Falidos os bancos e os "empresários" privados sem crédito, a ideia do artigo publicado no suplemento "Dinheiro Vivo" é transmitir que o Estado deve voltar a ser o principal motor da Economia, apesar do embuste que deve ser amputado e diminuido. Mas não se pense que o velado desejo de intervenção do Estado, vindo de quem vem (um obscuro advogado administrador de empresa portuguesa contratado pela filha do presidente de Angola), é para pôr o Estado a funcionar como garante de que nenhum dos cidadãos que compõem a Sociedade será abandonado á sua sorte. O que as elites de sempre pretendem, tal como pretenderam e funcionou com os Descobrimentos, é que o Estado exista, seja forte e interventivo... para que possa funcionar de forma a ser sugado pela ínfima camada de parasitas nacionais de sempre, meros serventuários dos investidores estrangeiros. Fica um relato de época no reinado de Don João II - que permanece perfeitamente actual.
"A construção da feitoria de São Jorge da Mina constitui a peça fundamental em que se baseou todo o nosso comércio na costa ocidental de África ao longo de todo o século XV. Em Lisboa instalou-se a Casa da Guiné, que vinha transferida de Lagos e que recebia os escravos e outros produtos. Mais tarde passou a chamar-se Casa da Índia. Qualquer mercadoria vinda do Ultramar teria de ser aqui despachada. Daqui seguiam as mercadorias para a Flandres e Mediterrâneo.
Até ao fim do século XV e no reinado de D. João II, as despesas estavam equilibradas com as receitas, mas a partir do reinado de D. Manuel o défice financeiro passou a ser permanente. E isto apesar das somas enormes que com (as carreiras das naus contratadas por empresários e banqueiros estrangeiros, como os judeus-alemães Fugger) se obtiveram com os produtos vindos do Oriente, grande parte delas consumidas no luxo da Corte e nas dádivas feitas pelo Rei à multidão de parasitas que ocorriam à capital. Em termos gerais, o que se passava era que os portugueses gastavam vidas e cabedais a irem buscar as mercadorias em bruto ao Oriente (a parte mais difícil da operação) e depois estes eram descarregados em Lisboa e seguiam directamente para os seus destino na Europa do norte, conforme previamente arrematados pelos comerciantes estrangeiros. Grande parte do dinheiro (comissões) ficavam na Aristocracia, que ia depois gastá-lo a comprar todos os produtos manufacturados a esses mesmos estrangeiros, dado que o reino não tinha capacidade de os produzir na sua maior parte, ou em quantidade que bastasse. A situação continha ainda várias agravantes: a primeira tem a ver com o facto de não serem os portugueses a colocarem os seus produtos nos mercados consumidores, isto é, deixávamos que outros o fizessem por nós, o que à partida nos retirava vantagens, empregos e influências; em segundo lugar, do dinheiro que se arrecadava, nada se convertia em funções reprodutivas, não se precavendo o futuro. Mais tarde, tínhamos ainda de comprar produtos além fronteiras para os comerciantes no Ultramar, já que não os produzíamos nós mesmos. As noticias das riquezas provocaram uma corridas das populações que viviam em condições miseráveis a Lisboa. Todos queriam embarcar. Despovoou-se o reino e muitas terras agrícolas foram abandonadas. Quando, no reinado de D. João III, se deu conta do descalabro, a situação era já muito grave, e não foi possível saneá-la. Com o reinado de D. Sebastião e a crise da sucessão, tudo se esboroou. Para fazer face ao défice, pedia-se dinheiro emprestado na Flandres, o que se passou a fazer sucessivamente de anno para ano, acumulando-se deste modo enormes dívidas. E, a pouco e pouco, ao lado da riqueza e da ostentação vivia a pobreza, a ociosidade e a fome, começando a faltar géneros e braços para trabalhar. Lisboa parecia a Roma dos tempos da decadência…" (1)
Estas são imagens impressionantes desta semana a bordo de um dos navios de buscas pelo avião da Malaysia Airlines no Oceano Índico... por aqui pode-se imaginar os navegadores portugueses a caminho da Índia nos anos 1450... e
do pobre povo de tan grande heroismo se van pera encher a pansa dos rvcos ficantes
(1) texto adaptado de “A Evolução do Conceito Estratégico Ultramarino Português, da Conquista de Ceuta à Conferência de Berlim”
(aqui)
Sem comentários:
Enviar um comentário