24 de Outubro de 1970. Salvador Allente é eleito Presidente da República do Chile. Houve festa da rija, a "esquerda" embandeirou em arco. Por coincidência estreia hoje o DOCLisboa, onde um ciclo dos principais documentários a exibir versa precisamente sobre "O Golpe Militar no Chile: 40 Anos depois 1973–2013". Uma questão que não irá estar em cima das moleirinhas assentes nas poltronas da Culturgest será esta: que acontece quando um regime de esquerda que se diz vitorioso por ganhar eleições organizadas pela burguesia se nega a aplicar a "Ditadura do Proletariado"?... naturalmente, as facções opostas conjugam esforços e aplicam implacavelmente a "Ditadura da Burguesia"
As investigações sobre os assassinios de militantes de esquerda no Chile do ex-"Presidente" Augusto Pinochet ainda continuam, 40 anos depois. Ainda esta semana "um juiz chileno acusou 79 ex-agentes da policia secreta da ditadura pela morte e desaparecimento de 8 militantes comunistas entre 1976 e 1977. O regime de Pinochet, entre 1973 e 1990 foi criminosamente implacável com os opositores, deixando um registo de mais de 3.200 mortos e 38.000 vítimas de tortura" (DN, 23 Outubro)
Estará o Chile de hoje, formal e pomposamente democrático, liberto do fascismo? as raizes do mal, como regra assumida pelo sistema de dois partidos únicos, não são de todo expurgadas. Duas mulheres concorrem nas próximas eleições de Novembro à Presidência: pela esquerda a regressada Michelle Bachelet, pela direita Evelyn Matthei ministra do Trabalho nomeada pela União "Democrática" Independente. As duas mulheres são amigas de infância; as sua familias conviviam intimamente entre si. Ainda hoje Bachelet trata o pai de Evelyn carinhosamente por "tio Fernando", que é nada mais nada menos que o General Fernando Matthei, ex-ministro da Saúde e membro da Junta Militar da ditadura de Augusto Pinochet. Quando o socialista democrático Allende venceu as eleições em 1970 iniciou-se a clivagem nas Forças Armadas chilenas. Na década de 60 o então capitão Fernando Matthei prestava serviço no quartel de Antofagasta. Entre os outros 60 oficiais estava o seu amigo, também capitão, Alberto Bachelet, pai da jovem Michelle.
Nas eleições de 1970, os dois amigos seguiram caminhos diferentes. Bachelet votou em Salvador Allende. Matthei, no conservador ex-presidente Jorge Alessandri e a Time Magazine titulava em grandes parangonas haver "uma ameaça Marxista nas América Latina". Depois da vitória Alberto Bachelet foi promovido a General e ocupou o cargo de Ministro da Distribuição Alimentar no governo de Allende. Passados 3 anos, no dia 11 de Setembro de 1973 trabalhava no Ministério da Defesa, em Santiago do Chile. Por se negar a apoiar o golpe, foi preso naquela mesma manhã. Em Março de 1974 foi levado para os calabouços da Academia da Força Aérea, transformada em campo de concentração de prisioneiros, onde depois de uma sessão de tortura na manhã do dia 12 morreu de paragem cardíaca. Tinha 51 anos. Era então director dessa mesma Academia o Brigadeiro Fernando Matthei, que hoje é vivo e jura a pés juntos nunca se ter metido em nada. O resto da história, todo já todo o mundo sabe. Sempre discreta, a ponto de conviver alegremente com o assassino do pai, Michelle Bachelet foi nomeada ministra de Saúde, depois da Defesa, e acabou eleita Presidente da República em 2006. Quando abandonou o cargo em 2010 Bachelet tinha um indice de popularidade superior a 80% - hoje tem entre 60% a 43% de previsão de votos nas sondagens; Feita a amálgama ao centrão, os "dois lados opostos" reencontram-se mais uma vez... nas Presidenciais.
adenda
Com a devida vénia, passa-se para o rosto deste post o comentário deixado por um amigo: «Só os canalhas ou os tolos podem pensar que o proletariado deve conquistar primeiro a maioria em votações realizadas sob o jugo da burguesia, sob o jugo da escravidão assalariada, e depois conquistar o poder. Isso é o cúmulo da estupidez ou da hipocrisia, é substituir a luta de classes e a revolução por votações sob o velho regime, sob o velho poder» V.I Lenine 1919. Eis tudo.
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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1 comentário:
«Só os canalhas ou os tolos podem pensar que o proletariado deve conquistar
primeiro a maioria em votações realizadas sob o jugo da burguesia, sob o jugo da
escravidão assalariada, e depois conquistar o poder. Isso é o cúmulo da estupidez ou
da hipocrisia, é substituir a luta de classes e a revolução por votações sob o velho
regime, sob o velho poder» V.I Lenine 1919
Eis tudo.
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