«Não podemos aceitar a reedição dum negócio das arábias à custa da boa fé ingénua e da desinformação do incauto cidadão.» (Manuel Pinto Coelho, Médico, doutorado em Ciências da Educação).
Tariq Ali: O sistema, como funciona em todo o mundo capitalista, é basicamente não a favor de serviços de saúde pública, mas favoráveis a soluções privatizadas, instalações privatizadas, o que significa que na maior parte países cada vez mais tem-se um sistema de duas ou três camadas. Há hospitais de muito boa qualidade para os ricos e pessoas que podem pagá-los, há uma segunda camada mais para pessoas da classe média que também podem pagar mas não tanto e suas instalações não são tão boas e a seguir há hospitais públicos, não só na África mas em países como a Índia, Paquistão e Sri Lanka, os quais estão numa desgraça total e nada é feito acerca disto a nivel global (pela comunidade internacional) porque não é uma prioridade.
Allyson Pollock: como é que issso se poderá reconstruir quando realmente há directores estrangeiros a chegarem e parceiras público-privadas e gradnes fluxos de dinheiro a saírem e não há qualquer mecanismo de redistribuição, porque redistribuição significa que se está a tentar construir uma sociedade mais justa e a tentar colocar os recursos outra vez no país (...) Mas vacinas não são realmente o que estes países precisam. Todas as grandes reformas, todos os grandes colapsos de doenças infecciosas epidémicas não foram realmente debelados com drogas e vacinas, foram-no através de medidas redistributivas, as quais incluíam saneamento, nutrição, boa habitação e na verdade, acima de tudo, uma democratização real. E com isto chega-se à educação e todas as outras medidas (...) ONGs muito poderosas, como a GAVI – Global Alliance for Vaccine Initiative, as quais em conjunto com grandes companhias como a GSK e Merck, estão determinadas a conseguir patentes; e a razão porque elas gostam de vacinas é porque elas são um meio de imunização em massa e isto significa números e números significam dinheiro. E naturalmente estão a ser pagas pelo ocidente e governos ocidentais quando este dinheiro podia muito mais facilmente fluir para os próprios governos [africanos] para reconstruírem os seus sistemas de saúde porque estamos a falar acerca da reconstrução da infraestrutura de saúde pública (...) isto começa com a economia, começa com o que está a acontecer à terra, começa com o facto de o óleo de palma, o cacau e a borracha serem importantes culturas para a obtenção de dinheiro e a terra, a sua propriedade, incluindo os serviços públicos que lhes estão associados terem sido transferidos para investidores e accionistas estrangeiros.
Tariq Ali: Será perfeitamente legítimo fazer enormes lucros a partir das necessidades básicas de pessoas comuns?
Allyson Pollock: Isto começou com uma indústria farmacêutica e da produção de vacinas que acha ser perfeitamente aceitável fazer lucros com elas; então porque não deveríam agora fazer lucros com as doenças e os cuidados prestados? Naturalmente o SNS na Inglaterra foi estabelecido para ser redistributivo. É financiado através da tributação, a qual deve ser progressiva e o dinheiro deve fluir de acordo com o necessário. Mas o que estamos a começar a ver agora é que o dinheiro fluirá de acordo com as necessidades dos accionistas e não dos pacientes, e isso é uma preocupação muito real. Naturalmente, isto é tudo questão de vontade política. Tudo pode ser revertido mas é basicamente político, para a democracia e o povo fazerem com que as suas vozes sejam ouvidas".
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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