A vantagem da selecção de futebol de Angola ter sido posta no olho da rua logo antes dos quartos de final do torneio africano é a de evitar que os angolanos percam muito tempo a comemorar vitórias. Assim já ficam com tempo e cocuruto fresco para pensarem noutras coisas.
José Eduardo Agualusa no ensaio “O Príncipe Perfeito” que publica hoje no jornal “I” dá uma pista para um eventual assunto: “O único motivo que poderia levar José Eduardo dos Santos a sujeitar-se ao escrutínio popular e a todas as coisas mesquinhas e desagradáveis que, para alguém como ele, tal processo implica, seria conseguir o respeito da comunidade internacional”
mas para isso seria preciso que o famoso presidente vitalício Zedu (a bombar desde 1979) não tivesse disposto do apoio incondicional (e corruptor) da tal “comunidade internacional de negócios” para que a oposição tivesse sido aniquilada fisicamente e os sobreviventes comprados a peso do vil petro-ouro e instalados confortavelmente no arremedo de Parlamento. O regime está estável. Voltando a citar Agualusa: “José Eduardo dos Santos decidiu fazer-se eleger pelo directamente pelo parlamento, troçando da democracia, por uma razão simples: porque pode” (...) um diplomata português deu-me um conselho: você só tem problemas porque fala demais. Escreva os seus romances mas não ataque o regime (...) mais extraordinário é perceber como um regime totalitário consegue exportar o medo. Não já o medo de ir para a cadeia (...). Trata-se agora do medo de perder um bom negócio” – ou seja, (para cá de Isabel dos Santos) entre ricos e pobres alguém se há-de escapar, imagine quem!? por esta breve apresentação vista pelos olhos de um emigrante brasileiro acabado de chegar a Luanda:
A festa da oligarquia angolana este ano teve momentos menos animados. Com o país lançado numa grave crise de insolvência, cuja economia decresceu 2,9 por cento em 2009, o presidente dos Santos teve de pedir uma moratória da divida actual em Julho, e o governo viu-se obrigado a contrair um novo empréstimo ao FMI de 1.4 mil milhões de dólares em Novembro, o maior empréstimo alguma vez concedido pelo FMI a um país da África subsariana. O negócio da banca internacional no endividamento de países dependentes continua a florescer com a “crise”
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