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sábado, outubro 25, 2008

DocLisboa 2008 (VIII) Sinai Field Mission

A seguir à crise no Canal do Suez em 1956, quando Israel atacou o consulado americano em Alexandria como forma de pressão para envolver os EUA numa declaração de guerra, o ponto de viragem na ascenção do poder de Israel na região do Médio Oriente foi a “Guerra dos 6 Dias” em 1967 contra as forças árabes, unidas no sonho de uma poderosa República Árabe Unida (a RAU que representaria mais de 1 bilião de pessoas) com o Egipto de Nasser e a Síria na vanguarda – que já tinham sido derrotadas militarmente em 1967 e voltaram a sê-lo em 1973 na Guerra do Yom-Kippur com a subsquente ocupação da peninsula do Sinai, dos Montes Golan e de Jerusalem, a primeira devolvida posteriormente aos egipcios com um governo domesticado, mantendo-se porém o segundo território 41 anos depois ainda ocupado e o estatuto de Jerusalem por definir.

"Sinai Field Mission"

Incluido na retrospectiva de Frederick Wiseman (EUA, 1978) o documentário foca a história da missão de paz da ONU no deserto do Sinai iniciada em 1976 que pretendia gerir a contenção de forças militares de ambos os lados, Israelitas e Egipcios, naquela terra de ninguém na linha de demarcação das hostilidades. Nenhuma das forças em presença sob a égide da ONU possuia capacidade tecnológica para ser eficaz na vigilância no terreno. Foi então decidido que os Estados Unidos formassem uma unidade especial encarregue da manutenção do equilibrio por forma a que não fossem possiveis novas confrontações, deliberadas ou ocasionais. Era uma força americana desarmada em “missão de paz” (de crachat de pombinha branca no braço) - a Sinai Field Mission” (SFM) como ficaria conhecida, foi a primeira missão dos EUA como “força independente” – constituida por 14 militares de patente e por 163 funcionários da empresa privada E-Systems sedeada no Estado do Texas (hoje integrada na Rayteon), força que custou, a preços da época, 11,3 milhões de dólares no primeiro ano. Instalado um sofisticado sistema de vigilância electrónica que cobria toda a terra de ninguém entre as duas partes, e fazia um apertado controlo sobre os movimentos de viaturas e pessoas em toda a região, a gestão da logistica, a satisfação das necessidades de lazer, o aborrecimento, a rotina dos procedimentos legais naquele lugar inóspito depressa se converteu naquilo que é habitual: a fusão entre a missão militar e o grupo civil reunidos para atingir um determinado objectivo que passa a ser secundário face à desproporcionada e burocrática máquina montada. O quotidiano do grupo (uma pequena amostra da América fundida entre civis e militares) destacado no deserto do Sinai, num “universo militar obsessivamente focado na guerra – o que se torna irónico nos momentos prosaicos de convívio em que nada de bélico se adivinha”. A missão foi considerada um sucesso e, ponto final, o documentário de Wiseman não passa disto.

A chave para a compreensão da trama está noutro lado: na já então bem visível privatização da guerra e no uso de empresas de tecnologia avançada, que por sua vez já tinha também antecedentes: durante a Guerra do Sinai em 1967, os Estados Unidos providenciaram a Israel, via informação recolhida por aviões de alta altitude a posição exacta de todas as unidades do exército do Egipto – assim Israel ficou habilitada com a possibilidade de aniquilar o grosso das tropas árabes e de destruir essas unidades usando a artilharia e a aviação. Depois disto, as unidades móveis como a “Shaked” ou a “Unit101” comandadas por Ariel Sharon avançaram pelo Sinai até ao Canal do Suez (que garantia o controlo da livre circulação dos petroleiros) matando todos os soldados egipcios que encontraram, dezenas de milhar de homens circunscritos àquela região cercada, os quais já se tinham rendido ou estavam escondidos transidos de medo. Este ataque de Israel relaciona-se com outro crime de guerra levado a cabo pelos israelitas: o ataque (34 mortos e 172 feridos) ao navio americano “USSLiberty”, que mais não era que uma central electrónica de vigilância estacionada em frente da costa do Egipto, escutando comunicações e coordenando as informações obtidas pela aviação de espionagem. O ataque ao navio por forças israelitas foi uma forma de pressão de modo a levar os EUA a tomarem partido, a envolver-se na guerra. Isto não foi estudado na masterclasse orientada pelo judeu Frederick Wiseman no DocLisboa: mais um crime de guerra, neste caso contra o Egipto, que nunca foi julgado. Israel chamou-lhe à posteriori “um erro trágico”, e depois Lyndon Jonhson de imediato arquivou o caso.

Afinal de contas, o deserto onde se eleva o Monte Sinai é sagrado, embora seja só areia. É o local por onde, diz a fábula, o povo eleito vagueou durante 40 anos até ser guiado por Moisés até à terra prometida - o Instituto Shalom Hartman de Jerusalem ensina de como, peregrinando até ao Sinai, existem três maneiras de receber a revelação e os ensinamentos do Livro (a Torah). Alguém que pague a segurança do sítio. A “missão de Paz americana” de contenção ao Egipto e aos árabes em geral, actualmente ainda existe no terreno; operada a partir de um quartel general em Roma, vamos sabendo dela pelas actividades paramilitares: em 2007 caiu uma avião franco-canadiano entre El Gorah e Sharm el-Sheik morrendo todos os ocupantes. Passados todos estes anos, a paz não é evidente,,,

Sinai 1967, ponto de viragem, um documentário alternativo daqueles que o Doc não selecciona
51min.53seg.

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