
No dia 1 de Março Álvaro Uribe anuncia ter aniquilado em combate o nº 2 das FARC Raul Reyes junto com mais 15 guerrilheiros perseguindo-os pelo interior do território do vizinho Equador. Dois dias depois o Presidente Rafael Corrêa desmente a notícia: Uribe mentiu ao dizer, num primeiro telefonema, que os guerrilheiros haviam violado a fronteira enquanto trocavam tiros com o exército colombiano. Descobriu-se depois que o grupo estava de facto acampado em território equatoriano e não chegou a disparar um único tiro. Os guerrilheiros das FARC, em pleno processo de negociação para libertação de reféns foram abatidos enquanto dormiam por helicópteros armados que dispunham de meios informáticos de detecção ar-terra, (como se sabe, tecnologia fornecida pelos Estados Unidos). No dia 3 são encontrados pelas tropas equatorianas 24 mortos no terreno, 9 deles, presume-se, de reféns. Nesse mesmo dia o exército da Colômbia anuncia a entrega de 3 laptops, 3 pen-drives e 2 discos rígidos ao “Grupo Investigativo de Delitos Informáticos da Policia Judicial Colombiana”.

Nos dias seguintes a imprensa, nomeadamente os ultra- conservadores El País e Miami Herald, publicam dados contidos nos “ficheiros capturados” que relacionam as FARC com Chávez, interpretando livremente o nome de código “Angel” como sendo o presidente Chávez, ou um seu representante, e o número “300” como sendo 300 milhões de dólares, presunções na verdade sem qualquer fundamentação concreta. Em alguns outros ficheiros aparecem referidos militares e políticos brasileiros como estando envolvidos em trocas de armamento e dinheiro com narcotraficantes colombianos, mas esses são dados que parecem não interessar aos jornais. O próprio Uribe está acossado e a braços com escândalos que o envolvem a ele, ao seu partido e membros da sua família em relações íntimas com o cartel de Medellín, Pablo Escobar e os irmãos Ochôa. As denúncias do envolvimento com o narcotráfico, cujos cartéis são inimigos das FARC baseia-se num relatório da Universidade George Washington que por sua vez se apoia numa investigação confidencial da U.S. Defense Intelligence Agency. Os grandes Media disseram com o estardalhaço de praxe que “os E-mails mostram a ligação directa de Chávez com as FARC” escreve o El País, contudo não há possibilidade de ver qualquer E-mail guardado, ou sequer mencionado no relatório da Interpol.

"a Interpol concluiu que não houve nenhum tipo de alteração, repito, nenhum tipo de alteração de dados”, segundo disse o Secretario Geral da Interpol Ronald Noble, um ex-dirigente governativo dos EUA , acompanhado de Bernhard Otupal chefe do grupo de especialistas forenses; de María del Pilar Hurtado Afanador, Directora do Departamento Administrativo de Segurança (DAS) colombiano, e do General Óscar Adolfo Naranjo Trujillo, Director Geral Nacional de Polícia na Colômbia. Como se vê “independência” e isenção de “spin” na análise é o que mais não falta aqui. “Ninguém poderá acusar a Colômbia de ter manipulado as provas (…) e a Policia da Colômbia certifica de facto que os computadores entregues pertenciam a Raul Reyes” concluiu Noble
Se fizermos uma busca no “google” sobre as palavras chave “Farc” e “Chávez” aparecem cerca de dois milhões de resultados, mais de 90 por cento dos quais afirmando que “os dados entregues à Interpol não foram manipulados”. E no entanto os conteúdos informáticos foram publicados na imprensa entre os dias 3 e 11 de Março, o que quer dizer que os ficheiros foram, pelo menos abertos. E mais que isso, o relatório da Interpol apresentado um mês depois em 15 de Maio o iria referir:
“A peritagem forense realizada pela Interpol revelou que entre 1 e 3 de Março de 2008, 48.055 arquivos foram criados, abertos, modificados ou suprimidos pela policia da Colômbia”. É isto que se pode ler no parágrafo 41 cujo conteúdo está na página 33 do relatório forense da Interpol sobre os ordenadores e dispositivos das Farc diosponibilizados pela Colômbia. E se ainda fosse pouco, 4.245 arquivos foram criados, decerto por engano devido à celeridade com que foram "inspeccionados", com datas futuras que vão desde 5 de Abril de 2009 até 16 de Outubro de 2010.
a Interpol admite, no documento, que a verificação feita pelo organismo não implica a “validação da exactidão dos arquivos de usuário que contém, da interpretação que qualquer país possa fazer dos ditos arquivos, nem da sua origem”. Ou seja, excepto que os arquivos contidos nos laptops apresentados pela Colômbia não sofreram alterações, a Interpol não pode afirmar mais nada, nem mesmo se os tais arquivos são autênticos. Um grupo de peritos de diversas nacionalidades desacredita o relatório; e até Phillip McLean, um ex-diplomata americano que trabalha hoje no Centro para os Estudos Estratégicos e Internacionais afirmou que “é difícil chamar seja o que for que sair daqui de prova”; no que é acompanhado em editorial pelo Guardian
.
Sem comentários:
Enviar um comentário