Pesquisar neste blogue

terça-feira, agosto 12, 2014

"Espiritos Santo: uma Quadrilha de Bandidos à Solta" (II)

“Enquanto o BES estrebuchava, a defunta administração ainda teve tempo de transferir três mil milhões de euros para o BES-Angola (BESA), também em iminência de falência, verba colossal que foi para ali transferida por Ricardo Salgado, na esperança de sacar ao presidente de Angola José Eduardo dos Santos o prometido mas nunca concretizado empréstimo de 5,9 mil milhões de euros, verba que, após a falência do BES de Lisboa, serviu para Dos Santos comprar o BESA, por apenas 2,9 mil milhões de euros, pois o quadrilheiro Salgado já havia enviado para Luanda a quantia de três mil milhões de euros (5,9 mm – 3 mm = 2,9 mm). A família de José Eduardo dos Santos é agora maioritária no capital do BES Angola. No negócio entre ladrões, o mais esperto é o que a final leva a melhor: e aqui, no caso do BES Angola, o ladrão mais esperto foi o angolano, que comprou, por 2,9 mil milhões de euros, um banco que tinha acabado de ver reforçado o seu capital com mais três mil milhões…(Luta Popular).

Entretanto, a somar à emissão de 1,4 mil milhões de euros em novas acções do moribundo BES autorizada pelo regulador Carlos Tavares, da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, cujo valor social se volatilizou em dois dias... e depois do Banco Central Europeu ter fechado a torneira da liquidez e ainda antes da decisão do resgate com dinheiro do Estado, o Banco de Portugal emprestou 3.500 milhões ao BES... precisamente o mesmo valor que o BES havia declarado de prejuizo no exercicio anterior.... (fonte)

“Banco Espirito Santo, a história Angolana”, segunda parte do artigo publicado na Revista Forbes
O Banco Nacional de Angola (BNA), na sua qualidade de Banco Central funciona como emissor de moeda (irrelevante e condicionada pelos créditos e obrigações internacionais), pode optar por levar mais tempo para tomar medidas sobre o BESA. Mas o resultado deve realmente ser o mesmo que o que se passa no BES em Portugal. Os bons empréstimos vão formar o núcleo do banco reestruturado; os maus acabarão por ser liquidados e vendidos. Se o o dinheiro dos contribuintes tiver de recapitalizar o banco, que acontecerá aos accionistas existentes? O ideal seria que os investimentos dos actuais accionistas fossem completamente destruídos, deixando ao sector público a injecção de novos capitais como um prelúdio para vender o banco de volta para o sector privado. Mas não é assim que funciona em Angola. É improvável que alguém vá permitir que os accionistas angolanos existentes possam ser apagados – das mais variadas formas, eles são o "sector público".

Angola é um Estado de partido único da linha a imitar o comunismo herdado do capitalismo de Estado da ex-URSS - o Estado é dono de tudo, ou melhor -, na verdade – são os indivíduos dominantes no aparelho de Estado quem zela pelo nepotismo do aparelho de Estado . Então, praticamente tudo em Angola é de propriedade directa ou indirectamente da camarilha presidencial - a família dos Santos, o vice-presidente Manuel Vicente, o chefe do serviço de informações militar o general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior (que dá pelo apelido de Kopelipa) e o general Leopoldino Fragoso do Nascimento, mais conhecido como Dino – o BESA não é excepção a este regime. Este gráfico indica a extensão e complexidade dos interesses comerciais de Isabel dos Santos (de www cabinda.net.):
ampliar

Outros colunistas da Forbes têm feito investigação considerável sobre os interesses das empresas de Isabel dos Santos, por isso não é necessário entrar em mais detalhes aqui. Basta dizer que ela possui participações directas ou indirectas em muitos dos bancos de Angola e importantes e controversas ligações com a indústria de diamantes de Angola. Tem também vários outros investimentos angolanos, incluindo uma participação na empresa petrolífera estatal Sonangol - a empresa que adquiriu a Escom da holding do BES-Rioforte em 2011, mas que nunca foi totalmente paga: o montante não pago está na contabilidade do BES (agora no "banco ruim"), contabilizado como prejuizo do famoso crédito de 4,2 mil milhões concedido pelo BESA mas cujo rasto se desconhece.  

o BES é uma pequena parte da rede
Isabel parece funcionar sózinha, mas na realidade funciona como uma fachada do pai. Os outros três caçam de forma associativa. Rafael Marques descreve-os como o "triunvirato" que rege a política angolana - e quem governa a política angolana, governa Angola. Citando Rafael Marques: “Sectores-chave, como o petróleo, telecomunicações, banca, comunicação social e diamantes fazem parte do império empresarial construído por números enormes. As empresas envolvidas incluem a Movicel, Biocom, Banco Espírito Santo Angola, Nazaki Oil & Gás, o Media Nova, World Wide Capital e a Lumanhe”. Os leitores norte-americanos podem também estar interessados em saber que através da Nazaki, todas as três participações detidas pela empresa de exploração de petróleo “Cobalt Internacional Energy Inc.” actualmente enfrentam acções de execução judicial por parte do regulador (SEC) por práticas de corrupção nas suas operações angolanas.

Como é que a camarilha Presidencial chegou a proprietária do BESA? Bem, não é exactamente claro. Em Dezembro de 2009, o BES vendeu uma participação de 24% no BESA à “Portmill Investimentos e Telecomunicações de Angola” - a Portmill foi originalmente de propriedade do triunvirato, mas em Junho de 2009, eles tinham vendido as suas participações ao tenente-coronel Leonardo Lidinikeni, director da equipe de segurança do presidente e um subordinado directo de Kopelipa. Como Lidinikeni arranjou o dinheiro para fazer esta jogada é uma questão de conjectura...

... sendo certo que foi Ricardo Espirito Santo Salgado quem intermediou a transação: Rafael Marques sugere que o BESA pode ter-lhe concedido um empréstimo, seja directamente a ele ou ao triunvirato. Se assim foi, então a sua propriedade é fraudulenta. Mas, mesmo que a sua propriedade tenha sido legitimamente financiada por outras fontes, é difícil acreditar que o triunvirato não reteve o controle efectivo, provavelmente por obrigações de dívida não reveladas. A propriedade nominal pode estar em nome de Lidinikeni, mas a posse desse activo beneficia certamente o triunvirato. Mais de 19% do BESA é de propriedade do Grupo Geni, onde alegadamente a filha do presidente Isabel dos Santos é proprietária de uma parte. Ela nega possuir acções na Geni, mas isso não significa necessariamente que ela não detenha o seu controlo: Isabel dos Santos é conhecida por usar os seus familiares e colaboradores mais próximos para disfarçar o seu envolvimento pessoal em algumas de suas empresas. Novamente, foi o BES quem lhe concedeu o capital para o jogo, embora isso remonte a meados de 2004. Assim, 43% do BESA podem ser de propriedade ou controlados pela camarilha presidencial. Acabar com a participação de um Banco Português no BESA é uma coisa. Mas acabar com as participações da camarilha presidencial é outra coisa completamente diferente”. Os interesses da camarilha presidencial em BESA provavelmente serão protegidos. E os seus empréstimos também. Será que alguém realmente acha que aos "conselheiros" nomeados para promover a auditoria ao BESA será permitido rasgar a rede incestuosa dos empréstimos políticos e investimentos que unem não só o sistema bancário angolano, mas todos as suas grandes indústrias? Dificilmente. Os créditos concedidos vão sobreviver, assim como os bens adquiridos pelos seus proprietários. Será o povo angolano, por mais chocantemente pobre que seja, quem vai pagar os prejuizos.

foi vc que falou em ministros, governo e oposição?
Mas há ainda uma característica interessante para este conto. De acordo com Rafael Marques, a venda de parte da participação do BES à Portmill em 2011 foi feita ilegalmente, mesmo pelos padrões angolanos. Desde então, o banco tem de facto sido usado para a lavagem de dinheiro roubado ao Estado angolano pelo seu exército de corruptos. Ricardo Salgado está agora sob investigação pela polícia portuguesa por suspeita de lavagem de dinheiro e evasão fiscal centrada na gestora de recursos suíça Akoya, de que o ex-administrador do BES-Angola, Álvaro Sobrinho, é membro do conselho administrativo. Sobrinho, quando ainda administrador do BESA, foi alvo de uma investigação de lavagem de dinheiro inconclusiva em 2011. A terminar, a revista Forbes, que mede o património dos ricos a nivel mundial, é optimista: “que tal investigação não seja susceptível de ocorrer no lado angolano é claro, mas talvez algumas personalidades nesta teia de mentiras e corrupção possam eventualmente ser levadas à justiça”.

Sem comentários: