Ali aprendeu com a teoria de Mao Tse Tung que “a origem mais profunda do poder para decretar a guerra reside nas massas populares” – não uma guerra ofensiva contra outros povos, um homem de bem não se faz soldado, e quando é obrigado a sê-lo já tem apreendido uma sólida cultura politica - mas uma guerra em defesa da soberania do povo contra as agressões de contingentes mercenários ao serviço dos interesses económicos descomunais das potências coloniais capitalistas. No caso da Indochina tratava-se do controlo das plantações de borracha, que proporcionaram o nascimento de empórios como a Michelin, ou das exportações de carvão, estanho e zinco, essenciais para abastecer as indústrias dos centros capitalistas. Como teorizou Lenine no “Imperialismo, Estádio Supremo do Capitalismo” – “os monopólios privados e os monopólios estatais confundem-se na era do capital financeiro, não sendo uns e outros mais do que elos da luta imperialista travada entre os maiores monopolizadores pela partilha do mundo”, e no passo seguinte, “demonstrando o extraordinário reforço da máquina estatal a extensão inaudita do seu aparelho burocrático e militar”. Como sempre na análise marxista, a teoria viria a ser confirmada pelos factos.

Em 1940, um ano após o inicio da 2ª Grande Guerra tropas do Japão ocupam o Vietname, que permanecia uma colónia francesa. Em 1941 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) assina um pacto de não agressão com o Japão. Os japoneses ocupam todo o sudeste asiático em 1942, capitulando após a batalha do Pacifico perante os Aliados em 1945. A guerra havia terminado, mas não a economia de guerra que devastou o 3º Mundo por séculos.

o General Vo Nguyen Giap assume o comando. Mais tarde dirá: "fui apenas uma gota, no esforço de milhões de homens"
Face às acções armadas das tropas de libertação, em 1946 os Franceses bombardeiam Haiphong despoletando a Guerra da Indochina. Dia 1 de Outubro de 1949 é proclamada a independência República Popular da China. Em 1950 tem inicio a guerra que divide a Coreia em duas segundo dois regimes diferentes, capitalista a sul, comunista a norte. Em 1954 a França abandona a Indochina após a derrota em Dien Bien Phu resultando dos acordos de paz de Geneva a divisão do país em dois, com Ho Chi Minh no governo da República Democrática do Vietname do Norte - a França retirou-se, mas os Estados Unidos ocuparam o sul do país…
Confirma-se portanto o conceito maoista de que "a Guerra é a politica com derramamento de sangue e que a Politica é a guerra sem derramamento de sangue

entrevista com o General Vo Nguyen Giap, gravada em 2003

os Estados Unidos viram-se obrigados a retirar do Vietname em 1973. Giap continuou no comando das tropas norte-vietnamitas conduzindo uma campanha que finalmente em 1975 capturou Saigão, a capital do Vietname do Sul. A vitória e a expulsão das tropas yankees possibilitou a reunificação do país sob o governo do Partido Vietnamita dos Trabalhadores, com Giap como ministro da Defesa e, posteriormente em 1976 como vice-primeiro-ministro (ano em que se integra o Comité Central do Partido Comunista do Vietname (ex-PVT), em cujas funções ainda comandou a intervenção para derrubar Pol Pot no Camboja, mais um regime criminoso apoiado pelos EUA. Durante a Guerra do Vietname (1955-1975) morreram 2,5 milhões de pessoas e destas, apenas 58 mil foram soldados mercenários norte-americanos, vítimas imbecilizadas de armas que nunca perceberam...

6 comentários:

Anónimo disse...

Qual é a opinião do PCTP, ou do Antonio Garcia Pereira sobre cuba?

xatoo disse...

a sede nacional do PCTP/MRPP é na Av. Brasil nº 200 A. Marque uma entrevista, vá lá e pergunte ao próprio

Anónimo disse...

Estou a perguntar porque nunca ouvi nada do Garcia Pereira, ou do PCTP/MRPP, sobre o assunto(pelo menos não encontrei nada ).

Pergunto porque apoio o governo Cubano, pois, acho realmente socialista e gostava de saber a opinião do Garcia Pereira ou do partido mas não encontro nada.

Concordo quando ele diz que a China é uma ditadura social-fascista.

Apenas pensei que poderias saber o que o GP pensa sobre o modelo Cubano.
Obrigado.

xatoo disse...

Não creio que GP tenha dito que a República Popular da China fosse uma "ditadura social-fascista". Essa expressão foi aliás apenas utilizada pelos maoistas no contexto do conflito ideológico entre a China e os revisionistas da URSS a partir da morte de Estaline e do XX Congresso do PCUS na década de 60. O que GP tem vindo a dizer é que a China acumula capital à custa de trabalho escravo pago miseravelmente. O que é ainda mais grave. De qualquer modo, existem opiniões próximas dos simpatizantes do partido que acusam o MRPP de ter deixado de ser um partido maoista...



Cuba é vista actualmente como estando a evoluir para o modelo liberal chinês, que utiliza componentes capitalistas para enfrentar com sucesso o mercado global - evitando assim o erro que a URSS cometeu. A minha opinião sobre a construção do socialismo segue a vulgata de não haver um modelo rigido aplicável em todas as circunstâncias a todos os paises. Cada modelo obriga-se a estudar as idiossincrasias locais e a evoluir em conformidade. Mesmo havendo diferenças de opinião entre partidos socialistas, existem de facto relações de intercâmbio entre eles, em que se trocam experiências. É o caso por exemplo de Che Guevara quando visitou Pequim, ou de GIAP, um perfeito modelo maoista, quando recebeu Fidel Castro...



http://warriors-hall-of-fame.blogspot.pt/2011/09/vo-nguyen-giap-1911-master-of-guerrilla.html 



http://www.drben.net/files/China/Source_Materials/China_Politics/Communism/Mao_Zedong/Che_Guevarra-Mao_Zedong-BJ-Nov1960.jpg

abç

Marco disse...

Concordo contudo o que disseste mas o Dr Garcia Pereira disse mesmo isso...

http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1377539&seccao=%C1sia

Sobre Cuba a tua opinião sobre o Raul Castro não é favorável?
Eu acho que ele pode por Cuba no rumo do comunismo, apesar de obviamente admirar o Fidel. ex anónimo

proletkult disse...

caro xatoo, penso que não é correcto equiparar os modelos económicos de Cuba e China, conquanto se situam em esferas opostas: a China como superpotência capitalista global, andando em passos largos para o imperialismo, e Cuba como um pequeno mercado periférico, esperando (à sombra do bloqueio) que alguma superpotência a venha resgatar do limbo em que se encontra e accionar, em definitivo, o processo de acumulação capitalista.
é evidente que o socialismo cubano já lá vai, se é que alguma vez ele existiu realmente (duvidemos sempre de quem era anticomunista um dia e comunista no seguinte).

para terminar, uma peuque na correcção: o termo "social fascista" já antes havia sido utilizado pelos comunistas, referindo-se aos sociais democratas e aos amarelos no geral, aquando do chamado "terceiro período" da Comintern (1928-35).