Joseph Stiglitz, prémio Nobel de Economia, com assento em coluna no semanário de difusão nacional das ideias imperialistas, esclarece agora que “os mercados nunca foram muito bons em atingir, por conta própria, transformações estruturais de forma rápida (…) uma vez que esta crise provocou um aumento do endividamento em muitos países (…) depois dos danos quase irreparáveis que as politicas de austeridade provocaram”. Stiglitz parte do principio que são necessárias transformações no Estado, que “ultrapassem a autocomplacência das elites cujos rendimentos e carteiras de acções estão novamente em alta, enquanto apenas algumas pessoas, infelizmente a maioria, têm de se ajustar a um padrão de vida mais baixo”. E a falência do neo-keynesiamismo é só de agora?, ou obedecendo ao canône capitalista de estagnação-resolução-pela-crise, tem sido sempre assim?. Stiglitz nos anos 90, se ele bem se lembra, entre a ressaca do reaganismo e a ascenção dos economistas de Clinton, escreveu um livro embandeirando em arco com o que apelidou “a melhor década de sempre”. Talvez, mas para quem? Em 1995 a Time titulava: “há qualquer coisa no ar parecido com uma recessão”. (Is the Worst Over? Is That Something In the Air a Recession?)
Esta é a década do desmembramento da União Soviética. As exportações do Ocidente para os países do Leste disparam de 10 para 25 biliões de dólares. É a década do investimento no desmantelamento provocado da ex-Jugoslavia e da Sérvia que passou pela carnificina da Bósnia; da falsificação da contabilidade do BCCI. Na sequência da descoberta de um esquema de corrupção gigantesco de fuga ao pagamento de impostos pelas principais corporações o Japão entra em crise. Em França, para compensar os prejuízos o Credit Lyonnais precisa de uma injecção de capital no valor de 35 biliões. Clinton nomeia uma multimilionária da família de banqueiros Harriman como embaixatriz especial em França. Outro esquema especulativo leva à falência o Banco Barings e a administração deita as culpas em cima de um jovem de 28 anos, Nicholas Leeson, acusando-o por actos ilícitos, ao cumprir ordens de compra e venda em bolsa do próprio banco, como se uma só pessoa pudesse ter perdido biliões sem que os patrões de uma instituição com 232 anos soubessem. A meio da década o sistema financeiro globalizado já reclamava impunidade. Em 1994 as bolsas financeiras colapsam com o incumprimento do México. Seguem-se a Argentina, o Brasil e o Chile.
Os bancos norte-americanos expostos às insolvências apressam-se a dar ordens de venda dos activos fictícios contraídos como empréstimos a esses países. Na crise subsequente perdem-se 40 por cento dos empregos. O peso mexicano desvaloriza-se drasticamente e 70 por cento das consequências recaem sobre os pobres. A dupla de economistas Robert Rubin/ Larry Summers com Alan Greenspan na FED apressa-se a emitir mais dinheiro e a emprestá-lo com juros mais altos como “ajuda” controlada pelo FMI que o faz a troco da desregulamentação dos mercados e de programas de austeridade. Welcome to Wall Street. Como resultado das altas taxas de juro a economia dos países asiáticos, excepto a India e a China, cai cerca de 30 por cento. Em 5 anos a Reserva Federal baixou os juros de 8,5 por cento para 4,5 por cento. Um esquema corporativo em pirâmide desenvolvido pelos multimilionários Bronfman Brothers colapsa com um buraco de 80 biliões de dólares. Em 1998 a Rússia entra em incumprimento.
Noutro livro, o economista Ravi Batra, tinha previsto um cataclismo na economia norte-americana nos anos 1990. Abarrotado de tabelas, gráficos e equações, o livro de Batra tinha tudo para ser um best-seller mundial e o seu autor um sério candidato ao Nobel, não fosse por um pequeno detalhe: os anos 1990 foram espectaculares para os EUA. Houve crise no Japão, no México, nos “Tigres Asiáticos”, o Brasil sofreu uma grave estagnação, a Rússia colapsou, mas ao contrário do previsto no trabalho de Batra, os EUA continuaram de vento em popa. O mais assustador foi que com o despoletar da crise de 2008 uma previsão ao contrário foi feita em novo lançamento de Batra na obra intitulada “The New Golden Age” (Uma Nova Idade de Ouro). Mas foi Nouriel Roubini quem despontou como o grande génio da crise do sub-prime. Foi ele o bruxo que alertou o mundo para o precipício que estava em frente. Como se previsse que haveriam inundações em grandes cidades devido às fortes chuvadas que ocorrem mais ou menos em todos os invernos. Obviamente, no actual paradigma não existe tal coisa de profética “previsão económica” - certo certo, o que existe é uma estrutura imperialista financeira global que a não ser derrubada define previamente e chutará sempre para a frente a necessidade de planificação e as capitalisticas previsões económicas a publicar depois do acontecimento ter acontecido. Resumindo, nos primórdios da globalização, contas feitas fora do papel-moeda, o preço do Ouro era de 180 dólares/onça; em 1980 com o neoliberalismo o valor subiu para os 850 dólares; em 1992 à entrada da crise já só valia 351 dólares por onça. Nesta década, tendo como cenário a Europa, os profetas continuam a editar opiniões... como a de Jens Jakob Nordvig sobre "a História, a Crise e a queda do Euro, a reinvenção da Eurozona e do futuro do investimento global" como se o povo não soubesse já do que é que a casa gasta.
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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domingo, março 02, 2014
3 livros, 3 opiniões, o mesmo Sistema
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