Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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sexta-feira, outubro 03, 2008
O despertar de Brunilde, ou de como o Amor pode remover montanhas. A visão da Mulher ensinou a Siegfried o que era o Medo: “um feitiço ardente penetra o meu coração; um medo abrasador encandeia-me os olhos; uma vertigem entontece a minha cabeça, cambaleio - ¿ a quem pedirei, para minha salvação, que me ajude? ¡Mãe! ¡Mãe!¡ recorda-te de mim! – a mãe imaginada e inscrita no código genético é Erda, a natureza primitiva.
O momento em que o beijo de Siegfried desperta a donzela, converteu-se no momento mais solene de toda a tetralogia do “Anel dos Nibelungos” – Richard Wagner utiliza aqui o texto de um dos ritos pagãos mais antigos que nos foram transmitidos pelas mitologias germânicas e nórdicas, como os “Eddas” - a saudação solene do Sol nascente: “glória a ti, Sol! ¡glória a ti Luz! ¡glória a ti, Dia Luminoso!” enquanto a música vai recordando o leit-motiv do Destino, o “anúncio da morte” de Brunilde (a Valquíria adormecida, filha de Wotan o pai dos Deuses e de Erda a mãe da Terra e da Natureza).
Não é difícil imaginar em que fontes a ICAR e a Disney Corporation têm vindo a beber para nos efabularem tão sensíveis dramas?
Despertar e Morte como mistério da Vida, como enigma do Futuro, assim como também um momento de Redenção. Em pleno idílio no cume de uma montanha, numa “altiplanície” de esperanças, no cimo do Mundo – ante os nossos olhos (os de Siegfried) abrem-se uma vastidão de possibilidades quase infinitas, que prometem muito mais que a magnífica visão do Walhala – o castelo construído pelos Gigantes que utilizaram a mão de obra escravizada dos Nibelungos (uns gnomos de aspecto repugnante que vivem nas profundezas da Terra) sujeitando-os a trabalhar sem descanso para transformar o Ouro roubado ao Reno em lingotes de alto valor acrescentado pela incidência dos raios de Sol.
Como a água pôde falar pela boca das filhas do Reno, agora a Floresta, conspurcada pelos esgotos viscosos do petróleo e lixo, fala pela voz dos pássaros – “passarinho”, é muito difícil entender o teu canto (...) se conseguires entender a sua linguagem correctamente, serás o dono do Mundo”
No “Crepúsculo dos Deuses”, o último episódio da saga, quando tudo arde, Siegfried chegará à terra dos “gibichungos”, o mundo dos mortais normais,,,
a encenação está prevista para a próxima época 2009/2010 do São Carlos; veremos o que acontece entretanto, agora que músicos e coralistas estão a ser pagos com contratos precários a termo de três meses.
PS - obviamente, da obra de arte total de Wagner há quem apenas se interesse pela forma, o pensamento ultraconservador convive mal com qualquer forma de adaptação da mitologia clássica às personagens e situações contemporâneas, leia-se onde a ma$$a não seja a actriz principal – mas aprende-se sempre algo com eles, ao contrário deles, que não aprendem nada com a admirável encenação de Graham Vick
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