Pesquisar neste blogue

quarta-feira, maio 28, 2008

uns intelectuais impensáveis

Quem hoje sacar a folha que capeia o Público do resto do pasquim e a escancarar de par em par,

vis a vis a pagina 2 com a 47, tem duas surpresas – à esquerda, uma jovem que protesta, a propósito do espólio sacado através dos combustíveis, contra os “ladrões de auto-estradas” e mesmo ao lado o famigerado Barroso, que escreve uma redacção sobre um obscuro “intelectual que todos deveríamos apreciar no debate civilizado de ideias”.

Não se faz a mínima de quem seja esse de tal Carlos Espada, o elegiado, mas para o ser pelo Barroso, que esse sim, conhecemos de gingeira como “puppy intelectual bushista”, é porque o homem de certeza não presta. Cheira-me que seja um desses obcuros portugueses que se notabilizam no guiness por enfardar não sei quantas catadupas de pastéis de nata à borla pagos pela confraria de Belém, mas como no concurso do Malato, não estou certo.

Olha que dois. Para conferir alguma credibilidade à subida ao mesmo limbo scolariano “da figura pública” retrata-se o mânfio tendo como pano de fundo um emoldurado Churchill, o último maratonista da libra de ouro. Divertido, não? – porém a pouca vergonha desaba em desvergonha completa quando o Durão se enfia pela citação de personagens que justifiquem “a ruptura (destes pândegos) a favor dos direitos de cidadania” – que puta de aldrabice! – citando: “o acto de ruptura exige, normalmente, um porto de abrigo. (é mesmo em Belém) João Carlos Espada encontrou-o no pensamento liberal clássico, onde chegou através de três dos maiores autores do século XX, Popper; Schumpeter e Aron. Mas este tipo de remédios estragados têm explicação honesta:

As revoluções científicas de Thomas S. Kuhn

A teoria central de Kuhn é que o conhecimento científico não cresce de modo cumulativo e contínuo. E assim se passa também, no caso em apreço, com as práticas políticas dominantes adquiridas e instaladas. Ao contrário, esse crescimento é descontínuo, opera por saltos qualitativos, que não se podem justificar em função de critérios de validação do conhecimento científico. A sua justificação reside em factores externos, que nada têm a ver com a racionalidade científica e que, contaminam a própria prática científica. A importância atribuída por Kuhn, aos factores psicológicos e sociológicos na organização do trabalho científico, constitui um rude golpe na "imagem da ciência que se foi consolidando desde o século XVIII e que tende a identificar a cientificidade com a racionalidade - senão com a racionalidade «no seu todo», pelo menos com a racionalidade «no seu melhor»." A obra de Kuhn desencadeou um autêntico terramoto na filosofia da ciência e inaugura um discurso inovador, que privilegia os aspectos históricos e sociológicos na análise da prática científica, desvalorizando os aspectos lógico-metodológicos que ainda encontramos no discurso epistemológico popperiano.

Os saltos qualitativos preconizados por Kuhn, ocorrem nos períodos de desenvolvimento científico, em que são questionados e postos em causa os princípios, as teorias, os conceitos básicos e as metodologias, que até então orientavam toda a investigação e toda a prática científica. O conjunto de todos esses princípios constituem o que Kuhn chama «paradigma». Procurando ser fiel ao autor, utilizamos o conceito de paradigma em dois sentidos fundamentais. Num sentido lato, o paradigma kuhniano refere-se naquilo que é partilhado por uma comunidade científica, será uma forma de fazer ciência, uma matriz disciplinar. Uma comunidade científica caracteriza-se pela prática de uma especialidade científica, por uma formação teórica comum, pela circulação abundante de informação no interior do grupo e pela unanimidade de juízo em assuntos profissionais. Em sentido particular, o paradigma é um exemplar; é um conjunto de soluções de problemas concretos, uma realização científica concreta que fornece os instrumentos conceptuais e instrumentais para a solução de problemas. O paradigma é, neste sentido, uma «concepção de mundo» que, pressupondo um «modo de ver» e de «praticar», engloba um conjunto de teorias, instrumentos, conceitos e métodos de investigação; noutro caso, o conceito é utilizado para significar um conjunto de «realizações científicas concretas» capazes de fornecer "modelos dos quais brotam as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica"."Assim, a descrição de Newton do movimento dos planetas (Lei da Gravitação Universal), ou a descrição de Franklin da garrafa de Leyden são, respectivamente, exemplos de paradigmas para a prática da mecânica e para a ciência da electricidade. Kuhn também designa estes «modelos concretos» como «modelos exemplares».

O desenvolvimento da ciência madura (ou da politica) processa-se assim em duas fases, a fase da ciência normal e a fase da ciência revolucionária. A ciência normal é a ciência dos períodos em que o paradigma é unanimamente aceite, sem qualquer tipo de contestação, no seio da comunidade científica. O paradigma indica à comunidade o que é interessante investigar, como levar a cabo essa investigação, impondo como que um sentido ao trabalho realizado pelos investigadores e limitando os aspectos considerados relevantes da investigação científica. O grupo limita-se a resolver um conjunto de incongruências que o paradigma lhe vai fornecendo, toda a investigação é realizada dentro e à luz do paradigma aceite pela comunidade. Nesta fase da ciência normal, o cientista não procura questionar ou investigar aspectos que extravasam o próprio paradigma, devemos dizer que a curiosidade não é propriamente uma característica do cientista, este limita-se a resolver dificuldades de menor importância que vão permitindo mantê-lo em actividade e que possibilitam simultaneamente revelar a sua engenhosidade e a sua capacidade na resolução dos enigmas. "Os problemas científicos transformam-se em puzzles, enigmas com um número limitado de peças que o cientista - qual jogador de xadrez - vai pacientemente movendo até encontrar a solução final. Aliás, a solução final, tal como no enigma, é conhecida antecipadamente, apenas se desconhecendo os pormenores do seu conteúdo e do processo para a atingir".Deste modo, o paradigma que o cientista adquiriu durante a sua formação profissional fornece-lhe as regras do jogo, descreve-lhe as peças a utilizar e indica-lhe o caminho ou objectivo a atingir. É evidente que o cientista, nas suas primeiras tentativas, pode cometer falhas, o que é perfeitamente natural, no entanto, tal facto é sempre atribuído à sua impreparação ou inépcia. Isto significa, que as regras fornecidas pelo paradigma e o próprio paradigma, não podem ser postas em causa, já que o paradigma é o sentido de toda a investigação e o próprio enigma a investigar não existiria sem ele.

Esta crença exacerbada no paradigma, demonstra-nos que "o trabalho do cientista (ou do politico) exprime uma adesão muito profunda ao paradigma". É evidente que uma adesão deste tipo não pode ser posta em causa ou ser abalada levianamente. A própria comunidade, na sua prática quotidiana, vai reforçando essa adesão a todo o momento. O que a experiência claramente demonstra, é que o cientista, individualmente ou em grupo, vai conseguindo resolver os enigmas, com maior ou menor dificuldade, à luz do paradigma vigente. Neste sentido, não devemos ficar admirados com a profunda resistência manifestada pela comunidade à mudança de paradigmas. O cientista, não está minimamente interessado em provocar um abalo, na estrutura do edifício que de certa forma o "alberga" e dá sentido ao seu trabalho profissional. O cientista é humano; a protecção, a confiança e de certo modo a segurança, são condições que todo o ser humano deseja alcançar. Todas estas condições, são fornecidas ao cientista pelo paradigma. "O que eles defendem nessa resistência é afinal o seu modo de vida profissional"
ler o resto:
"Ao cientista, (ou politico) «normal» pode suceder que o problema de que se ocupa, não só não tem solução no âmbito das regras em vigor, como tal facto não pode ser imputado à impreparação ou inépcia do investigador"
.

4 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.