O problema destes dois fedelhos políticos, o zapatero “de direita” e o sócrates “de esquerda”, duas metades de galo de aviário para apenas um poleiro (1), é que ambos são figurinhas impostas do exterior no controlo dos dois partidos social-democratas – os únicos admitidos por escrutínio à “corporate governance” pelas estruturas dos poderes globais dominantes (2). Não existe margem de autonomia nos governos nacionais para imporem o que quer que seja, que não seja assente sobre o valor real do trabalho.Na presente conjuntura Ignacio Ramonet desconstrói a social democracia como um ente moribundo (3), numa análise perfeitamente moderada cujo alcance não excede a recauchutagem dos partidos ditos socialistas por via da almejada coligação com a esquerda liberal pós moderna, acertando contudo no essencial:
“As recentes eleições demonstraram que a social-democracia europeia já não sabe dirigir-se aos milhões de eleitores vítimas das brutalidades do mundo pós-industrial engendrado pela globalização. Essas multidões de trabalhadores descartados, de novos pobres dos subúrbios, da geração de mil-euristas, de excluídos, de reformados em plena idade activa, de jovens precarizados, de famílias de classe média ameaçadas pela miséria. Meros empecilhos populares danificados pelo choque neoliberal… e para os quais a social-democracia não dispõe de discurso nem de remédios (…) Se faltava algum indício para demonstrar que os socialistas europeus são incapazes de propor umas politica diferente daquela que domina o seio da União Europeia, essa prova foi dada por Gordon Brown e José Luiz Zapatero quando apoiaram a vergonhosa re-eleição à presidência da Comissão Europeia o ultraliberal José Manuel Durão Barroso, o quarto homem da Cimeira dos Açores…
Em 2002 os sociais-democratas governavam em 15 paises da União Europeia. Hoje, apesar da crise financeira ter demonstrado o impasse moral, social e ecológico do ultraliberalismo, já só governam em 5 Estados (Espanha,Grécia, Hungria, Portugal e Reino Unido). Não souberam tirar partido do descalabro neoliberal; e os governos de três desses países – Espanha, Grécia e Portugal, atacados pelos mercados financeiros e afectados pela “crise da divida” – caíram no descrédito e impopularidade ainda maior quando começam a aplicar, com mão de ferro, os programas de austeridade e as politicas anti-populares exigidas pela lógica da União Europeia e seus principais descerebrados (...)Repudiar os seus próprios fundamentos tornou-se o habitual. Faz tempo que a social democracia europeia decidiu adoptar as privatizações, estimular a redução dos encargos do Estado à custa dos cidadãos, tolerar as desigualdades, promover o prolongamento da idade de reforma, proceder ao desmantelamento do sector público, ao mesmo tempo que incentivava as concentrações e fusões das mega-empresas e auxiliava os bancos. Levam anos aceitando, sem grandes remorsos, converter-se ao social-liberalismo. Deixaram de considerar prioritários alguns dos objectivos que faziam parte do seu ADN ideológico. Por exemplo: o pleno emprego, a defesa dos bens sociais adquiridos ou a erradicação da miséria (...)”
(ler aqui o artigo completo traduzido de Le Monde Diplomatique, France)
(1) "Simbiose: para a "esquerda" não há nada melhor que a "direita"
(2) "FMI entra na Zona Euro"
(3) "eurozona em crise; guerra financeira: o dólar segue o seu implacável avanço contra o euro"
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2 comentários:
O anúncio que o tio Balsemão convidou o Bolinhas para a reunião de Bilderberg parece querer dizer à oposição dentro do PPD/PSD que a escolha já está feita.
Ou então está quer dizer outra coisa qualquer, que só o experiente xatoo descortinará.
Manolo
lembre-se que nem sempre será obrigatório optar-se pelo óbvio (o convidado Aguiar-Branco)... não se esqueça que o outro também confiou os milhões a um sobrinho da Suiça (lol)
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