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quarta-feira, abril 30, 2008

“Blindness”

O filme de Fernando Meirelles feito a partir do “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago abrirá o Festival de Cannes. O filme está na Selecção Oficial, pelo que competirá para a Palma de Ouro.

O realizador (de Cidade de Deus e
O Fiel Jardineiro
) descreveu todo o processo de filmagem num blogue que criou para o efeito. Depois de em Novembro nos ter dado conta do processo de corte e montagem num post com o delicioso título “Sobre Montagem, Juntões e Frame-Fucking”, Meirelles retoma o relato da pós produção explicando o processo de introdução da música”:
“passaram-se uns dois meses desde meu último texto e confesso que parei de escrever por preguiça. Parei também porque soube que andaram traduzindo este blog para o inglês e que ele estava se espalhando mais do que o esperado. Isso me obrigaria a medir mais as palavras e eu correria o risco de ficar escrevendo um blog chapa-branca. Então parei. Só que agora resolvi colocar aqui mais uns dois ou três textos para ao menos fechar este processo que comecei. Chega de coisas não terminadas na vida”
Termina com a descrição dos “test screenings” e dos reparos da produtora Miramax:
“Na manhã seguinte, após uma ótima reunião com os produtores e distribuidores, saí convencido que deveria dar mais alguns passos atrás na intensidade (das cenas fortes). Estaria me vendendo ao mercado? “Talvez sim”, sugeriu minha mulher. “Obviamente que sim”, afirmou minha filha. Mas é claro que eu neguei. Lembrei de um excelente filme que muita gente nem percebeu que era tão bom por causa de duas cenas excessivamente violentas: “Irreversível”, do franco-argentino Gaspar Noé (sobre um tema actualissimo). Por acaso eu estava na premiére deste filme em Cannes e lembro que parte da platéia saiu no meio da sessão berrando impropérios contra o diretor. O Gaspar Noé se divertia com isso, mas, no meu caso, realmente gostaria que os espectadores conseguissem recuperar algum humor ou boa vontade depois das cenas mais pesadas para chegar até o final da história. A última cena está bacana, vale ser vista. Mais uma vez frustrada minha expectativa de fechar o filme, me vi novamente na sala de montagem rumo à oitava versão”
Para quem gosta de cinema, a ler na totalidade aqui:
www.blogdeblindness.blogspot.com/

terça-feira, abril 29, 2008

o Tuga Guitar no crepúsculo de abril

Entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há uma certa cumplicidade vergonhosa” dizia o escritor francês Victor Hugo em “Os Miseráveis

Mas isso era dantes; a novela proletária de época que romanceava a luta de classes foi macaqueada para turista rico ver em technicolor na Broadway e o bom povo com a guita à conta da bucha ficou a coçar-se com a comichão de esquerda – talvez requerendo os serviços de César Romero se consiga passar a película esta moderna maratona dos zombies da porcalhota europeia derrotada, conforme vimos, quanto mais não fosse desde que em “A Bout de Souffle” demos pela Jean Seberg a vender o New York Herald Tribune nos Champs-Élysées ao Jean Paul Belmondo
Uma das imagens mais significativas que guardamos da nossa “revolução de Abril” é precisamente esta: enquanto os recrutas fazem a cobertura a um inimigo que suspeitava que estaria salvo se não se mexesse, os transeuntes miravam rotineiramente as montras na maior das calmas.

Um dedo mindinho dizia-lhes que enredos de quartel normalmente degeneram em piadas badalhocas de caserna; o nosso gozo (alarve) é que até esses velhos bestuntos, mesmo depois de reformados, ainda continuam a ter de cumprir o “regulamento de disciplina militar”. Bem hajam e maila a vossa cultura clássica, óh magalas de Novembro. Faz-se artificialmente constar que durante os acontecimentos de 25 de Novembro a tropa evitou uma guerra civil. Mas quem evitou de facto que se fizesse justiça aos 48 anos de ditadura foi a tropa do golpe que previamente tinha decidido entregar o poder burguês para reciclagem àquele painel de cavalheiros de ar grave que apareceram na televisão nessa mesma noite de 25 de Abril.
De regresso à terra, com um bilhetinho de ingresso à borla na Broadway para quem comprou um apartamento na Quinta das Lilypops recorde-se então, para o uso considerado mais adequado, a desbunda que fizeram com o estribilho (a culpa é do Voltaire, que culpou Rosseau) da canção que Gavroche resmungou sob as balas nas barricadas da rua Saint-Denis, durante a insurreição parisiense de 1832 – a festa dos Pedintes: vai mais uma à conta do dono da casa. Divirtam-se; mas entretanto não esquecer que esta é uma peça triste,,, no final “a miserável” Gravoche, entregue a si própria, é abatida a tiro. E porquê?, porque revolução que se preze jamais poderá confiar num exército de mercenários com os vícios e ao serviço da classe dominante. Só um exército constituído por milícias populares armadas sob rigoroso controlo democrático pode acabar com a tosse dos empresários da miséria institucionalizada. Disse.



Teoria da Organização Política, Sun Tzu, Maquiavel, Clausewitz, Trotsky, Giap, Fidel Castro - O tema da estratégia é obrigatório para quem se coloca a tarefa de pensar a transformação da sociedade. Não há como avançar com consciência dos riscos e das possibilidades de vitória sem observar, prever e planear para alcançar o fim desejado. Na história da humanidade, os termos estratégia e táctica foram e são aplicados com diferentes conteúdos e intenções. Como forma de conhecimento, podemos passar em revista alguns momentos, estabelecer e fixar, a partir de determinados períodos, os processos de guerras e lutas políticas, e perceber como algumas delas evoluíram e terminaram. Perceber, embora limitadamente, como se desenvolveram e influíram no destino da humanidade ou deixaram de influir. Por fim, visualizar a actualização dos conceitos a partir do movimento que empurra a revolução para a frente.

O que pretendemos é facilitar a militância deste século - que já se distancia por várias décadas dos processos revolucionários ocorridos (embora entretanto tenham ocorrido lutas intensas) - o conhecimento do caminho para o aprofundamento da praxis revolucionária. Sem dúvida, pela experiência histórica, podemos afirmar que, seja nas lutas sociais, seja na luta política ou militar, sempre que duas ou mais forças se enfrentaram, venceu sempre aquela cuja capacidade dos seus estrategas foi infinitamente superior à dos seus adversários
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segunda-feira, abril 28, 2008

Follow the money

Eles são, aliás sempre foram, uma espécie de estado dentro do Estado
anónimo, sobre os “sábios de Sião”

Pelo 30º ano consecutivo os Estados Unidos proclamaram a ideia judaica do “Dia da Educação e Partilha Nacional”*, uma prática instaurada pelo “Projecto em rede Chabad-Lubavitch”. Nesta efeméride é feriado no país e o Presidente recebe pomposamente na Sala Oval a delegação dos dirigentes judeus; este ano, a celebração/ vassalagem calhou, seguramente não por coincidência, na quarta feira véspera da visita do Papa Ratzinger, o alemão, nazi na sua juventude, que é a cara da Alemanha derrotada na 2ª Grande Guerra – o mesmo santo homem que dois dias depois abençoou uma Sinagoga em Nova Iorque e benzeu o buraco negro provocado pelo “inside job” de 11 de Setembro.
Note-se como os jornais israelitas Ma'ariv e o Haaretz nessa mesma quarta-feira entrevistavam o chefe de fila do partido Likud, Benjamin Netanyahu, relatando uma audiência desta personagem na Universidade de Bar Ilan onde assumia que os ataques terroristas de 2001 tinham trazido grandes benefícios a Israel. E na mesma sequência, repare-se como Barrack Obama, subserviente a Israel, criticou o enviado especial à Palestina, Jimmy Carter (o presidente que, em 1978, instaurou o *“Education and Sharing Day USA”) por ter aceite dialogar com o Hamas, e depois Hillary Clinton dramaticamente “para eleitor ver” ameaçou irradicar o Irão do mapa caso alguma vez Israel fosse atacado. Agora vejamos como esta macro politica de “aliança de civilizações” judaico-cristãs se manifesta à nossa reduzida escala local

Judeus e católicos devem trabalhar em conjunto para implementar os valores judaico-cristãos”- quem o escreve é a nº2 da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) a propósito da famigerada “intolerância” que afinal dá muito jeito a determinada facção étnico-religiosa para ocupar o espaço público com manipulações grosseiras de uma pseudo história da cidade como é o caso do“monumento ao massacre dos judeus”. Àparte o apresentar de efusivos parabéns à Câmara Municipal de Lisboa pela iniciativa, a judia que usa o portuguesíssimo nome de Esther Mucznik lamenta-se por “o mural que celebra a sã convivência entre a população cada vez mais diversa do ponto de vista cultural, étnico e religioso” não ter sido erigido há mais tempo. Esteve “bloqueado durante dois anos pela gestão camarária anterior por razões que a razão desconhece” e, note-se, porque isto é o mais importante da lenga-lenga, “até porque não lhe custaria um tostão”. Muito obrigadinho, mas não precisávamos de ter “importado” a sub-directora da CIL, com tempo de antena ilimitado, (enquanto os naturais do jardim à beira mar plantado são sistematicamente censurados), para nos sugerir que as confissões religiosas pretendessem tratar dos seus assuntos promocionais estravasando para fora das igrejas, sinagogas, mesquitas, ou seja lá o que fôr, e ainda para mais, suspeitosamente à borla.
Quando se tratou de decifrar o esquema de corrupção no governo de Nixon, Mark Felt o célebre agente do FBI que ficou conhecido como “Garganta Funda” deu uma dica aos jornalistas que investigavam o governo: “Sigam o Dinheiro” (follow the money). Portanto esse pequeno extracto de frase “até porque não lhes custaria um tostão” é significativo. Quem paga? Expliquem lá isso, como é que se faz, até porque há por aí um grupo de malta interessada em erigir um monumento à tesão nacional em Alijó, mas infelizmente não há verba. Consta-se, à boca pequena de outro infeliz teso, o defunto desgoverno psd-force de Santana Lopes (e/ou o sucedâneo Carmona Rodrigues), que foi corrido por não ter dinheiro para financiar as suas famigeradas aventuras municipe-nacionais. Diz-se que foi despedido pelo presidente de etnia judaica Jorge Sampaio, (e familia; "one of whom is the president of the Lisbon Jewish Community" - citado da mesma entrevista ao Jerusalem Post) quando teve a desgraçada ideia de aumentar os impostos aplicáveis à Banca. (que, como se sabe, se re-financia do valor das dívidas contraídas com empréstimos desses valores à banca privada internacional cuja hierarquia culmina na FED, instituição desde sempre gerida por judeus); Para os sionistas, Religião sim, Prejuizo nunca!
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domingo, abril 27, 2008

a HoloCausa

"só a Verdade é revolucionária" (George Orwell) e a Verdade não teme ser investigada

Logo após a eleição de Hitler, os judeus emigraram abandonando a Alemanha em massa, com destino à Palestina então um protectorado inglês, graças à politica concertada entre os seus dirigentes e as autoridades Nazis, acordo que ficou conhecido como o Plano Haavara (os Sionistas chegaram a propor uma aliança com a Alemanha contra a Inglaterra, o que faz todo o sentido se atendermos à luta de libertação levada depois a cabo pelo grupo Hagganah - (hoje seriam considerados terroristas, como aliás o foram nessa época, uma vez que não possuiam direitos legitimos sobre as terras ocupadas) - ver a notável obra de Roger Garaudy, "Les Mythes Fondateurs de la Politique Israélienne".

O “Relatório Leuchter” e depois David Cole desmistificaram as inexistentes “câmaras de gaz de Auschwitz”, curiosas estatisticas demonstram que Dachau não era um campo de exterminio (as vitimas foram dizimadas por violentas epidemias de tifo) assim como no campo de Bergen-Belsen onde os ingleses já depois da libertação mantiveram a quarentena profilática durante vários meses, continuando a morrer milhares de internados. São desse campo as imagens tenebrosas de pilhas de mortos arrastadas pelos "caterpillars" (curiosamente uma empresa israelita hoje lider mundial) filmadas pelo cineasta John Ford (então oficial a prestar serviço militar nos Marines) que serviram de "prova do genocidio" (manipulado grosseiramente) e encenado no julgamento de Nuremberga.

1/3 do holocausto” é um filme que nega a existência dos factos que servem a propaganda de vitimização de Israel para prosseguir politicas expansionistas praticando crimes sobre outrem do mesmo teor daquele de que se queixam. A violência generalizada, como aliás se vê na Palestina e no Iraque, é exercida sobre muitos e variados grupos, como em todas as guerras, e não especificamente sobre os judeus em particular. Os factos manipulados que servem de base ao “holocausto” como aqui se demonstra em três casos específicos, fundam-se em falsidades. Se pensa que não, as teses podem ser desmontadas por si. As refutações podem ser enviadas para um Comité de Discussão Aberta sobre o Holocausto a cuja página se pode aceder em
www.codoh.com/rebutalls

1/3 do holocausto” é um filme com cerca de 4 horas (255 min.) de acesso livre na Internet. A tese é que os campos de concentração de Treblinka, Sobibor e Belzec não eram “campos de aniquilação”. (pode ser visto em 30 episódios separados, aqui). Foi banido do You-Tube.



Nota do autor
“Quando temos Censura, vocês não podem refutar nada. E então o povo não pode ver como são fracas as refutações oficiais. A redacção do jornal dos estudantes da Universidade de Berkeley, o “Diário Californiano” não autorgou licença para a minha presença durante a qual me dispunha a responder às refutações ao meu filme. É irónico que o jornal deixasse a CIA colocar um aditamento ao caso no mesmo período. Eu não exerço tortura sobre ninguém em Guantanamo. Eu vou a bibliotecas e faço fotografias de livros”
Jankiel Wiernik
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sábado, abril 26, 2008

Jubol, uma cura eficaz para toda a maleita de direita

Chegará não termos sido ouvidos nem achados sobre os truques do Tratado de Lisboa para se prescindir de vez do uso abusivo do termo democracia? Ou a tentativa de ressurreição (como lebre) dos cadáveres políticos da ex-ministra das Finanças de Durão Barroso e do seu sucessor?, afinal, avisados pela obscura figura do convidado bilderberger do ano passado, Aguiar Branco, no fim da peixeirada deverá sair o convidado do grupo Bilderberg do ano anterior, Morais Sarmento, mantendo o Santana no parlamento; (se não, porque raio teriam convidado o homem?). Qual é a surpresa, se já estamos habituados à política de trauliteiros?. Alarmados com o alarido, a politica de entretenimento televisivo, que exala das enxúndias do 2º maior partido do sistema autocrático vasculhámos aqui no sótão do boticário e descobrimos o remédio, melhor que açorda ministrada em clister, um tratamento divinal contra a obesidade já usado ainda nem o PSD tinha nascido,

Começa pela limpeza da língua; para permanecer de boa saúde basta um comprimido de Jubol; laxativo fisiológico é uma medicação racional para a limpeza das tripas. Evita soluços na ingestão, ardores de estômago pelo caminho e, à saída, as hemorróidas, impede o excesso de celulite e regulariza a harmonia das formas. Não é preciso jogging nem dar serventia tecnológica a pedreiros como no PS. Além de reeducar o intestino, Jubol é também eficaz na cura de constipações, gastro-enterites, gânglios teóricos na verborreia, vertigens, mal estar da pituitária, comichões e, voltando ao princípio, fechando o círculo, aftas na língua.
Também existe na forma de supositórios; nesse caso começa-se por administrar a receita pelo orifício oposto do tubo digestivo. Estimamos as melhoras, que é como quem diz, que morras engasgado da cura
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sexta-feira, abril 25, 2008

do Caetano ou da Liberdade sem Medo

o 24 de Abril mais actual que nunca. Marcelo Caetano, no jornal “A Cartuxa” em Janeiro de 1962, escreve exortando os alunos da "bufa":

“Vós graduados da M.P., nunca vos esqueçais disto: o vosso posto na organização impõe-vos uma vida de constante combate, sois a tropa de choque na luta pela perfeição, estais na primeira linha de ataque a todos os defeitos e vícios que degradam os homens e perdem as nações! Nesta guerra só triunfam os fortes; eu quero que sejais fortes, para contagiar aqueles que entrego ao vosso comando e criar neles o mesmo anseio de perfeição! É só para isso, é só para ajudar os outros a serem melhores no corpo e na alma, que recebeis o poder de comandar!"

46 anos e três meses depois, alheio ao debate e livre aceitação de regras consensuais definidas de forma generalizada pelas comunidades escolares “desbufascizadas” (afinal é isso a Educação, não?), um jornal de referência dá guarida a uma carta do leitor Santana-Maia Leonardo (repare-se no hifen: o pedantismo vai acabar com o novo acordo ortográfico) a propósito do episódio do telemóvel, cujo uso nas aulas aliás defende, nos seguintes termos:
(...) “Tenho 1,92 de altura, sou cinturão negro de karaté, castanho de judo e fui 1º classificado do curso de oficiais milicianos. Ou seja, tenho autoridade. Porque a autoridade não é nada mais nada menos do que ter meios para impor, se necessário for, pela força, a ordem na sala de aula. Isto é que é autoridade. É óbvio que uma pessoa de 60 anos, com 1,60m de altura e 50kg de peso também tem o direito de ser professora e de ser respeitada.

Só que os alunos sabem que ela não tem meios para se impor, nem há ninguém na escola que a socorra. Este é que é o problema”
Ou seja, em meia dúzia de linhas o Público dá voz à versão doméstica daquilo que se pratica actualmente na política de direito internacional: o direito do mais forte à liberdade, sem quaisquer hipóteses de defesa para as vítimas, que sabem que não têm ninguém que as socorra. É isto que os adolescentes vêem na televisão e na internet a toda a hora, e este é que é o problema: o fim, não da história, mas da moralidade.

Prisão do Forte de Peniche. Painel evocativo da Repressão; está aqui tudo, a carga policial da GNR sobre "a malta do reviralho", os bufos, as prisões arbitrárias, a tortura. Globalizando, decalcando e reactualizando os métodos, exactamente como actualmente se procede em relação aos prisioneiros que são encarcerados no campo prisional X-Ray na Base Aérea americana em Guantanamo, e em alguns outros locais mantidos em secretismo.

o Parlatório. Núcleo museológico no Forte de Peniche reconstituindo os guichets onde os presos politicos, sem culpa formada nem julgamento, eram autorizados (se tivessem bom comportamento) a falar às familias durante as visitas.
(...) Artigo 309
As conversas terão lugar por forma que o funcionário
que a elas assistir as possa ouvir e compreender."
Decreto-lei - nº 26643 de 28 de Maio de 1936

"Para quê remexer no passado, abrir de novo a ferida?
Para lembrar os mortos e vivos. Para lembrar os
que não vergaram e também os que fraquejaram mas afrontaram de novo. Para soltar com esta voz antiga um grito"
António Borges Coelho, in "Mar Oceano"

quinta-feira, abril 24, 2008

Francisco Martins Rodrigues 1927-2008

"O sistema capitalista não vai evoluir, nem vai desaparecer por si, nem vai entregar o poder, a única perspectiva que existe é o seu derrubamento pela força"

Figura mítica da oposição antifascista, pertenceu à direcção, na clandestinidade, do PCP. Esteve preso em Peniche com Cunhal e acompanhou-o na fuga em 1961. Esteve preso de novo diversas vezes, a última das quais de 1965 até à queda do fascismo em 1974. Dissidente do PCP em ruptura com a ideologia reformista de Moscovo da III Internacional face às propostas alternativas do maoismo FMR funda a Frente de Acção Popular (FAP), juntamente com o médico João Pulido Valente e Rui D'Espinay. A partir do exilio foi a única organização revolucionária que conseguiu pôr uma bomba na escola da Pide e um cocktail Molotov numa esquadra; citado do DN: " mas João Pulido Valente é preso pouco tempo depois devido a uma denúncia de Mário Mateus, um membro do PCP que trabalhava para a PIDE. Da cadeia consegue enviar a mensagem com a identidade do delator. Então, elementos da FAP liderados por Martins Rodrigues conseguem atrair Mateus, levam-no para o pinhal de Belas, interrogam-no e, perante a confissão, executam-no a tiro. Passado pouco mais de um mês quase todos são presos pela PIDE e as suas estruturas em Portugal desmanteladas. Sofrem torturas muito violentas na cadeia, em especial Martins Rodrigues, por ter morto o informador. Foi ele, aliás, o primeiro português interrogado sob o efeito do "soro da verdade". Não aguenta e faz declarações, tal como Rui D'Espinay. Só João Pulido Valente resiste, o que lhe valerá no pós-25 de Abril uma aura de heroicidade. Em contrapartida, Martins e D'Espinay ver-se-ão afastados de qualquer lugar de liderança". A barragem mediática foi implacável, FMR jamais foi citado em qualquer orgão de "informação" corporativa. E quando o fizeram, já depois do óbito é para o adjectivarem de "estalinista" à luz das idiotices do pensamento aborregado contemporâneo (como foi o caso no DN de ontem)

Depois do 25 de Abril Francisco Martins Rodrigues fundou a auto-denominada primeira organização marxista-leninista portuguesa (a CMLP, o que é discutivel face ao MRPP) e depois a revista "Politica Operária" que tem sido aqui citada variadas vezes. A talvez centena e meia de pessoas que estiveram no funeral e a solitária bandeira comunista à porta do Alto de São João fazem a diferença para as dezenas de milhares que inundaram a Morais Soares no funeral de Álvaro Cunhal; a diferença entre uma vida de combate em condições sempre muito dificeis e um santinho do povo ícone da igreja ortodoxa em diálogo apaziguador com os opressores com base na fé representativa do parlamento; a diferença entre a Revolução e o Reformismo, que nos colocou a todos (os proletários) onde agora estamos
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quarta-feira, abril 23, 2008

a "esquerda", o Sionismo e o espirito censório

Não se pode andar a carpir lágrimas de crocodilo pela má sorte do povo Palestiniano e depois fingir que não se vê a aliança dos extremistas de Israel com o imperialismo financeiro militarizado dos Estados Unidos.

Um pequeno resumo do post anterior foi censurado no Arrastão. Tudo bem, a casa é do militante do Bloco dito “de Esquerda” e só lá entram assuntos e convidados inertes, seleccionados consoante determinados desinteresses. O comentário nem sequer era ofensivo, nem o seu modesto autor tem o mau génio do reputado Ken oVermelho de Londres. Já a Kiki Anahory pode comentar as inanidades próprias do acto de homenagear o “massacre dos judeus” e despedir-se com beijinhos e um estridente shalom. Que estranhas ligações justificam um tal secretismo quando se trata de trazer o melindroso assunto dos judeus à praça mediática? Quem não deve não deveria temer. Em jeito de direito de resposta (a uma pergunta que não foi admitida), aqui vai mais uma achega sobre outro tabu, aguardando-se, no caso de ser falso, o desmentido de quem de direito, especialmente da comunidade judaica sempre tão solicita a reclamar o espaço público para defender os seus interesses.

O Segredo da Rua do Século

Ligações perigosas de um dirigente judeu com a Alemanha Nazi (1935-1939), um livro de António Louçã e Isabelle Paccaud, Edit. Fim de Século

“Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa durante mais de meio século, desde 1927 até à sua morte, Moses Bensabat Amzalak (1892-1978) é uma figura marcante da história da comunidade judaica portuguesa. Amigo, e mais tarde, conselheiro de Salazar, responsável de um dos maiores jornais portugueses, de uma poderosa associação patronal e de um prestigiado instituto universitário, ele é, também, deste ponto de vista, uma personalidade de peso na história politica do país, durante o século XX, especialmente durante os anos da ditadura.” Deu até uma ajuda aos militares na revolução de 28 de Maio, como se poderá ver noutro post um destes dias.
“O embaixador alemão em Lisboa, o Barão Oswald von Hoyningen-Huene pede às autoridades de Berlim, em carta datada de 19 de Fevereiro de 1935, que Moses Bensabat Amzalak seja distinguido, pelo seu trabalho a favor da Alemanha Nazi, com a Cruz de Mérito de Primeira Classe da Cruz Vermelha Alemã. Nesta data, a colossal organização, com mais de um milhão e meio de filiados, encontra-se já completamente sob o controlo do partido nazi e directamente subordinada ao Ministério do Interior do Reich”.
A primeira razão para a condecoração que virá a ser atribuida é o papel politico determinante enquanto proprietário do jornal O Século, um dos mais lidos no país, “que tem influido a favor de uma atitude pró-germanófila nazi”. O número especial, dedicado à Alemanha, de 18 de Fevereiro de 1935, que teve repercussões internacionais, é a prova dessa dedicação e de compromissos que até hoje permanecem na obscuridade. A 8 de Fevereiro de 1937, dois anos depois de ser agraciado, Amzalak confirma a aceitação da medalha, solicitando uma cópia da sua Cruz de Mérito, que lhe é enviada pela legação alemã com as seguintes palavras: “Permita-me que lhe envie em anexo a miniatura, pedindo-lhe que a aceite como recordação da nossa colaboração”

“Em 1939, Moses Amzalak deixa definitivamente O Século. Cerca de 40 anos mais tarde, a publicação do diário será suspensa. Na sua última edição, de 17 de Fevereiro de 1977, são entrevistadas várias pessoas ligadas à história do jornal, entre os quais o dirigente judeu. Evocando aqueles anos, ele não hesita em gabar o carácter independente e profundamente republicano de O Século no período em que esteve à sua frente. Assim, ele recorda que “o jornal, durante o tempo em que foi seu administrador, das nove da manhã até às tantas, nunca esteve subordinado a nenhum grupo, quer político, quer financeiro, e uma das razões do seu êxito foi “manter intransigentemente as tradições republicanas”. Amzalak afirma também ter sido por razões de saúde que, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, teve de deixar O Século, com a morte na alma. Finalmente, e sempre na mesma entrevista, o ainda presidente da Comunidade Israelita de Lisboa considera sobre o período passado à frente de O Século: “os melhores anos da minha vida passei-os lá”.

Esta nostalgia de Amzalak pelos anos 30 só pode surpreender-nos. Desde a chegada de Hitler ao poder, em 1933, as perseguições anti-semitas não cessam de ampliar-se de maneira dramática: boicotes e violências quotidianas, que culminam, em Setembro de 1935, nas Leis de Nuremberga. Às dezenas de milhares, são obrigadas a fugir da Alemanha as pessoas consideradas “não arianas”, em estado de carência e desespero. Em Maio de 1936, um ilustre contemporâneo de Amzalak, o escritor Stefan Zweig, escreve do exílo londrino à sua mulher, Friderike: “Dá vontade de nos meternos pela terra dentro e de não voltarmos a ler um único jornal”. Esta época, descrita por Zweig como “odiosa”, “assustadora”, “insuportável”, é aquela em que o professor Moses Amzalak, à frente de um jornal claramente germanófilo, foi condecorado pelos Nazis. (a biografia traçada e protegida pela guarda mediática judaica na wikipedia é um mimo de omissão)
Zweig, na sua breve passagem por Lisboa, residirá temporariamente na casa do próprio Amzalak, mas obviamente sem lhe ter transmitido a sua repulsa contra o nazismo ou a sua amargura sobre aquela “meia noite do século”. O escritor procurará a morte alguns anos depois, por se sentir impotente perante a barbárie hitleriana, que marca esta época a ferro e fogo. Quanto ao dirigente judeu, 40 anos mais tarde ainda guardará essa mesma época na memória como “os melhores anos da [sua] vida”
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terça-feira, abril 22, 2008

a “Carnificina de Lisboa” (III)

¡Basta de utilizar a palavra antissemita para todo aquele que se opõe à política criminal-sionista do estado de Israel!. Nunca antes se viu um abuso verbal maior. Os árabes são tão semitas como os judeus bíblicos, e não como os de hoje, resultado da diáspora”
Gilad Atzmon, activista judeu anti-Sionista

Judeus pacifistas queimam bandeira de Israel

O espírito de negócios aliado à religião chamada Judaísmo substituiu a vingança sobre os credores por uma indemnização monetária. Karl Marx, em “o Capital”, analisou o modo como o dinheiro, à semelhança de outros bens, se transformara num fetiche, e a forma como o crédito, requeria as suas próprias crenças: “O crédito público passou a constituir o credo do capital. E com o crescimento do endividamento nacional, a ausência de fé na dívida nacional, toma o lugar do pecado” – é esta a ligação religiosa com a perseguição inventada de que se queixam os judeus enquanto grupo coeso, assumindo a diferença étnica; Como no holocausto, utilizam a vitimização para retirar dividendos politicos, económicos e sociais da totalidade da sociedade onde não se pretendem integrar. Se a Reserva Federal americana é uma obra judaica, são eles, enquanto assumido grupo étnico diferenciado, que recebem os lucros; porque em última análise, passando pelo intermediário BCE, todos os bancos comerciais precisam de re-financiar hierarquicamente os valores dos empréstimos àquela instituição privada.

O monumento ao “Massacre dos Judeus” é uma fraude

Há em Lisboa referências toponimicas incontornáveis remanescentes da nossa época medieval que atestam o anti-semitismo: os cadáveres de negros que pereciam, entremeados com baldes de cal, eram lançados como dejectos no Poço dos Negros, onde é hoje a rua com esse nome; os dos árabes na Rua do Poço dos Mouros; mas não há notícia de nenhum “poço para judeus”. Existem bairros como a Mouraria e a pequena viela denominada por Rua da Judiaria em Alfama (um bairro com o prefixo de origem árabe). Duas zonas referenciadas como judiarias extinguiram-se sem deixar vestigios circa de 1200; e consta segundo o arquitecto cristão João NunesTinoco que existiu uma sinagoga e “uma importante judiaria” na colina onde é hoje a rua da Madalena. Mas até o pai de Tinoco tinha morrido cem anos antes dos vestigios referidos terem desaparecido. Como se pode afirmar em concreto a importância desta influência judaica “popular” na cidade se, por exemplo, até hoje, apenas trinta anos depois, já temos dificuldades em impedir a distorção histórica do 25 de Abril e a reapropriação do espírito da data pelos neo-fascistas saídos do 25 de Novembro?

Contudo, a descrição da “matança de judeus em 1506” começa assim: “E tudo porque um cristão-novo teve a enorme infelicidade de tentar explicar um reflexo estranho que se via num crucifixo (provocado por um raio de sol) e que o povo via como sinal divino. O infeliz foi levado para o adro e ali mesmo queimado. Seguiu-se uma tresloucada caça ao judeu” (in “Os Judeus em Portugal”) onde os frades e a marinhagem estrangeira estacionada no cais da Ribeira tiveram um papel preponderante, tanto mais que grassava a peste em Lisboa e El-Rei estava ausente, protegido em Abrantes e impossibilitado de deter o massacre até que lhe mataram um fiel escudeiro, judeu!” Damião de Góis fala em mil mortos, crónica que é reescrita muitos anos depois pelo cronista judeu Meyer Keiserling que menciona “quase dois mil mortos”; e o jornalista que cobriu recentemente a visita de Cavaco Silva à sinagoga Shareé Tikvá em romagem à “Shoa” rematou com 4000! Cuidado, esta gente para inflaccionar mortos relaciona-se proporcionalmente com o mesmo apetite com que se produz dinheiro fictício nas impressoras dos Bancos Centrais. Mas, apesar da fúria inflaccionária, o que fica por provar é que o “todo o judeu” da lenda inventada não fossem apenas semitas, gente proveniente de diferentes grupos étnicos, mouriscos, negros, cristãos-novos, ciganos, a partir da expulsão todos conhecidos por “conversos”. A expulsão deu-se em 1494 e o “massacre dos judeus em Lisboa” acontece doze anos depois, em 1506, quando já “todo o judeu etnicamente puro” tinha abandonado o país. (como se viu no enquadramento histórico descrito em dois posts anteriores)

Segundo a historiografia moderna, desde a sua chegada à Península (a terra de Sefarad) “até aos dias de hoje, os judeus tiveram sempre um papel importante na vida de Portugal. As primeiras provas documentais da existência de judeus no futuro território de Portugal datam do século VI ou VII da nossa era. “Dom Afonso Henriques entregou a Yahia Aben-Yaisch o controlo total da arrecadação das rendas públicas, inaugurando a política proteccionista que continuará, com maior ou menor significado, até ao reinado de D. Manuel I. Os monarcas precisavam dos “judeus”, sobretudo por razões económicas: estes não só possuíam largas fortunas pessoais que ajudavam a corte a sobreviver, como também estavam obrigados a pagar pesadíssimos impostos e tributos. Por isso ocupavam altos cargos públicos normalmente associados com assuntos do Tesouro” (in “Os Judeus em Portugal”). Com a expulsão de Espanha em 1492, muitos milhares refugiam-se em Portugal e a maior parte acabará por ficar como cristãos-novos. A comunidade judaica desaparece, enquanto entidade autónoma. Mas “os judeus”, as suas fortunas e as suas capacidades de trabalho, permanecem no país, ao serviço do reino, como também se viu no caso do banqueiro Jacob Fugger.
Como hoje, os judeus não eram “desgraçadinhos” perseguidos por motivos religiosos, eram homens de negócios ricos e prósperos – era essa a razão de ódio dos que nada tinham, manipulados pelas crenças católicas e pela oligarquia clerical que levou a cabo a instauração da Inquisição. (uma máquina de fazer judeus?)

segunda-feira, abril 21, 2008

a Sociedade do Espectáculo

Prestes a chegarmos aos 40 anos de memórias do Maio 68 relembre-se "a revolta sem objectivos" (que teve, segundo Anselm Jappe a resposta pel"o início da passagem para uma nova forma mais subtil de dominação capitalista" pela recordação aquilo que "o evento" de mais significativo nos legou: a obra de Guy Debord sobre a sociedade e o espectáculo (pseudo)político, ou se se preferir, despolitizado, encenado pelo Poder.

Os factos, e a degradação da sua imagem intragavel actual, confirmam em absoluto a sua previsão teórica. Mona Cholet (Rêves de Droit) escreve no Le Monde Diplomatique em Abril de 2008: "Tendo compreendido que a exibição do seu estilo de vida luxuoso tinha um efeito catastrófico na opinião pública e aprendendo com os maus resultados dos seus candidatos nas eleições locais de 9 e 16 de Março, Nicolas Sarkozy terá decidido manter-se discreto. Mas ser-lhe-á difícil resolver uma contradição fundamental: a sua função impõe-lhe que se preocupe prioritariamente com o interesse geral, mas ele permanece fascinado com o êxito individual que o mundo do espectáculo celebra" (link em português não disponivel).
O que fazia mover Debord era a palavra de ordem "Destrói a máquina de controlo", mas segundo William S.Burroughs "O Teatro Fechou!" (Quick Fix). Na "sociedade disciplinar controlada", segundo Foucault, a disciplina é interiorizada. E esta é exercida fundamentalmente por três meios globais absolutos: o medo, o julgamento e a destruição.
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domingo, abril 20, 2008

Os Zés-Ninguém




















Tradução livre do poema de Eduardo Galeano (Los Nadies)

Sonham as pulgas comprar um cão
e sonham os zés-ninguém deixar de ser pobres
Que algum dia mágico lhes traga a boa sorte,
que chova a cântaros a boa sorte
Porém a boa sorte não choveu ontem,
nem choverá hoje, nem amanhã, nem nunca
Nem a chuvinha cai do céu, nem a boa sorte,
por muito que os zés- ninguém a chamem
Ainda que lhe acenem com a mão esquerda,
ou se levantem com o pé direito,
Ou comecem o ano mudando de escova de dentes
Os zés-ninguém; os filhos de ninguém, os donos de nada
Os zés-ninguém: os nenhuns, os não nomeados,
correndo como lebres, morrendo na vida
Fodidos e refodidos
Aqueles que não são, ainda que sejam
Que não falam idiomas, apenas dialectos
Que não professam religiões, apenas superstições
Que não fazem arte, só artesanato
Que não fazem cultura, só frequentam folclore
Que não são seres humanos, apenas recursos humanos
Que não têm cara, só têm braços
Que não têm nome, apenas um número
Que não figuram na história universal,
só na crónica vermelha da imprensa local
Os zés-ninguém que custam menos que a bala que os mata
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sábado, abril 19, 2008

Les Contes d`Hoffmann, ou os contos do vigário em que andamos embarcados

O compositor e empresário dos Bouffes Parisiens no Teatro Marigny a que chamamos Jacques Offenbach foi um judeu cujo nome verdadeiro é Jacob Eberst (1819- 1880) nascido em Colónia. Jacob para fugir ao estigma de ser judeu, como tantos outros, disfarçou o nome para Jacques sobrevindo-lhe o apelido do facto de ser filho da família de Isaac Judas Eberst da pequena localidade de Offenbach-am-Main.

É esta ligação étnica fundamentalista que determinou que, alheio à “opereta fantástica”, na representação levada a cena no São Carlos se tivessem introduzido, em jeito de martelada declamada, três preâmbulos da autoria da nossa marca cultural nacional por excelência, o judeu Fernando Pessoa:

“Cada um de nós é vários, é muitos, é uma prolixidade de si mesmos. Por isso aquele que despreza o ambiente não é o mesmo que dele se alegra ou padece. Na vasta colónia do nosso ser há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente”

Leit-motiv da ópera, “poeta, presta o teu coração ao amor triunfante”*, mas não te esqueças da pequena alinea do libreto que, de resto não tem qualquer relação subsquente na história relatada: o judeu Elias declarou bancarrotae a grande mole de lesados extremaram as suas posições na sociedade. Hoffmann, enquanto psicologicamente afectado pelo seu alter-ego deambula pelas tabernas na farra com outros beberrões, e assiste com angústia ao desmoronar de tudo em que acreditava e ao desmantelamento dos objectos dos seus afectos que, graças a umas lunetas compradas por uma pechincha a Nicklausse (vendem-se às dúzias”, escurecem e iluminam) lhe permite ver, e ser enganado, pelos três amores (como em Pessoa, criações imaginárias, são afinal apenas uma e a mesma mulher) que se lhe deparam e de esfumam, no desmantelamento da criação mecânica Olympia (a Física, a tecnologia é tudo meu caro, diz o cientista), no desfalecimento de Antónia, e na traição de Giulietta, que depois de receber os diamantes pelos quais se vendeu, desaparece. Do judeu banqueiro do povo, que já deve estar noutra, nunca mais nada se ouviu, mas lá que estamos cercados e sequestrados culturalmente por uma etnia com fundamento religioso, parece não merecer margem para dúvidas. Ficam para o nosso imaginário a mítica Veneza e, presume-se, a Barcarola montada na qual a última gaja deu à sola.

Barcarolle (* oui, l`amour)


“Deus Todo-Poderoso, é sempre a mesma história, todos os apaixonados usam óculos destes na alma” - por fim, a embriagante apologia individualista da filosofia pós moderna, como canta Hoffmann: “com o dinheiro que me roubais estimado abutre, essa adega está recheada a preceito, olarilolelas, olarilolé” ideologia que, a meias com a biopolitica da desgraça, do crime e da doença erigida a programação das televisões, se pretende fazer dominante pela nossa rica saúdinha (o caralho), desmantelando qualquer veleidade social de indole colectiva; Citado de “O Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa:
Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior (...) Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me fallou de viver nunca prestei attenção. Pertenci sempre ao que nunca está onde estou e ao que nunca pude ser”. Ao universo do banqueiro, que é quem patrocina a poesia e paga as contas em beneficio das suas actividades -
“Viver é ser outro. Nem sentir é possivel se hoje se sente como hontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que hontem não é sentir – é lembrar hoje o que se sentiu hontem, ser hoje o cadaver vivo do que hontem foi a vida perdida” – “atendendo a ti, eh! eh! bem comportada, modesta e bela, reembolsarei os quinhentos ducados que me custou a falência do judeu Elias!” (Cena 1 do II Acto)

sexta-feira, abril 18, 2008

óh tempo volta prá frente/ repete-me tudo que eu já vivi

Helena Garrido, no “Jornal de Negócios” (where else?) descobriu que não há crise: “A palavra crise não nos deixa desde o início do século XXI” (é verdade, desde o golpe da tanga do Barroso). “Hoje, ainda sem estarmos em crise, já nos desesperamos com a crise que vem aí, do outro lado do Atlântico”; Claro, a aldrabice consiste, por omissão, em fazer passar a mensagem que a crise dos “subprimes” norte americanos já não alastrou a todo o sistema financeiro mundial. Sé em Espanha prevê-se que fechem 42 mil empresas ligadas ao sector da construção e do imobiliário. Camilo Lourenço resume melhor a situação em que vivemos: “O dr. Oliveira Salazar, do fundo da sua tumba, deve estar a rir às gargalhadas. Quase 40 anos depois da sua morte, o país continua a pensar dentro do quadro mental que nos deixou. Apesar do 25 de Abril. Apesar da União Europeia. Apesar da abertura de fronteiras”

Entre a desilusão de um 25 de Abril que não mais regressará numa manhã de nevoeiro, e um ditador competente, o Zé não hesitou, não hesita, nem hesitará na escolha e no apoio incondicional a um caudilho que cínicamente ostente cara-de-boa-pessoa. Compreenda-se a nossa história recente, dando atenção ao que dela se diz visto lá “de fora”.

Este artigo do New York Times dá-nos uma perspectiva do significado do “voto no Botas para o maior português de sempre” quando dá voz a Idalina da Conceição, uma velhota de 75 anos, que vê o Portugal depois da queda do ditador da cadeira deste modo: “Se o Salazar era mau, a gente que dirige hoje o país consegue ser ainda pior” – naquele tempo (na evolução do fascismo na continuidade,1964-1974) o país conheceu até um boom económico por via da guerra, quando se combatiam “terroristas” (a que os populares, cuja iliteracia à época rondava os 70%, chamavam em tom convivial de “turras”) que lutavam nas colónias pela ideia de independência nacional. Quase todos os que se safaram vieram a ser figuras proeminentes nos novos paises. Encerrado esse capítulo, sempre nos fará espécie porque não foi desmantelada de imediato a desmesurada e insustentável máquina militarista utilizada no combate contra a independência das colónias, antes a tropa saíu reforçada depois do 25 de Novembro de 1975. Parar a guerra seria parar o negócio e isso significaria o desemprego da improdutiva clientela fardada. Rei morto rei posto, se não há inimigo inventa-se - hoje as Forças Armadas, postas às ordens de interesses privados estrangeiros, combatem novamente “terroristas”, desta vez os “turras” internacionais, em guerras da Nato (ou nem tanto) pagas pelo orçamento de Estado, contra militantes pela liberdade anti-imperialista e anti-capitalista por esse mundo fora, onde se luta pela emancipação dos povos. Amanhã, esses que hoje são vítimas da repressão, serão novamente figuras importantes na nova ordem que inexoravelmente ultrapassará esta época de mentiras, manipulações e agressões “democráticas”. Na mesma reportagem do NYT, outro português, Miguel Arriaga, um puto de 17 anos que estuda engenharia, diz que votou duas vezes em Salazar no tal concurso, porque o Portugal de hoje é “despido de valores e propósitos” (apesar de a iliteracia se ter resolvido; hoje 70% já lêem os jornais de Futebol e as legendas das Televisões) – abre bem os olhos Miguel: as intenções e os propósitos estão aí, bem à vista de quem os quiser ver
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A maioria da malta arma-se em chico-espertos e pensam que topam tudo o que lhes passa em frente dos olhos. Não pensem nisso, não é simplesmente verdade. É fácil fazer passar nuvens à frente do pensamento das pessoas, mas trabalhar o nevoeiro para atingir o próprio acto de olhar é ainda mais fácil. Os mágicos fazem isso a toda a hora. E é assim que os realizadores de filmes nos iludem. E os propagandistas também. Este é um teste de percepção. Quantos passes faz a equipa de branco? Quase que apostamos que não verá tudo o que está nesta cena. Conte bem e divirta-se, o filme é curtíssimo:



A arte de desviar as atenções. O número de passes é 13 mas, por acaso viu o urso a passar? – a nossa percepção é sempre limitada. O desafio não é pretendermos ver tudo, é ver e perceber o que é importante. A ferramenta fundamental dos sistemas de propaganda (também conhecidos por meios de informação) é o desvio das atenções impedindo-nos de ver as coisas erradas. Uma das nossas preocupações é procurarmos noticias independentes e contraditórias e compará-las, abandonando a tentação de consumir a propaganda oficial (também conhecida como comunicados oficiais dos governos). Só assim se compreenderá que os comentadores desse tipo de relatórios e “notícias” trabalham efectivamente para nos distrair e desviar a atenção daquilo que é importante. O vídeo é uma demonstração humorística de como se processa esse tipo de trabalho na prática. Aqueles que na verdade determinam os acontecimentos importantes nunca aparecem com um papel relevante em cena, embora uma observação cuidada os possa distinguir na obscuridade
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terça-feira, abril 15, 2008

Memorial às Vítimas da Intolerância (II)

Primo Levi

O enquadramento histórico moderno

Pouco antes de estalar a guerra, Hitler encomendou uma análise da população portuguesa a um casal de antropólogos, Georg e Vera Leisner, que, “vindos da Europa” visitaram o país, fizeram o trabalho de campo e concluiram que metade dos portugueses eram semitas, e grande parte da outra metade bastante mesclada. Conforme vem mencionado nos "Diários de Goebbels", a partir de então o Fuhrer começou a referir-se a Salazar como “esse judeuzinho”; paranóias àparte, na verdade o “nosso semitismo” é em grande maioria de origem árabe, como aliás o são também indiferenciadamente muitos judeus. Por exemplo, o ex-presidente Jorge Sampaio é oriundo de uma familia semita que se refugiou na costa do norte de África fugindo do decreto “Malleus Maleficarum”, um autêntico manual de caça às bruxas, cujos éditos ordenados pela facção católica da Igreja de Roma correram a partir do ano de 1486. Fugiram, educaram-se esmeradamente nos Estados Unidos e voltaram e a ICAR também ainda por cá anda. Não há “raças puras” embora por motivos religiosos se abstinem em auto segregar-se num grupo específico. Como, negócios oblige, nos antigos guetos medievais. Apesar disso, ou por causa disso, uma pequena minoria étnica de fundamentalistas judeus continua a reclamar-se de vítimas em exclusividade de toda a omnipotente violência universal e a reclamar o enviesado direito de erigir monumentos no espaço público que perpetuem mistificações. Esta política é tão velha quanto o falso massacre dos varões no Egipto 1850 anos antes de Cristo - o Faraó ordenou que matassem todos os bebés do sexo masculino, mas o próprio Livro desmente o mito: “embora fosse uma ordem dada a partir de cima, as parteiras, movidas pelo temor do Senhor, preferiram sofrer qualquer castigo a cometer aquele crime” (Êxodo 1.15-22). Porém o mundo ficou em dívida, agravada depois do fim da 2ª grande guerra quando Israel adquiriu o direito de possuir armamento nuclear e subsidios financeiros milionários canalizados através da principal potência vencedora. Do mesmo modo, 300 judeus portugueses mortos durante a guerra, extraditados (?) sem que ninguém conheça os pormenores do evento, engrossam a mística “lista dos 6 milhões de vítimas gaseadas do holocausto”

Antes de uma próxima voltinha pela toponomia da cidade de Lisboa que ajude a desmistificar o “parlapito” em memória de 1506 a erigir ao pé da Ginginha no Largo de São Domingos, revisitemos antes a Alemanha derrotada através dos olhos de Rainer Werner Fassbinder na cidade de Franckfurt, (o gueto original dos Rothschilds) a tradição não nasce por acaso, herda-se com orgulho – para que se entenda o quê (e quem) moveu, até agora, o nosso modelo de desenvolvimento.

o Lixo, a Cidade e a Morte” (Der Müll, die Stadt und der Tod” – 1975)

“Por estranho o que pareça, nem o assassínio de Roma pelo Judeu Rico, nem a Pietá de FranzB ao colo de um travesti Nazi, são cenas blasfemas ou escarnecedoras da visão cristã do mundo, mesmo que tenham uma remota inspiração no cristianismo. Fassbinder evitou qualquer baixa polémica, preferindo criar uma poesia macabra, surrealista e embebida em sangue, reminiscente da cena da ceia em Viridiana, de Luis Buñuel.
O Judeu Rico também ainda não encontrou qualquer alegria na sua existência. Apesar de toda a sua riqueza, começa a perceber que deve haver algo mais, para lá dos valores de que dispõe e aos quais está sujeito. Deixa o mundo dos negócios e desaparece na vida nocturna da cidade, onde conhece o nazi Müller, cujo travestismo exemplifica que nem o nazi consegue viver com os seus próprios valores. As sua roupas femininas conferem aos seus slogans um efeito algo invulgar, quando afirma: “Ser um assassino de judeus não é um fardo, para quem tem as minhas crenças (...) não estamos a morrer e todas as mazelas que nos são infligidas tornam-nos mais fortes e mais livres. O fascismo triunfará”. É tão triste! “aquele que ama perde os seus direitos”, mas como o chefe da Polícia é amigo do Judeu Rico, afirma fleumaticamente: “Porque é que alguém responde quando nenhuma pergunta foi feita? a vontade de um homem é o seu paraíso”.

A peça de Rainer Werner Fassbinder foi estreada em Frankfurt no Teatro Turm em 1975 e foi de imediato boicotada. O historiador Sionista Joachim Fest criticou-a como sendo oriunda da “esquerda fascista”; a editora recolheu o livro para fazer alterações que evitassem a acusação de anti-semitismo. A representação da peça foi finalmente impedida por uma dramática ocupação do palco pela comunidade judaica. O presidente da Câmara Municipal viria finalmente a proibir a sua exibição. Num comentário à controvérsia Fassbinder escreveu: “o Judeu negoceia em Imobiliário, contribui para transformar a cidade em prejuizo dos seus habitantes. Ele apenas negoceia. Não criou nem é responsável pelas condições que permitem a execução desses negócios. Ele aproveita essas condições. O sítio onde estas condições podem ser denunciadas chama-se Frankfurt-am-Main”, não por acaso a séde do Banco Central Europeu, a cidade berço da Familia Rothchild. Citando Hans von Glück, um personagem da peça: “Ele leva-nos tudo, o Judeu. Bebe o nosso sangue e deixa-nos ficar mal, porque é judeu e nós carregamos a culpa... Mas o judeu é que é culpado, porque nos faz sentir culpados com a sua presença. Se tivessem ficado na sua terra, ou se os tivessem gaseado de verdade, eu poderia dormir melhor”
Seria impossivel retratar adequadamente em palco o nacional-socialismo, se fosse interdito mostrar os nazis a fazerem comentários anti-semitas. Acusar Fassbinder de ter uma visão preconceituosa da personagem do Judeu Rico é ainda mais absurdo, porque ele revela que a identidade de todas as personagens – incluindo o judeu – está oculta por detrás dos preconceitos que os outros têm sobre elas e por detrás dos clichés em que as personagens acreditam em si próprias. O judeu é um cliché, tal como toda a gente na peça, enfrenta problemas insuperáveis, ao tentar fugir ao seu papel para criar uma existência individual”

Os judeus na Alemanha estão acima de qualquer crítica. Em 1975 o próprio SPD atribuiu a corrupção e o trabalho sujo realizado no urbanismo aos especuladores judeus. O lider da comunidade judaica de Frankfurt, e depois de toda a Alemanha, o especulador imobiliário Ignatz Bubis é o modelo para o personagem “Abraão” noutra obra de Fassbinder, “A Terra é tão Inabitável como a Lua” (1973): no pós-guerra, quando voltam a ver o seu país natal, a mãe diz amargamente ao filho: “Não teremos consideração nem medo de ninguém. Vais ganhar dinheiro nesta terra Abraham. É a terra do assassino do teu pai. Não perdoarás ninguém, não terás pena de ninguém e extorquirás o último marco a toda a gente com quem negociares. Prometes-me isso Abraham?”. Não é isso que Abraham deseja fazer, mas está habituado a obedecer à mãe e é o que faz neste caso.

* Rainer Werner Fassbinder morreu (ou auto-destruiu-se) aos 37 anos em circunstâncias invulgares. Esta última parte do texto foi condensada a partir do livro de Christian Braad Thomsen publicado pela Cinemateca Portuguesa por altura da exibição do ciclo completo de obras do realizador em Fevereiro de 2008
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segunda-feira, abril 14, 2008

uma democracia de Inúteis

Quando Pedro Mexia, o nóvel herdeiro do catolicismo de barba rala na Cinemateca, fez recentemente a recensão de “Os Homens do Terror”, um breve ensaio publicado na “Der Spiegel” em 2005, da autoria do islamofóbico Hans Magnus Enzensberger (1), intitulando-a de “os vanguardistas da morte” começou do seguinte modo: “o autor sustenta que o terrorismo islâmico (ou de Bush?) nasce da decadência intelectual dos paises árabes, que vêem o progresso do Ocidente como uma afronta intolerável” (a contra-corrente, numa época em que a maioria vê na civilização ocidental (2) francos sinais de decadência), prosseguindo:
“Num filme de Nanni Moretti, um amigo pergunta-lhe: “Sabes o que diz Magnus Enzensberger?” Moretti nem tem tempo para responder, porque o amigo declara: “Estou de acordo com ele”. De facto, o ensaista e poeta alemão corresponde ao modelo antigo de escritor que exprime ideias sobre os acontecimentos do seu tempo que influencia as ideias dos outros. O tema é óbvio mas ambicioso: a violência tecnológica de massas, com a qual vivemos. “Os Homens do Terror – Ensaio Sobre o Perdedor Radical” tenta compreender o clima cultural em que vivemos desde o ataque em 11 de Setembro”
O crítico prossegue por mais duas colunas dissecando a gasta cartilha neocon “os anónimos suicidas matam indiscriminadamente sem que a corja faça exigências concretas”; mas Pedro Mexia não mais volta a mencionar o nome de Nanni Moretti que lhe serviu de pretexto para vender uma certa ideia de esquerda – e incorporá-la na prosa conservadora para que desapareça de cena, eis a táctica dos actuais ideólogos do sistema.

O Regresso do Caimão

Na anterior campanha eleitoral em Itália, Moretti realizou “o Caimão” como aviso para os perigos da eleição de Berlusconi. Os italianos entenderam a corrupção na forma de farronca desbragada e elegeram um coligação impossivel. Mais do mesmo, a esposa de um pequeno partido que apoiou o governo de Prodi envolve-se num esquema de corrupção com a máfia do lixo, o marido demite-se e a coligação cai. Na verdade existirá alternativa numa Europa onde o recém empossado governo de Zapatero presta fidelidade à Constituição jurando com a mão assente sobre a Bíblia de olhos postos numa Cruz e no alto representante da Oligarquia?
Em Itália autopromove-se uma figura da famiglia Veltroni, cujo apelido se passeou pela autarquia de Roma com umas incursões literárias no romance popular (3) e pela administração dos telejornais da RAI. Diz-se dele: “muito bom a apresentar-se, a vender-se; é o candidato mais berlusconizado”. Na verdade estamos em condições de indicar o vencedor, antes do fecho das urnas, mesmo ainda que se não votasse – venceu Veltrusconi. Como na historieta do Mexia, a oposição incorpora-se no lamaçal mediático único e desaparece do mapa.

Il Vitelloni”, os Inúteis (4)

Nem aqui, nem lá, seja onde for, quase não os vejo nem os ouço. Há uns fugazes contactos no rádio do carro, Cecília Bartoli: “Berlusconi e Veltroni dizem ambos o mesmo, são as faces visiveis das duas tribos que monopolizaram com leis feitas por medida os assentos em “la Porcata” (o parlamento). Um fogacho na televisão no lapso da bica: o Jardim da Madeira chafurda no mesmo tema mas por outras cascas de abóbora. Nada é o que aparenta, a realidade tem mil representações, as imagens que podemos reflectir são pézinhos de coentrada fast-food, fragmentos de outras anatomias ou, como nas telas de Julião Sarmento, tudo o que se disser, metade Coelho metade Vara, são apenas reflexos das manchas de sujidade do ambiente.

(1) Mexia descarta a formação inicial marxista do autor, passa por cima da famosa declaração de 1979: "the Germany Federal Republic after all is a protectorate of the United States even if it is not considered good taste to discuss this subject publicly"; Foi a primeira vez que um alemão reconheceu que os Judeus tinham ganho a guerra!. Mas Mexia pega na única parte dissidente que lhe interessa: a "guerra ao terrorismo", ou seja, a adesão ao bushismo.
(2) Citando de "Europa, Europa": "in Portugal, he contemplates the stolid natives passive sabotage that undermines capitalist efficiency", portanto a coisa já dura há 30 anos.
(3) “Senza Patricio” é um romance sobre “Papás que amam os Filhos”. Walter Veltroni e Vittório Veltroni são ambos produtos hibrídos da mitologia cultural do evaporado “euro-comunismo” trade mark registered berlinguer-kennedyana.
(4) “Il Vitelloni” é um filme de Federico Fellini. Por ironia passa hoje na Cinemateca. A memorável despedida de um grupo de garotos que só no final da festa percebem que são personagens que estão completamente perdidas.
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domingo, abril 13, 2008

a crise, o SLB, a nação e o,,,

,,, Problema

Menina à hora da novena
com os olhos aguados de religião
e as mãos escorrendo pecado;
rapaz ocioso
à esquina de uma rua qualquer;
sábio de borla e capelo
coleccionando selos usados;
poeta aflito
por uma rosa que se desfolhou;
velhinho suspirando
a ouvir o fado num café;
viuvinha de crepes e de véus
vermelha por dentro de desejos;
raquítico a levantar meio quilo
com um só braço
e a agradecer os aplausos;
e mais eu, que sou pintor sem talento,
para fazer um quadro de vós todos:
em que dia nos vamos suicidar?

"Problema" poema de Manuel da Fonseca (1911-1993)
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