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segunda-feira, janeiro 06, 2014

a Revolução Russa de 1905

Cerca de 1905, por altura das primeiras grandes revoltas de operários na Rússia, o Czar Nicolau II era a 5ª maior fortuna jamais existente no mundo. Apenas quatro das maiores fortunas de sempre haviam superado a do Czar russo: o Mansa Mussa no século XIII, a família Rothschild a partir de 1744, e duas personalidades dos então emergentes Estados Unidos, John D. Rockefeller patrão da Standart Oil que no final do século XIX controlava 90% da produção de petróleo; e Andrew Carnegie, o todo poderoso magnata da indústria siderúrgica.

Peterhof, a residência de Verão do Czar
Antes da revolução de 1917, Nicolau II (1868-1918) é o riquíssimo herdeiro da tricentenária dinastia dos Romanov. Usa o titulo de Imperador à semelhança das mais ricas casas reais da Europa e a sua fortuna é estimada em 232 milhões de libras de ouro; é constituída por valores de diversa espécie. Uma ínfima parte está depositada em ouro nos bancos ingleses, suíços e novaiorquinos. Para além de um importante património próprio, as jóias da Coroa, a família imperial possuía quase todo o território da Crimeia, os faustosos palácios da autoria de famosos arquitectos europeus em São Petersburgo; uma colecção de obras de arte que ainda hoje preenchem por completo o gigantesco Museu Hermitage; a célebre colecção de “ovos” decorados a ouro e pedras preciosas encomendados ao joalheiro parisiense Fabergé. É sabido que os governos bolcheviques, em nome do povo, deitaram mão a tudo isto, quer dizer, ao que se encontrava em território nacional russo; já o maior mistério subsiste ainda hoje sobre a parte que se encontrava no estrangeiro. Sabe-se que, depois do governo revolucionário dos Sovietes se ter negado a pagar as dívidas contraídas em bancos ocidentais pelo Czar, durante a década de 1920, a começar pelo financiamento necessário para enfrentar a facção reaccionária que forçou a guerra civil, a maior parte das jóias foi vendida, acabando por ir engrossar a Coroa… da Grâ-Bretanha.

Em nenhum outro país da Europa se encontravam tão chocantes contrastes sociais. Nas cidades russas coexistiam par a par as bem iluminadas e luxuosas residências de banqueiros e magnatas industriais proprietários de enormes fábricas; enquanto nas aldeias afastadas dos centros urbanos as pessoas usavam sapatos tecidos em casa com serapilheira, cultivavam as suas courelas arrendadas com arados antiquados de madeira e faziam a colheita à mão com foices, entregando cerca de metade do que produziam aos proprietários das terras. Os monopólios, sempre em busca do lucro máximo, aproveitavam este sistema de servidão e atraso geral com a maior parte da população a viver na mais abjecta pobreza, para extraírem oportunidades ainda maiores para intensificar a exploração dos trabalhadores. A situação tornara-se insustentável. Surgiram jornais panfletários apelando à revolta – o Iskra (o Faisca). Nas cidades, os sectores mais conscientes do proletariado começaram a fazer greves de natureza política, e já não por razões pura e exclusivamente de ordem económica. Os camponeses adoptaram formas mais activas de protesto, tomando as suas terras pela força, em vez de se limitarem a apresentar petições.

No 2º Congresso do Partido Trabalhista Social-Democrata Russo, que se realizou em 1903, a ala mais à esquerda de Lenine conquistou a maioria dos votos assumindo a partir daí a designação de “bolchinstvo” (maioria=bolcheviques). Como primeiro objectivo, o Partido passou a inscrever no seu programa mínimo o derrube da autocracia czarista considerando como aliados todas as forças democráticas. Como programa a maior prazo, estabelecia-se a revolução socialista com o objectivo da tomada do poder pelos operários tendo em vista a modificação do Estado até à sua completa extinção, quando a sociedade já não estivesse dividida em classes sociais.

O descontentamento aumentou rapidamente depois do ainda maior agravamento das condições de vida após a derrota na Guerra Russo-Japonesa de 1904/5. Contudo, muitos operários, camponeses e populares mantinham ainda uma ingénua fé no Czar como “Pai do Povo”, e acreditavam que ele ignorava as condições em que viviam. Assim, durante uma das grandes greves levadas a cabo em Janeiro de 1905, uma enorme multidão de 150 mil trabalhadores marcharam em procissão até ao Palácio de Inverno, entoando o hino "Deus Salve o Czar", levando as suas bandeiras vermelhas e retratos do Czar para entregarem uma petição. Nicolau II, em vez de falar aos trabalhadores, partiu para o seu Palácio de Verão (nas fotos em cima à direita, Peterhof) deixando a capital entregue ao Alto Comando Militar. Ao passar na Rua dos Milionários a multidão foi emboscada e recebida com balas, mais de mil pessoas foram assassinadas e mais do dobro feridas.

O episódio ficou conhecido como o Domingo Sangrento. A noticia do massacre despertou uma amarga vaga de indignação entre os operários da Europa. Os comícios de solidariedade sucediam-se. Em Junho os marinheiros do couraçado Potemkin hastearam a bandeira vermelha dos revolucionários e navegaram até Odessa para apoiar uma greve geral. Em Outubro desse ano de 1905 nova greve geral envolveu cerca de 2 milhões de operários. O governo czarista venceria esta investida revolucionária, no que foi ajudado pelos países capitalistas ocidentais que fizeram ao Czar um grande empréstimo financeiro num momento crítico. A primeira revolução russa foi derrotada, mas o proletariado libertou-se das ilusões quanto ao papel patriarcal do Czar.

Uma grande guerra mundial depois, em que a burguesia russa se envolveu para defender a sua posição na cadeia de exploração entre potências, diria Lenine: “Sem o ensaio geral de 1905 a vitória da Revolução de Outubro de 1917 teria sido impossível



a Varshavyanka, uma canção tradicional dos operários polacos,
 transformou-se no hino da Revolução Russa de 1905

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