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quarta-feira, maio 14, 2008

o Maio de 68 francês

A nível global não se pode esquecer o que antes se passava na Califórnia em matéria de revolução de costumes e atitudes (já existia a pílula, o flower power, San Francisco), a contestação geral contra a Guerra do Vietname, o Free Speech Movement de Martin Luther King, as lutas anti-coloniais em África e na América Latina, a Grande Revolução Cultural Proletária na China (1966), percebida no Ocidente como uma manifestação anti-autoritarismo em que “a juventude rebelde partia ao assalto do quartel general da burguesia instalada no poder, guiada pela obra teórica do Maoismo; o Guevarismo como uma opção independente da linha estatal da URSS entre as duas ideologias comunistas em confronto aberto; os Beatles, as minisaias e Dylan com “os tempos que estão em mudança”, Mandela como figura mítica na luta contra o apartheid racial, a ultrapassagem do neo-realismo por Rosselini, Antonioni e Fellini e a Nouvelle Vague com Jean-Luc Godard à cabeça com “o Acossado” (1959) – a vida socialmente precária na emergente diferenciação de classes como ficou indelevelmente registado nos “Ladrões de Bicicletas” de Vittório de Sica. Em Portugal, Espanha e Grécia pontificam ditaduras de carácter militarista como restos degradados do finado fascismo europeu.
É aqui que entra o surrealismo pequeno burguês de 68, que vem equiparar o regime de DeGaulle, que tinha recusado admitir bases militares norte americanas em território francês, com tenebrosas ideias de independência nacional hostis ao mercado livre. A França tinha ideias próprias sobre o seu próprio imperialismo (conforme Portugal tinha a sua própria ideia sobre a colonização ultramarina) que o centro de decisão capitalista em plena colonização americana na Europa precisava inverter.



Para nós eram tão risiveis os fatos escuros dos ministros como a sisudez operária do PC e dos maoistas.

Explodiríamos desordenadamente (...) contra os controleiros de serviço, distribuindo flores e balões nas ruas” – era mesmo disso que os revolucionários precisariam, Manuel António Pina.

No final dos idos de Fevereiro/Março de 1968, um jovem judeu vindo da Alemanha, dispondo de uma bolsa de estudo, Daniel Cohen-Bendit, atravessa a fronteira para França e dirige-se para a Faculdade de Nanterre. Na verdade o Maio 68 começou dois meses antes por um motivo corriqueiro: a reitoria da instituição, com doze mil alunos, tinha publicado uma norma proibindo os rapazes de visitar as raparigas nos dormitórios. Um grupo de cem alunos concentrou-se e invadiu a secretaria da escola. Assustado com a represália, o reitor Pierre Grappin suspendeu as aulas e chamou a polícia. De início o incidente foi apenas um facto isolado.
No 1º de Maio, como sempre, grandes manifestações operárias encabeçadas pelas centrais sindicais reinvindicam melhores condições de trabalho. Nesse ano a luta é particularmente dura, porque coincide com a greve geral declarada nas fábricas da Renault. No dia 2 após distúrbios continuados em Nanterre a Universidade é encerrada; oito estudantes são chamados a Conselho disciplinar, entre eles Cohen-Bendit. Começava aí a caminhada para a glória deste jovem, “imortalizado” como “Dany Le Rouge”, que como se veria poucos anos depois era mais para o verde, vindo a ser um bem instalado burguês no Parlamento alemão.

Um grupelho neofascista, o Occident, formado por ex-pára-quedistas, , apelava para a ignorância política e provocava os seus adversários. Enchiam as paredes da universidade com grafitis provocatórios (que os sonsinhos esquerdinhas de agora dizem ser libertários) e que ficariam famosos: “Aqui termina a liberdade!”, “Nem Deus nem Mestres”, “O Vietcong Vencerá”, “Somos todos raivosos”, "Sou Marxista tendência Groucho", e o mais célebre de todos, uma obra prima de anti-comunismo: “Corre, camarada, o velho mundo está atrás de ti!...
No dia três, os estudantes de Nanterre rumam a Paris com o pretexto de organizar uma manifestação na Sorbonne. No local, corre o boato de que os provocadores do Occident pretendiam invadir a escola. De imediato grupos de adversários conotados com as inúmeras tendências radicais de esquerda começam a retirar mesas das salas de aula e a organizar comícios e barricadas. Aparecem piquetes de alunos armados. Estalam conflitos entre grupos de estudantes e a reitoria pede a intervenção da policia; os lideres estudantis são presos junto com mais 596 alunos. A Sorbonne é encerrada. Como sinal de protesto pelas detenções, começam os confrontos de rua no Quartier Latin para onde é enviada a policia de choque.
(continua)

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