Um dos exemplos mais subliminares de filosemitismo ocorreu na semana passada quando os ingleses elegeram o beduíno de ascendência turco-russófona Boris Johnson como Mayor da cidade de Londres. O anterior autarca, Ken “leRouge” Livingstone, tinha desafiado os deuses, quando comparou um repórter do jornal judeu “Jewish Evening Standard”, que o importunava, “a um guarda de campo de concentração”. Tony Blair ironicamente disse dele que, “como recompensa pela democracia que trouxe à Grã-Bretanha (sic) o partido lhe tinha pago com Ken”, um acérrimo crítico para a plateia das intervenções bélicas em que Blair envolveu o país. De facto Ken Livingstone foi um caso concreto de abandono pelo seu partido. Mas, longe de ser o Labour que seleccionou o candidato errado (que cumpriu dois mandatos e se propunha a um terceiro), foi Ken quem oportunisticamente escolheu o partido errado. Anteriormente, ele deveria ter batido com a porta prosseguindo sózinho; nunca deveria ter permanecido no partido que liderou a entrada da Grã Bretanha nas guerras do Afeganistão e do Iraque, oferecendo um suporte acrítico aos criminosos racistas do Estado de Israel.
Mas para dançar o tango são precisos dois que se entendam bem dentro do mesmo par. E pela oposição o conservador meio desaparafusado Boris Johnson na entrevista que deu a outro jornal judaico “The Jewish Chronicle” fala por si: “Sobre o facto de eu ser judeu, eu tenho alguma ascendência judaica, mas não tenho bem a certeza de quanto sangue judeu possuo!, de qualquer forma estou muito orgulhoso disso, muito orgulhoso”. A sua trisavó foi uma escrava circassiana, o filho Ali Kemal foi ministro do Interior durante o Império Otomano até à chegada dos ingleses no fim da 1ª guerra mundial de quem descendem geneticamente os cabelos loiros e olho azul dalguns dos modernos “semitas”, o avô Elias Avery Lowe, nascido em Moscovo, foi o primeiro a chegar a Hemley (UK) onde prosperou tornando-se um rico comerciante (distrito por onde aliás Boris foi eleito deputado) ligado à fundação da cadeia de lojas Marks&Spencer; e por fim Alexander Boris de Pfeffel Johnson (o Mayor) nasceu, de mãe inglesa, em New York (EUA) um destino tradicional da diáspora semita.
Após tantos cruzamentos multiculturais, no final da linha de montagem, quem é judeu e quem não é judeu?; essa é a questão, como já inquiria da base da pirâmide social o desafortunado Shylock inventado por Shakespeare – resposta evidente: hoje em dia adquire “judaismo puro” quem se reclama do apoio ao Sionismo, a doutrina de Theodore Herzl que coincide precisamente com a mesma politica expansionista que é levada a cabo pelo imperialismo dos Estados Unidos.
Segundo a tradição herdada de José Carvalho de Sebastião e Mello, conceito depois reforçado pelo arménio Calouste Gulbenkian e outras vítimas refugiados da 2ª Grande Guerra em exílio dourado, nós por cá, semitas, mouriscos ou judeus, também somos alegadamente muitos, sionistas é que somos poucos:
"...O rei de Portugal D. José I (à esquerda na gravura) tinha ordenado que todo o português que tivesse sangue judeu deveria usar um chapéu amarelo. Alguns dias, mais tarde, o Marquês de Pombal (à direita) apresentou-se na corte com três desses chapéus debaixo do braço. O rei, surpreendido, perguntou-lhe: “O que quereis fazer com tudo isso?” Pombal respondeu que queria obedecer às ordens do rei. “Mas - disse o rei - porque tendes três chapéus? “ - “Tenho um para mim - respondeu o marquês - outro para o grande Inquisidor e um para o caso de Vossa Majestade desejar cobrir-se”
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