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sexta-feira, agosto 01, 2014

o Fardo Global da Dívida Internacional

Quando se faz as contas à dívida pública e à dívida privada, e qual é a dívida de um determinado país, isto é, quanto este deve a entidades estrangeiras, as estatísticas da "dívida líquida" mostram que as crises não são criadas unicamente pelos devedores, são induzidas na mesma proporção pelos credores. Para um país ser um poupador líquido, outro tem que ser um devedor. Se um país produz demasiados bens ou capital de investimento e força uma espécie de venda compulsiva a outro país com défice desses bens, os quais não são necessários como primeira prioridade, o futuro credor rico está a criar uma dívida ao devedor pobre pela qual é igualmente responsável. Talvez o melhor exemplo seja o dos “fundos abutre”. Estes fundos têm como finalidade comprar dívida de países em dificuldades financeiras a um preço tão baixo quanto possível. Mais que os fundos de extorção normais, são os chamados "fundos abutre" que mais lucram com a crise

Falando da produção de bens materiais em concreto, países como a Alemanha, Noruega e Arábia Saudita são tradicionalmente vistos como "moralmente superiores" aos países endividados pelos seus excedentes de capital acumulado que podem disponibilizar como crédito.
imbalance
Os Estados Unidos são um caso àparte, porque não tendo superavit fabricam massa monetária que emprestam a juros como se tivessem esse dinheiro ganho com trabalho e/ ou exportações de matérias-primas que igualmente não possuem. Obviamente, todos estes países são tão responsáveis pelas crises da dívida num mundo cada vez mais caracterizado por enormes desequilíbrios, como as entidades que contraíram essas dívidas por interesses alheios às necessidades das suas populações.

Qual será então o dilema entre pagar tudo como o governo Cavaco/Coelho pretende, não pagar roubos, ou "reestruturar" (adiar por décadas) o pagamento por forma a que o povo não perceba que está a ser roubado? 
Um caso-a-estudar é o que acontece com a Argentina. Na crise de 2001 o país por impossibilidade de pagamento declarou bancarrota, propondo uma "reestruturação" com o perdão parcial da dívida pelos credores. A maioria, entre receber pouco ou nada do endividamento que haviam forçado, aceitaram. Outros com a ganância de ganhar tudo não aceitaram e recorreram aos tribunais muito convenientemente norte-americanos. Passada mais de uma década de contencioso um juiz nova-iorquino acaba de condenar a Argentina a pagar integralmente essa dívida com juros de mora. Trata-se do mesmo sistema bancos-tribunais onde a Argentina deposita o dinheiro para ir pagando as prestações da reestruturação - o mesmo sistema que pode agora penhorar todo o dinheiro ali depositado pela Argentina. O imbróglio é que os primeiros credores que aceitaram perder parte do valor em dívida, face a esta nova decisão do tribunal, querem agora igualmente receber por inteiro todo o valor da dívida que haviam perdoado.

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